28 janeiro 2014

Da classificação dos defeitos


Volto ao tema dos feitios, ainda agradecido por alguns valiosos comentários publicados num post mais abaixo. Não sei se fui totalmente claro no que escrevi, mas também não é relevante. Mais vale ser comentado pela discórdia ou pela menor limpidez de raciocínio e, com isso, aprender com os outros.

Somos detentores de defeitos. Uns mais incómodos para o próximo, outros mais incómodos para o próprio. Os que são profundamente judaico-cristãos olham para os pecados mortais e, vendo-os dentro de si com uma frequência menos correcta, apressam-se à confissão - ou ao lamento, porque o sacramento, agora chamado reconciliação, já teve dias melhores. E pensarão que são orgulhosos, vaidosos, com um gosto pela luxuria ou pela preguiça, etc.

Se tivéssemos de classificar os nossos defeitos, como o faríamos? No pódio estariam os que mais incomodam o próximo, ou que mais nos incomodam a nós? Ou uns confundem-se com os outros? E haverá defeitos socialmente mais aceites do que outros? Qual o peso relativo entre eles? Entre a preguiça e a avareza? Ou entre o guloso (de gula) e o rancoroso? Que peso tem o orgulho, a inveja, o desejo exacerbado de controlo? E como equacionamos as características que, não sendo classificados obviamente como defeito, poderão incomodar o próximo - um certo frio do corpo ou do espírito, a susceptibilidade, o furor opinativo ou de secretismo, a ausência de intimidade que afasta, a surdez ao conselho ou à crítica, o comodismo travestido de lei de conservação da energia? Há alguma vantagem nesta classificação interna? E devemos despromover estas características, arrumando-as na gaveta dos defeitos?

Para que serve este texto que, depreende-se, decorre de um pensamento? Em bom rigor não sei, mas estou certo de ter esgotado o stock de pontos de interrogação. Ocorreu-me quando ontem, por volta das 7.45 e já no regresso da passeata, me confrontei com o nascer do sol.  Dei por mim a pensar nisso - no que sou, que peso dou aos defeitos que se agarram a mim por fatalidade ou falta de vontade para os tirar. Tem algum interesse pensar nisso? Pois não sei. Mal não faz - e eu não tenho facebook onde verter os parcos e erráticos pensamentos de que ainda sou capaz.

JdB 

1 comentário:

Anónimo disse...

Feitio, não será necessariamente defeito.

Não me passa pela minha cabeça, classifica-los - uns e outros, defeitos e feitios, leia-se - por si, ou em função do que passa ou habita a cabeça dos outros. Antes de mais, seria dar-lhes (aos outros) um enorme poder sobre mim, que não deverão ter. Ao hierarquiza-los assim, estaria a priorizar a importância e valor que os outros dão (a família, o chefe, a sociedade, a associação, o clube, o partido, etc) a alguma faceta individual, com uma conotação pejorativa, arbitrária, discutível, subjectiva, impessoal, exterior, em detrimento da minha própria.

Costumo dizer, que só dou contas a Deus, diariamente, e várias vezes ao dia.
Só nós ( eu e ele) sabemos por dentro da pele, do corpo e da alma. Rente ao coração. Só a mim (sob o seu olhar, leia-se Amor) cabe refletir, ajuizar, ponderar, redefinir, burilar, atenuar, adiar ou esquecer, alguma aresta que Eu, considere imprecisa, acutilante, agressiva, feroz, entediante, desnecessária, diminuitiva, etc. E aqui, também Eu, decido, se é alguma coisa que me afeta a mim em particular, ou se é algo que envolve também o Outro. Por vezes, são coisas que de tão interligadas, não se separam e andam juntas.

Nunca seremos perfeitos, nesta dimensão, penso eu. Mas cabe-me o aperfeiçoamento crescente, gradual e contínuo, a vários níveis. Os japoneses, chamam-lhe, Kaizen. Um conceito bonito e lato.

Não me preocupa, o que os outros pensam sobre os meus defeitos, ou do que eles pensam ser os meus defeitos. Não me preocupa, dar-lhes uma hierarquia, ou um deadline para os eliminar. Sempre que tropeço num deles, tento dar-me o que de direito procuraria dar ao Outro, um olhar compassivo e tolerante(autocompaixão), e se puder, mudo logo ali alguma coisa.

Tudo passará pela minha consciência, pela minha atenção e reconhecimento, pela minha necessidade de mudar o que considero inapropriado/desfavorável/..., e pela minha vontade e açao de mudar.

Um dia de cada vez, um bocadinho de cada vez, step by step, little baby steps. Mesmo que pareça que não conseguimos, nem de nada chega o que já fizemos, já fazemos muito...

Sem culpa, sem atropelos, sem recriminação, sem autoflagelo ou autoboicote, de preferência.

Afinal, já somos perfeitos assim, e dentro das nossas imperfeições, somo Amados.

Obrigada pelo seu texto. Fez-me lembrar também o 'largo da boa hora'. :)

Boa semana, JdB, boas caminhadas.

a.

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