No pântano
«Sentava-se à beira-mar, como uma figura anciã e patética que grita qualquer coisa a uma flotilha de jovens que deslizavam no fatal pântano do mundo: os recursos que diminuem, as liberdades que desaparecem, os anúncios publicitários sem escrúpulos que se adaptam a uma insensata cultura popular feita de música e cerveja, e de jovens mulheres de magreza e forma física impossíveis.»
A impressão desencorajada de um educador ancião que tenta, em vão, comunicar alguns valores aos jovens, que, em vez disso, são atraídos pela música, cerveja e namoradas, todos nós, adultos, pais, professores ou sacerdotes, a experimentamos de alguma maneira.
Representa-a com amargura um dos mais conhecidos escritores americanos contemporâneos, John Updike, falecido em 2009, no seu romance de título emblemático “O terrorista”.
A tentação de sentir-se totalmente inútil e até ridículo, é sustentada por outra consideração pessimista do escritor sobre a história, vista como «uma máquina que tritura perpetuamente a humanidade, dela fazendo pó».
É verdade que muitas vezes para o qual os jovens deslizam, feito de álcool, droga, sexo, vazio ensurdecedor, é uma realidade que aperta o coração e faz extinguir dos lábios as palavras de advertência e sensatez.
No entanto, não se deve ceder à resignação por duas razões. A primeira liga-se ao facto de que, como dizia Pascal, «o homem supera infinitamente o homem», e pode, portanto, ter sempre em si uma centelha de salvação, uma semente de redenção, uma secreta capacidade de não sucumbir.
O outro motivo de esperança está também na multidão de jovens que se dedica ao voluntariado, que tem em si uma forte carga de paixão, de criatividade e de vida: são muitas vezes eles que infundem confiança e esperança a nós, adultos e anciãos.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado pelo SNPC em 22.05.2019
As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
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