Os meus leitores que se habituaram, com uma regularidade viciante, aos meus posts bem matinais, que me desculpem pela hora comparativamente tardia a que sai o de hoje.
O dia amanheceu nublado, como mais nuvens no céu do que aquelas que encontrei, cumulativamente, até agora. Mas, queridos Amigos, acordei com este pensamento que me parece peregrino, inovador, rasgado de criatividade. Não interessa a beleza exterior do nosso próximo: o nariz afilado, uns lábios carnudos e sedentos, umas pernas sem fim, um cabelo sedoso, uns olhos quentes e carentes, uma testa equilibrada, uns dedos que adivinham carícias repousantes e viagens perigosas. Tudo isso é efémero, alterável nas mãos experimentadas dos cirurgiões plásticos. No fundo no fundo (duplico o conceito para o reforçar) o que interessa é a beleza interior, aquilo que não vemos mas adivinhamos, e que nos permite olhar para uma aberração da estética com o mesmo desvelo e, quiçá, sensualidade, com que olhamos para uma deusa grega.
O raciocínio acima que, estarão de acordo e me farão essa justiça, é fruto de um momento único de inspiração e elevação, pode aplicar-se ao ramo da meteorologia. O que interessam umas nuvens baixas e ameaçadoras no céu que nos cobre? Qual a importância de um ventinho agreste, desagradável, ligeiramente fresco que sopra? Qual a relevância de uma coluna de mercúrio que quase desaparece na escala do termómetro e que faz antever um almoço condenado ao interior de uma vivenda? Verdadeiramente significativa é a meteorologia do nosso interior – não a do baço, apêndice ou outras minudências – mas a do coração. E aí, jovens europeus continentais, o clima está radioso, com o barómetro numa explosão de alegria, as frentes frias enroscando-se com as correntes do golfo.
A que se deve tanta alegria? perguntar-me-ão solícitos, curiosos, talvez mesmo preocupados com a minha potencial sanidade mental, duvidosos da capacidade psiquiátrica da medicina zimbabueana caso sejam necessários sedativos, camisas de força, regressões, hipnotismos. Eu digo, sem qualquer estratégia de secretismo: o karaoke, de novo. Isso! Sentem-se, relaxem, recostem-se, abrandem. O karaoke – mas no Pointe, com tudo o que circula em redor: música africana, um microfone, meneios sensuais de anca, olhares lânguidos habituados à vastidão logo que nascem, corpos esbeltos de uma beleza negra, a proximidade provocadora de quem acha que não existe pecado abaixo do equador, a alteração dos comportamentos com a proximidade da lua cheia e do calor, a sensação de que o relógio fica em casa porque é um artefacto inibidor da liberdade, a noite que se nos oferece até que o sol volte a nascer, a promessa de um beijo mesmo que não haja quatro paredes caiadas, bocas entreabertas na voragem de um desejo.
O Pointe está mais caro, com qualidade gastronómica igual. Adquiriu mesas e cadeiras novas, mantendo o artefacto que frita insectos esvoaçantes, o friso de lâmpadas verde rubras, o semáforo que revela a lotação esgotada do WC, a variedade de quadros sem cota nem esquadria. Cantei em dueto o It’s Only a Paper Moon, e o Sweet Caroline, mas isso não foi o mais importante. Verdadeiramente relevante é o idílio meteorológico que dento de mim (e coabitando com a Doris Day) o higrómetro e o anemómetro vivem em conjunto, numa valsa perfeitamente coordenada (ou será um tango?).
O que importa é a beleza interior. O que interessa é o clima que nos afaga as entranhas.
