13 outubro 2010

Moleskine

Mineiros. Escrevo este texto quando já passa da meia noite. Ao meu lado, a BBC transmite os últimos preparativos para o salvamento dos mineiros, incluindo a divulgação dos nomes de quem sobe em primeiro lugar, em segundo, etc. Tudo se prevê para as próximas horas, pelo que imagino a ansiedade das partes envolvidas: equipa, familiares – os próprios encurralados. Chegados cá acima espera-os uns óculos escuros especiais, uma avaliação médica e a gestão difícil de um mediatismo expectável. Muitos deles estarão em idade de continuar a trabalhar. Será que quererão voltar à mina, ou terão sido possuídos por um temor claustrofóbico mais do que compreensível? O que faria eu? Talvez procurasse um lugar na marinha mercante. Os grandes espaços, sabem... À hora a que me lerem os meus fiéis leitores talvez já estejam todos cá fora. Talvez suerte - e uma pequena oração - seja o que se me oferece dizer agora.

Prémio Nobel da Literatura. Li um único livro de Mário Vargas Llosa (Os Cadernos de D. Rigoberto, Pub. D. Quixote, 1998). Não me lembro, sinceramente, o que me levou a comprar o livro: terá sido a sugestão de alguém credível ou a personagem feminina deitada displicente e desnuda em cima de uma cama? Talvez fosse o sticker laranja na direita baixa que definia a obra como um verdadeiro elogio ao erotismo. Agradeço sugestões de quem seja entendido no Nobel deste ano ou tenha apanhado, por aí, opiniões de qual o melhor livro dele. Nunca ando atrás da obra de quem foi nobelizado, mas sempre gostei de literatura sul-americana, pelo que me apetece ler mais.

5 de Outubro. De fim de semana com amigos fora de Lisboa, não acompanhei quase nada das celebrações do centenário da República. Do que fui lendo pelos blogues, pelos jornais, pelos livros, pelas opiniões, acabei por formar uma convicção forte e própria – se bem que pouco original: ninguém tem grande orgulho na 1ª República, pouca gente se interessou por estes festejos, o Rei caiu por obra e graça dos próprios monárquicos. Conversas tidas e ouvidas leva-me a entender que à monarquia se associam ainda ideias de privilégios, beija-mãos, duques e marqueses, sinal de que é importante desmistificar-se esta ideia. Faço o pouco que sei e posso, como monárquico que sou, se bem que soubesse mais e pudesse mais.

Futebol. Arrogo-me uma grande qualidade – ou uma qualidade confortável: não sou especialista em nada ou, como dizia o meu Pai quando eu era jornalista estagiário n’ O Dia, sou especialista em matéria vaga. Assim sendo, não sei – nem me interessa muito - se a selecção de futebol ganhou contra a Dinamarca e a Islândia derivado a um esquema táctico infalível e inovador gizado no remanso de um estágio tranquilo, ou se foi a atitude dos jogadores (uma expressão tão futebolística) após o desenlace decorrente das traumáticas palavras de Carlos Queiroz referindo-se à mãe do chefe da luta anti-doping. O importante é que ganharam e o Paulo Bento, por quem tenho apenas uma menor simpatia estética, saiu-se bem na fotografia. Não sou especialista, mas sou pessimista: fizemos o mais fácil, que foi ganhar estes dois jogos.

. A Luísa (e vale a pena visitarem-lhe o blogue, um primor de bom gosto) comenta-me semanalmente neste espaço (eu visito-a, mas nem sempre comento...) e, na passada 4ªfeira, não lhe respondi. Não me canso de pensar no que vou dizer como sendo uma verdade quase irrefutável: questiono-me onde estaria, em termos de fé, se a vida não me tivesse sido o que foi. Mas, como o foi, não me restou outra alternativa que não sobreviver, encontrar um sentido para as coisas, procurar incessantemente o lado luminoso da vida. Pessoas compassivas dizem que tudo isso já lá estava dentro de mim, à procura do momento certo para sair. Não sei, não sei. Foi à fé que me agarrei para tudo ter uma explicação enquanto outros, com dramas semelhantes, me disseram: zanguei-me com Deus. Zangar-me com o Ancião da Eternidade, como diria o Eça, era desacreditar no Céu como o destino dos destinos. E para onde iria quem partiu antes de mim? O que faria eu sem esta fé que me conforta?

JdB

3 comentários:

Pedro C Branco disse...

Sem nunca o ter lido, conhecendo apenas de que trata, parece-me que o livro " Conversa na Catedral " será o mais interessante.

Anónimo disse...

De à umas semanas (talvez meses) para cá tenho acompanhado "a vida" deste blog e, apesar de raras vezes me manifestar, não posso deixar de dizer que as constantes manifestações de Fé que aqui testemunho me tocam e marcam. Hoje, muito especialmente, não pude deixar de comentar. São muitas vezes estas palavras que me dão confiança, e como ouvimos num Evangelho recente "aumentam a nossa[neste caso, minha]fé". No limite, são muitas vezes estas palavras que me alegram e me incitam a continuar firme na Fé! Obrigada.

Luísa A. disse...

João:
- Mineiros – Ver como as pessoas conseguem transcender-se, ultrapassar o que é sensatamente expectável (tendo presente que a sensatez envolve geralmente uma pequena dose de cepticismo) faz-me sentir, invariavelmente, muito feliz. Fiquei feliz pelos mineiros, pela aposta chilena, pela congregação de esforços, pela organização… e também pela impressão de que, querendo, o homem consegue responder e sobreviver aos piores caprichos da natureza.
- 5 de Outubro – Monárquico, João???!!! ;-D
- Futebol – As entradas de gatinho dão mais sorte do que as entradas de leão. E se a entrada de gatinho for feita por um ex-leão, a sorte dura, pelo menos, um ciclo ou temporada. O acesso ao europeu está, portanto, garantido. Já o desempenho no europeu continua a ser uma incógnita… ;-D
- Fé – Obrigada pela simpatia, João. Quanto ao tema essencial, preciso urgentemente de aprender a aceitar as coisas sem as questionar. Mas creio que estou no bom caminho, porque ando a fazer um grande esforço para deixar de pensar e para me limitar a sentir. Pensar, por estes dias, aborrece-me muito; e sentir não, aproxima-me e maravilha-me com o que me rodeia e talvez me ajude a reencontrar Deus aí. :-)))

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