09 novembro 2011

Diário de uma astróloga – [12] – 9 de Novembro de 2011


 Lisboa - Neptuno e Peixes

Cheguei a Lisboa e imediatamente sinto-me submersa por uma energia neptuniana. E não é só a proximidade ao Tejo e ao Oceano Atlântico.

Como qualquer outro lugar muito antigo, Lisboa e Portugal não tem cartas do céu precisas porque ninguém sabe ao certo quando foram fundados. Mas não tenho qualquer dúvida de que tanto Lisboa como Portugal estão sob a influência do signo Peixe e do seu planeta regente Neptuno.

Peixe é um signo de água e, portanto, ligado a aspectos emocionais. É o 12º signo do zodíaco, já tem a sabedoria de todos os outros, tem uma memória muito antiga de “somewhere else”. Por ser o último, representa o fim, as perdas de coisas, pessoas, situações. Procura transcender a realidade nua e fria em busca de uma realidade ideal, as vezes através da espiritualidade outras vezes através do álcool e das drogas. Precisa de não ter fronteiras, de se dissolver na união com os outros seres humanos, com Deus ou com a natureza. Por ser o signo oposto à organizada Virgem, gosta do caos, de teias, espirais, enfim tudo o que não sejam linhas rectas, e odeia a definição. Peixe e Neptuno são os arquétipos da imaginação, da poesia, do cinema, da compaixão, do sacrifício, do êxtase no seu lado positivo e no lado negativo representam a confusão, as ilusões, os enganos, o fatalismo do destino, o papel de vítima.

O fado e a palavra saudade, duas coisas que nos são únicas, encaixam perfeitamente nas características de Peixe e Neptuno. Numa lista das dez palavras mais difíceis de traduzir publicadas por uma companhia de tradução inglesa está a palavra saudade. Quando tenho que explicar saudade aos outros povos preciso de um parágrafo que contém quase todo o arquétipo:  “The feeling it elicits is complex and indefinable: longing, yearning, missing, homesickness, solitude, loss, and melancholy in one word. It often carries a fatalist tone and a vague knowledge that the object of longing might never return.”  

Mesmo a origem do nome “Lisboa” está envolta numa nuvem de indefinição. A versão mais comum diz que vem de Ulisses, Olissipo. Não há prova nenhuma e além de Ulisses ser um personagem de ficção, só se chamou Ulisses na época Romana. Se cá passou, como grego que era chamava-se Odisseu. Outra versão ainda mais antiga aponta para Elassipos, 7º rei da Atlântida como sendo a origem de Lisboa.  Em qualquer destes mitos está presente o arquétipo Neptuniano – Ulisses no seu barco a vaguear durante anos e um continente desaparecido, imerso no mundo da imaginação. 

Para prolongar a minha estadia para além do tempo que aqui estou, vou comprar o DVD dos “Mistérios de Lisboa”, para ver quando chegar a Roma. Este filme, baseado no livro de Camilo Castelo Branco, um Peixe do dia 16 de Marco, quando se estreou em Manhattan teve uma crítica no New York Times, com uma imagem tão neptuniana que me deixou curiosa. “O passado no “Mistérios de Lisboa” não fica no passado mas desloca-se em espiral até ao presente, subjugante ao ponto em que o herói, Pedro, se torna uma mera anotação da sua própria vida”. Aqui em Lisboa, mais do que em qualquer outro sito, sinto que esta afirmação é verdade. Sinto a espiral do tempo, o passado, presente e futuro não ordenados numa linha continua e sinto a minha vida como uma gota na imensidão oceânica. Não há  escape à energia de um lugar.

Mas mesmo antes de partir procuro um momento bem neptuniano: vou a Belém, recordo com saudade o tempo em que andava à vela, medito alguns momentos junto do enorme zodíaco feito de calçada, atardo-me no símbolo de Peixes, olho para o céu de Lisboa e para o voo desordenado das gaivotas…  e recito interiormente o fado Gaivota, do poeta Alexandre O’Neill.



Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.


Luiza Azancot


1 comentário:

Ana CC disse...

Luiza,
Mais uma vez interessantíssimo. Nunca pensei que pudesse haver este tipo de influências. Será que a desorganização e a "ingovernabilidade" dos portugueses é determinada por esta ligação caótica a peixes e a neptuno?
De facto, ele há coisas.

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