(* poema inspirado na leitura do romance homónimo, de leonard cohen)
havia uma rapariga chamada shell.
existiam também muitas outras raparigas,
existiam também muitas outras raparigas,
com nomes parecidos e ao mesmo tempo diferentes.
um rosário de raparigas,
um rosário de raparigas,
para sempre fixadas no auge absoluto da sua perfeição,
com o seus corpos exultantes,
resistentes à usura do tempo, à ferrugem dos dias.
ele era um filme, caótico,
ele era um filme, caótico,
canhestramente montado,
o trabalho de um óbvio amador.
elas eram, pelo contrário,
gloriosas obras de arte,
fotografias perfeitas de memórias petrificadas.
quando dele não restar senão a poeira e as palavras,
quando dele não restar senão a poeira e as palavras,
elas serão as suas pirâmides de gizé,
as suas cordilheiras imperiais,
cascatas sublimes causando perpétuo espanto,
vestígios orgulhosos e perenes de uma civilização
- ele - em tempos idos fluorescente.
havia uma rapariga chamada shell.
havia uma rapariga chamada shell.
uma concha de abrigo.
por isso fugiu dela,
como se faz das coisas que têm potencial suficiente
para nos mudar a vida.
gi.
1 comentário:
O poema é magnífico, totalmente na linha de pensamento e sensibilidade do autor. A última estrofe lapidar. Bom fim de semana, gi. pcp
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