08 outubro 2014

Diário de uma astróloga – [88] – 8 de Outubro de 2014

Relacionamentos a dois – uma cábula astrológica

Esta cábula destina-se a todos que querem luz nos seus relacionamentos, que querem viver a vida a dois com mais satisfação sabendo que, sem relacionamentos, o caminho para o auto-conhecimento fica incompleto.


As questões relacionais ocupam grande parte das consultas astrológicas e, como neste momento o Sol e Vénus estão em Balança, chegou a altura de enfrentar o tema. Sendo Vénus o planeta mais associado a atracção e relacionamentos, e Balança o signo das relações a dois e do casamento, temos agora uma overdose do arquétipo relacional.


Muitas pessoas, quando ouvem falar do planeta Vénus, confundem-no com a Vénus mitológica, a versão romana de Afrodite, a deusa do amor. Não vou falar de amor, porque amor é demasiado sublime para ser analisado astrologicamente. Ainda por cima, existem vários tipos de amor: o amor à pátria ou o amor incondicional de uma mãe pelo seu filho, que são diferentes do amor-paixão que inspirou Camões quando escreve “Amor é fogo que arde sem se ver…”

O que preocupa a maioria das pessoas é o funcionamento da sua principal relação – marido, companheiro, namorado, amante. É assunto de casa 7, o terceiro componente do arquétipo relacional, por representar a área de vida dos relacionamentos a dois e do casamento. Mas é também a casa espelho, regida por Vénus, cujo símbolo parece um espelho. É a casa do “outro” por estar oposta à casa 1 e ao Ascendente que simbolizam a personalidade que mostramos, a nossa janela aberta para o mundo.

O homem não conhece a sua imagem até se ver reflectido num espelho, e esta simples verdade não se aplica apenas à realidade física, mas também à  realidade psíquica. Liz Greene, astróloga e analista Jungiana.

O que procuramos nos outros (casa 7) contribui para mais tarde encontrarmos essas qualidades em nós próprios e nos tornarmos mais inteiros. O grande problema é que o que procuramos nos outros, portanto muito do que se passa num relacionamento, vem do material inconsciente. Em linguagem psicológica chama-se projecção - o mecanismo inconsciente pelo qual atribuímos ao outro qualidades e defeitos que não possuímos ou não queremos aceitar em nós próprios. 

A coisa não se fica por aqui! Jung disse: “Todas as projecções provocam uma contra-projecção quando o destinatário está inconsciente da qualidade projectada sobre ele pelo projector”.  Na vida real, manifesta-se normalmente numa discussão violenta, onde todos os 6 personagens (contando com as projecções e contra-projecções) gritam e ninguém tem razão.



Tenho experiência pessoal do assunto. Em pleno desmoronar do meu primeiro casamento li um pequeno poema de Jacques Prévert  “Os amantes traídos” com o qual me identifiquei:

Moi j’avais une lampe                  Eu tinha uma lamparina
et toi la lumière                                                     e tu a luz
Qui a vendu la mèche ? »               Quem vendeu o pavio ?

Partindo do princípio de que há amor, como é que astrologia pode ajudar num relacionamento?

Fazer uma sinastria entre Sol, Lua e Ascendente do casal – A sinastria é a  técnica habitual para analisar o relacionamento entre duas pessoas que produz um nível de compatibilidade baseado em factores de personalidade, e indica onde é mais provável que haja entendimentos e desentendimentos. Se num casal há alguma compatibilidade entre elementos destes pontos, temos uma plataforma de entendimento.

Paul Newman e Joanne Woodward estiveram casados 50 anos – só a morte os separou. No mundo do espectáculo um perfeito recorde. Ambos tinham o mesmo ascendente com os regentes em sextil, Paul Newman tinha o Sol em Aquário, a Lua em Peixe e Joanne Woodward o Sol em Peixe e a Lua em Aquário. Compatibilidade como esta é raro. Mais comum é, por exemplo, o ascendente de A ser do mesmo signo da Lua de B e/ou os sois de ambos serem de signos do mesmo elemento. 

Estudar a sinastria entre Vénus e Marte – explica a atracção inicial e questões relativas a sexo, um componente importante de qualquer relação amorosa.  

Mas mais importante do que as sinastrias é analisar a casa 7 de cada um, os planetas que aí habitam e o signo e regente do descendente. É na descoberta das nossas projecções, do nosso material inconsciente, do que julgamos ser possível subcontratar ao outro em vez de assumir essa característica em nós próprios, que reside a resposta a Jacques Prévert. Foi o inconsciente deixado inexplorado que vendeu o pavio.

É claro que carregamos mais complexos e “material-sombra” para além da casa 7  que vão afectar a nossa vida em geral, incluindo os aspectos relacionais. Por isso chamei a este post uma cábula e não um guia. E é astrológica porque muitos outros métodos de auto-conhecimento são úteis em questões relacionais, mas só a astrologia dá uma visão imediata das zonas psíquicas onde se vendem pavios.

Luiza Azancot

1 comentário:

Acc disse...

A questão está nas projecções e no que entendemos que o outro nos deve dar.
Talvez ninguem venda o pavio, este apaga-se e já lá não está alguém para o acender (ou nunca esteve porque eram apenas projecções e alogramas)
Gostei.

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