05 março 2020

Duas Últimas

Desenganem-se os que pressentem no dono e editor do estabelecimento uma centelha de deboche. Sim, confesso que para a maioria das pessoas nascidas até um certa altura esta música tem muito que se lhe diga: era considerada obscena, demasiadamente gráfica (do ponto de vista sonoro...) e, por isso foi proibida na telefonia. Expurgada (ou talvez não) a dimensão erótica da música, era um grande slow, interpretado (também) por uma das mulheres mais bonitas daquele tempo - Jane Birkin. O único facto curioso (não me ocorre outra palavra...) era o título da música, que não fazia sentido: je t'aime... moi non plus.

Acontece que um destes dias vi uma entrevista que Jane Birkin deu a Christiane Amanpour, jornalista da CNN, no final de Fevereiro deste ano. Obviamente que um dos temas tocados foi a sua relação com Serge Gainsbourg, 20 anos mais velho e com quem teve uma filha, mas também a história da gravação de Je t'aime... moi non plus. E a jornalista passou um pequeno clip em que o cantor francês explica o verdadeiro sentido do título. Diz ele (e transcrevo livremente) "que a frase importante da música é L'amour physique est sans issue (que as legendas inglesas traduzem por o amor físico é um beco sem saída) uma frase que eu considero muito moral." E continua: "Je t'aime, diz a rapariga num momento de paixão, e o rapaz, que é muito mais rigoroso, responde, não acreditando nela, moi non plus. Porque o amor físico não é suficiente. Quando falamos de paixão temos de falar noutras coisas. É a canção mais moral que alguma vez escrevi."

Je t'aime... moi non plus [amo-te... eu também não] continua a ser uma canção sensual, cantada (também) por uma mulher lindíssima. Continuaria a ser proibida se voltássemos aos anos 60, apesar de ser a canção mais moral que Serge Gainsbourg alguma vez escreveu. Ironias.

JdB  




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