Praga, Maio de 2019 |
5ª feira de manhã: médicos, sobreviventes de cancro pediátrico, Pais, discutem fertilidade: o que deve dizer-se, quando deve dizer-se e a quem. Não é uma informação de passagem, meramente logística. Para alguns doentes - 13, 14, 15 anos - é um projecto de vida que pode estar em risco. Não falamos de sobrevivência apenas, mas da possibilidade de, sobrevivendo-se, ser-se pai, mãe, criar-se uma família, um projecto. Num certo sentido, falar-se com um pai ou com um adolescente sobre isto é, também, dar a cura como (quase) garantida. Não se fala de fertilidade a quem tem uma prognóstico muito reservado, com probabilidade muito reduzida de sobrevivência.
5ª feira de tarde: o CEO de uma empresa sueca fala de avatares, e põe em cima da mesa um "dispositivo" que, visto de longe, pouco diferente é de uma máquina de moer café. Ligam a máquina e estabelece-se um diálogo com a máquina, que responde a perguntas. O objectivo? Depois de milhões investidos em investigação, criar uma tecnologia que faça companhia a crianças doentes e muito isoladas, ou a crianças que, em casa usam a interface para estarem "presentes" numa sala de aula.
Praga, Maio de 2019 |
Duas sessões muito técnicas, muito voltadas para o futuro. Fala-se em avatares, em crio-preservação, em custos de tecnologia, em conservação de tecidos. Depois, entre estas duas sessões, o regresso a um certo passado: Rússia, Ucrânia, Geórgia e Roménia falam das suas realidades: as dificuldades, as faltas de dinheiro para o básico - nomeadamente para ter um professor num hospital. Quando dei por mim recuava dez anos, para uma altura em que as apresentações destes congressos eram, sobretudo, as dificuldades de implementação.
Algo dentro de mim se comoveu: não com este choque entre o futuro quase risonho e um presente muito lutado, mas por perceber que somos várias europas, que o fosso que separa umas e outros é ainda grande, o que torna a nossa missão mais desafiante. Somos, Childhood Cancer International (divisão europeia), uma realidade dupla: estamos na cabeça do pelotão em termos de defesa dos interesses de doentes, de trabalho conjunto entre oncologistas pediátricos e organizações de pais / sobreviventes; mas também nos constituímos como o carro vassoura que, na cauda do pelotão, ampara, incentiva e não deixa que ninguém fique para trás ou desista.
Nenhuma criança devia morrer de cancro - um lema que usamos muito. Será um sonho? Como diria o poeta da Arrábida, pelo sonho é que vamos.
JdB
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