O dia amanheceu nublado, como mais nuvens no céu do que aquelas que encontrei, cumulativamente, até agora. Mas, queridos Amigos, acordei com este pensamento que me parece peregrino, inovador, rasgado de criatividade. Não interessa a beleza exterior do nosso próximo: o nariz afilado, uns lábios carnudos e sedentos, umas pernas sem fim, um cabelo sedoso, uns olhos quentes e carentes, uma testa equilibrada, uns dedos que adivinham carícias repousantes e viagens perigosas. Tudo isso é efémero, alterável nas mãos experimentadas dos cirurgiões plásticos. No fundo no fundo (duplico o conceito para o reforçar) o que interessa é a beleza interior, aquilo que não vemos mas adivinhamos, e que nos permite olhar para uma aberração da estética com o mesmo desvelo e, quiçá, sensualidade, com que olhamos para uma deusa grega.
O raciocínio acima que, estarão de acordo e me farão essa justiça, é fruto de um momento único de inspiração e elevação, pode aplicar-se ao ramo da meteorologia. O que interessam umas nuvens baixas e ameaçadoras no céu que nos cobre? Qual a importância de um ventinho agreste, desagradável, ligeiramente fresco que sopra? Qual a relevância de uma coluna de mercúrio que quase desaparece na escala do termómetro e que faz antever um almoço condenado ao interior de uma vivenda? Verdadeiramente significativa é a meteorologia do nosso interior – não a do baço, apêndice ou outras minudências – mas a do coração. E aí, jovens europeus continentais, o clima está radioso, com o barómetro numa explosão de alegria, as frentes frias enroscando-se com as correntes do golfo.
A que se deve tanta alegria? perguntar-me-ão solícitos, curiosos, talvez mesmo preocupados com a minha potencial sanidade mental, duvidosos da capacidade psiquiátrica da medicina zimbabueana caso sejam necessários sedativos, camisas de força, regressões, hipnotismos. Eu digo, sem qualquer estratégia de secretismo: o karaoke, de novo. Isso! Sentem-se, relaxem, recostem-se, abrandem. O karaoke – mas no Pointe, com tudo o que circula em redor: música africana, um microfone, meneios sensuais de anca, olhares lânguidos habituados à vastidão logo que nascem, corpos esbeltos de uma beleza negra, a proximidade provocadora de quem acha que não existe pecado abaixo do equador, a alteração dos comportamentos com a proximidade da lua cheia e do calor, a sensação de que o relógio fica em casa porque é um artefacto inibidor da liberdade, a noite que se nos oferece até que o sol volte a nascer, a promessa de um beijo mesmo que não haja quatro paredes caiadas, bocas entreabertas na voragem de um desejo.
O Pointe está mais caro, com qualidade gastronómica igual. Adquiriu mesas e cadeiras novas, mantendo o artefacto que frita insectos esvoaçantes, o friso de lâmpadas verde rubras, o semáforo que revela a lotação esgotada do WC, a variedade de quadros sem cota nem esquadria. Cantei em dueto o It’s Only a Paper Moon, e o Sweet Caroline, mas isso não foi o mais importante. Verdadeiramente relevante é o idílio meteorológico que dento de mim (e coabitando com a Doris Day) o higrómetro e o anemómetro vivem em conjunto, numa valsa perfeitamente coordenada (ou será um tango?).
O que importa é a beleza interior. O que interessa é o clima que nos afaga as entranhas.
Tenho que ficar por aqui - e peço desculpa se o post parece estranhamente redigido, desagarrado nos parágrafos.
Fiquem bem, queridos Amigos, que aguardam o meu regresso com sentimentos díspares.
Fiquem bem, queridos Amigos, que aguardam o meu regresso com sentimentos díspares.
3 comentários:
Bendito Karaoke!
Mas temo que ganhe primazia sobre a escrita em termos terapêuticos - fico apavorada com a substituição. Se apenas se tratar de uma convivência pacífica então brindo a esta nova e poderosa catarse.
Beijinhos e saudades
O karaoke... ehehehe... nao gostava de ficar aí a viver?
Desgarrado? Estranho? Ora essa, a mim parece-me claríssimo!!
Venham mais luas cheias no céu de África, mais karaokes, mais rainhas africanas... seja lá o que for que o deixe nesse estado tem a minha simpatia.
Beijo!
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