Ontem foi dia internacional da criança com cancro. Para assinalar a efeméride, a Acreditar lançou simbolicamente a primeira pedra da sua casa no Porto. Estará pronta no final de 2016, está orçamentada em cerca de 1,5 milhões de euros e tentaremos que o seu custo seja totalmente suportado por mecenato e um ou outro fundo comunitário aplicável. A casa de Lisboa foi assim (mecenato + fundos) a casa de Coimbra foi paga na totalidade por particulares e empresas.
Repito aqui, sem ser ipsis verbis, algumas das ideias que partilhei ontem, no final da cerimónia.
Na semana que passou, ao pensar no que iria dizer no Porto, veio-me imediatamente à ideia a parábola do semeador que lança sementes à terra. Umas são comidas pelas aves, outras caem em chão pedregoso e ressecam, outras caiem em boa terra e dão fruto. Semear é um acto de confiança no futuro. Quem semeia acredita. Talvez por isso nos chamemos Acreditar desde o início. Por outro lado, o simbolismo da primeira pedra tem também uma dimensão de sonho, a acrescer à dimensão da confiança. Daquela primeira pedra, como da semente que se lança à terra, nasce um projecto que foi sonhado. Nasce uma árvore, nasce uma planta - ou nasce uma casa.
No final do ano que vem, 16 famílias entrarão naquela casa à qual chamarão sua. Virão de todo o norte do País, impelidos pelo sonho e pela esperança (acreditando, no fundo) de que o filho pequeno - às vezes com meses - a quem foi diagnosticado um cancro se cure. Depois destas 16 famílias entrarão outras 16 e depois outras 16 e ainda mais 16 e 16 outras. Falarão a mesma linguagem, perceberão melhor do que ninguém o que faz sorrir ou chorar cada um dos Pais que partilha uma sala, um fogão de cozinha, uma certeza. O destino de cada uma das crianças que por ali se quedar uma semana ou um mês ou um ano é o destino de todas as crianças: alegramo-nos com as que voltam para o recreio da escola, lembramos as que se transformam em anjo, em estrela, em saudade.
Lançar uma semente, lançar uma primeira pedra é olhar para o destino e agarrá-lo com a força dos que acreditam. É ter a certeza ou a fé ou a convicção. É relembrar o sentido das coisas na senhora de quem me despedi - e que não conhecia - que me disse mais ou menos isto: perdi o meu filho único há mais de 30 anos. Dói todos os dias.
JdB
1 comentário:
Parabens, muitas das sementes foram lancadas por ti.
Enviar um comentário