No final da pós-graduação, numa das últimas aulas dadas pelo Gonçalo M Tavares, foi-nos sugerido que trouxéssemos um objecto. Poderia ser algo de que quiséssemos falar, que nos dissesse alguma coisa, etc.
Curiosamente, ou talvez não, a generalidade dos alunos trouxe um objecto qualquer ao qual associou uma pessoa, um tempo da vida, uma emoção. Poucos - muito poucos - trouxeram o objecto em si. E desses, se não estou em erro, a esmagadora parte era gente já com alguma idade, isto é, com mais de 50 anos. Uma pessoa trouxe um livro específico, outra um porta-chaves igualmente específico, outra alguma coisa de que não me lembro.
Será que isto nos diz alguma coisa? As gerações mais novas têm menos apego/ligação aos objectos? Privilegiam as sensações que os objectos lhes trazem, mais do que uma qualquer atracção pelo artigo em si? Não faço ideia. A dimensão da amostra não é muito representativa, e talvez os alunos se tivessem esquecido e aproveitassem um estratagema para não ficarem mal.
Numa visão muito radical - e de improvável sagacidade - seria um pouco como se duas pessoas de gerações diferentes proferissem estas palavras na aula, empunhando um mesmo objecto:
- trouxe este relógio, que me foi dado por...
- trouxe este relógio, que me lembra...
Deixo-vos com Chet Baker, numa toada convidativa à pergunta interior: o que levaria eu para a aula do Gonçalo M Tavares?
JdB
2 comentários:
"Objets inanimés, avez-vous donc une âme qui s'attache à notre âme et la force d'aimer ?"
Alphonse de Lamartine
Levava um album de fotografias, ou talvez uns óculos, aqueles do coração...
Beijinhos
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