Hoje é domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.
Quem me lê ao Domingo por amizade, ou uma certa ocupação de tempos livres, pode recuar dois dias e ater-se, com atenção e solicitude, na homilia do Papa Francisco na ilha de Lampedusa. Com excepção de um parágrafo dedicado a agradecimentos, copiei e colei tudo o resto.
O Bom Samaritano volta a incomodar-nos a consciência. Foi na ilha, já ali ao dobrar da esquina de cada um, onde se materializa a globalização da indiferença; será hoje, para quem lê ou ouve o evangelho dominical e sobre ele tece considerações várias, públicas ou reservadas.
Talvez devêssemos ter estes versículos de S. Lucas em permanência à nossa vista: na mesa de cabeceira ao lado do livro do momento, nos escritórios onde exercemos misteres profissionais, nos carros onde vamos daqui para ali. A parábola do homem que ia de viagem e que parou para socorrer o desgraçado que foi roubado, sovado e deixado quase morto na beira da estrada, fica a ressoar-nos na cabeça. O texto é excelente e cumpre as regras que aprendemos nos cursos, porque tem um final forte que encarcera a memória. Mas o começo não é de somenos impacto - amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo... Caramba!, que o desafio é de monta.
Uma parte substantiva de todos nós, estou certo, prefere ser inopinadamente burro na leitura deste trecho do Bom Samaritano. Afinal, quantos de nós foram postos à prova tendo de socorrer gente espancada e quase morta na beira da estrada? Provavelmente ninguém... Ora, quando nos armamos da inteligência que todos temos, o caso fia mais fino. O que é isso de ser-se roubado, espancado, deixado quase morto? É só o lado físico? E as humilhações, as solidões, os abandonos, as perdas, as desesperanças, os desesperos? É uma categoria à parte que classificamos no "não aplicável"? Não deve ser, pois não?
Nas nossas viagens e no encontro com os desesperados podemos ser o sacerdote, o levita ou o samaritano. Que papel nos assenta mais?
Bom Domingo para todos.
JdB
***
EVANGELHO – Lc
10,25-37
Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
levantou-se um
doutor da lei
e perguntou a Jesus
para O experimentar:
«Mestre,
que hei-de fazer
para receber como herança a vida eterna?»
Jesus disse-lhe:
«Que está escrito na
lei? Como lês tu?»
Ele respondeu:
«Amarás o Senhor teu
Deus
com todo o teu
coração e com toda a tua alma,
com todas as tuas
forças e com todo o teu entendimento;
e ao próximo como a
ti mesmo».
Disse-lhe Jesus:
«Respondeste bem.
Faz isso e viverás».
Mas ele, querendo
justificar-se, perguntou a Jesus:
«E quem é o meu
próximo?»
Jesus, tomando a
palavra, disse:
«Um homem descia de
Jerusalém para Jericó
e caiu nas mãos dos
salteadores.
Roubaram-lhe tudo o
que levava, espancaram-no
e foram-se embora,
deixando-o meio morto.
Por coincidência,
descia pelo mesmo caminho um sacerdote;
viu-o e passou
adiante.
Do mesmo modo, um
levita que vinha por aquele lugar,
viu-o e passou
adiante.
Mas um samaritano,
que ia de viagem,
passou junto dele e,
ao vê-lo, encheu-se de compaixão.
Aproximou-se,
ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho,
colocou-o sobre a
sua própria montada,
levou-o para uma
estalagem e cuidou dele.
No dia seguinte,
tirou duas moedas,
deu-as ao
estalajadeiro e disse:
‘Trata bem dele; e o
que gastares a mais
eu to pagarei quando
voltar’.
Qual destes três te
parece ter sido o próximo
daquele homem que
caiu nas mãos dos salteadores?»
O doutor da lei
respondeu:
«O que teve
compaixão dele».
Disse-lhe Jesus:
«Então vai e faz o
mesmo».
1 comentário:
Querido João,
Tive ontem reunião de CVX e falei exactamente no mesmo que você, nesse discurso do Papa e na globalização da indiferença...
Beijinhos sintonizados
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