Arcos de Valdevez, Setembro de 2014 |
Moments of Vision
That mirror
Which makes of men a transparency,
Who holds that mirror
And bids us such a breast-bare spectacle see
Of you and me?
That mirror
Whose magic penetrates like a dart,
Who lifts that mirror
And throws our mind back on us, and our heart,
until we start?
That mirror
Works well in these night hours of ache;
Why in that mirror
Are tincts we never see ourselves once take
When the world is awake?
That mirror
Can test each mortal when unaware;
Yea, that strange mirror
May catch his last thoughts, whole life foul
or fair,
Glassing it -- where?
(Thomas Hardy)
***
Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio
de criança.
Agora, vemos como num
espelho de maneira confusa;
depois veremos face a face.
depois veremos face a face.
Agora, conheço de modo
imperfeito
depois conhecerei como
sou conhecido.
(1 Cor 13,
11-12)
***
Entre o espelho de S. Paulo e o de Thomas Hardy há dezanove séculos de
ciência e de aperfeiçoamento do equipamento, se nos ativermos apenas à sua
materialidade. No séc. I a nitidez seria reduzida, dezanove séculos depois a
nitidez seria assinalável. E no entanto, não é de artigos domésticos que falam
o santo e o poeta.
É curioso pensarmos no que são estes espelhos. Em S. Paulo, o espelho
reflecte uma imagem confusa do que somos; em Thomas Hardy, a mesma expressão espelho é uma ferramenta que permite que
nos desnudemos, nos tornemos transparentes. O que é o espelho do poeta inglês
e, mistério dos mistérios, para onde espelha ele a visão que temos de uma vida,
falhada ou justa? Já não falo do enigma que é saber quem segura o espelho.
A transparência
é o resultado de um jogo de espelhos, retenho eu num caderno onde escrevo tudo o que oiço
e que fica na memória, consiga eu entendê-lo ou não. E fixo também Pessanha,
que diria: Imagens que passais pela retina / Dos
meus olhos, porque não vos fixais?
Se eu ganhasse um euro por cada pensamento
incompreendido – ou que não consigo desenvolver - teria já a atenção dedicada da
máquina fiscal...
JdB
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