09 novembro 2008

Um país de merda

O maluco deambulava pelas ruas a gritar: “Vivemos num país de merda!”

As pessoas passavam e sorriam. Quase todos se identificavam com aquele homem e em um ou outro momento das suas vidas tinham já tido vontade de gritar em plenos pulmões o mesmo que ele gritava.

Tropecei no pensamento. Será que em todos os países do mundo existe a mesma compreensão e simpatia por alguém que proclama a merdice do seu próprio país? A resposta é obviamente não. Em muitos países do mundo este homem seria olhado com desdém, com pena, eventualmente com caridade, mas nunca com simpatia e muito menos com compreensão.

O que faz então que um país seja ou não considerado um país de merda? Ocorreu-me uma definição: um país de merda é aquele país onde as pessoas não gostam, não querem, ou não podem viver. Uns gostam e querem, mas não podem. Outros podem, mas simplesmente não gostam, ou não querem.

Gostei do exercício e continuei. E quais serão os factores de aferição? Vieram-me vários à ideia: as condições económicas, a segurança, a liberdade, o clima. Porventura por esta ordem. Um país é tanto melhor quanto a sua população for próspera. Os países prósperos conseguem fixar as suas populações e atrair populações de outros países menos prósperos. Confere. Um país é tanto melhor quanto mais a sua população se sentir segura da criminalidade ou da guerra. As pessoas fogem de situações de conflito e são atraídas por países com baixos níveis de criminalidade. Confere. Um país é tanto melhor quanto melhores condições de liberdade der aos seus nacionais. A procura da liberdade é um instinto inato ao ser humano e um país que a ofereça torna-se uma Meca para os fugitivos das ditaduras. Confere. Um país é tanto melhor quanto melhores condições climatéricas tiver. Ninguém emigra voluntariamente para a Sibéria ou para o deserto do Sahara. Confere.

Contudo, pessoas existem que continuam a querer viver na Somália, país pobre, inseguro, com falta de liberdade e com um clima próprio para o cultivo de ananases. Pois é, a conclusão evidente é que há quem goste de viver em países de merda. A consciência objectiva de que um país não presta para nada não tira que com o mesmo não possam ser estabelecidas ligações afectivas, que levem inclusivamente alguns maduros a afirmar que não há sítio no mundo melhor do que a Somália.

Se calhar, o maluco que ouvi na rua estava só a fazer uma constatação, não um juízo de valor.


J. Buggs

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