Falar de África, João, obriga-me a vasculhar o pacote de 16 anos que a experiência me ofereceu. No desembrulho, peças animadas por tramas coloridas como as fotos que nos mostras, lágrimas que do ponto mais alto da montanha que subiste escorreram, cumplicidades de amigos como esse chão que pisas e que exala o que de mais puro a terra molhada oferece, continuam misturadas num misto amargo doce que se aprende a gerir.
Este desafio que lanças é mais uma página que repete o cheiro a pitanga, a cor de amendoim ou a laranja-cor-do-céu, com a particularidade de ser escrita à medida dos meus sentidos, dos quais não posso dissociar a força da minha juventude musculada que aí vivi, na memória do que África ensinava, sem saber eu que a noite e o dia eram para se beberem até à última gota. É mais uma página onde, por todos os motivos, África foi Mãe no sentido mais lato que a vida nos ensina. Terra onde ainda se nasce debaixo do imbondeiro, terra onde ainda se morre da forma mais incrédula que o mundo assiste de camarote.
Hoje não vivo sob nostalgia nenhuma. Sair de África foi uma prova de sobrevivência da qual poucas saudades me restam e a memória teima em apagar registos mais difíceis. Contudo, abstraindo-me do que corrói uma historia cor de rosa ou laranja, África, eu sei, sim, porque tu nos mostraste e mostras, continua a ser as cores que não diluíram, os cheiros que não dissiparam, que a terra continua vasta e o Africano.... sempre Africano.
Um abraço
xiu
Nota do Editor: texto e quadro são do mesmo autor. Xiu para ele!
1 comentário:
Gosto imenso do quadro, Xiu. Tem graça... com alguns verdes, é assim mesmo que eu vejo África: uma paleta cheia de cores.
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