A 17 de Abril de 2012 - há quase nove meses portanto, pouco menos que uma gestação - escrevi uma das crónicas mais gostosas (perdoe-se o brasileirismo) deste blogue. Quem for revivalista, ou simplesmente curioso, pode lê-la aqui.
Domingo juntámo-nos de novo: o mesmo local, o mesmo grupo, a mesma liberdade, o mesmo à vontade. Não havia bolo de maçã nem fernet, mas havia anis, chá verde, bolo rei, um charuto mau, dois cães e um gato, um garrafão azul enfiado num qualquer suporte para derramar uma tonalidade sossegada, uma cadeirinha de madeira pendurada num ferro, alguém envolvido numa capa afegã comprada nos EUA e fabricada na China.
Falou-se de (quase) tudo, desde a energia das missas ao conceito de Espírito Santo, de música iraniana e de saúde, de sufismo, de viagens e de motos, do nosso eu dominante, do que queremos desta caminhada terrena. Nunca se falou de vitor gaspar, de finanças, de impostos, de euro, de política, de sucessos profissionais ou de praias da moda.
Perguntar-me-ão, queridos leitores, se não carrego nas tintas da criatividade para dar à matiné um pitoresco que ela não tem. Não, não carrego. Gosto de lá ir porque vejo coisas que nunca vejo, oiço coisas que nunca oiço, falo de coisas de que é raro falar. Há sempre uma espécie de imaterialidade nas conversas, como se nada daquilo tivesse a menor importância para o quotidiano das nossas vidas, mas desempenhasse um papel importante quando nos queremos afastar (corrigi a expressão elevar...) do que que é trivial e mundano. No fundo, como se de nenhuma conversa tivesse de sair uma acção, um objectivo - ou uma conclusão.
À semelhança da última crónica, deixo-vos com música iraniana. Se só tiverem disponibilidade mental para um youtube, sugiro-vos o primeiro, porque a Sussan Deyhim já por cá passou. Há uma história por trás, que tem a ver com a perseguição ao rock iraniano, mas não sei explicar bem...
JdB
3 comentários:
Gostaria de comentar com alguma profundidade mas nao tenho capacidade literaria para tal... por isso limito-me a dizer que cada um tem os grupos que merece, e numa filosofia budista, aqueles de que precisa.
É tão bom descentrarmo-nos das nossas certezas e das nossas seguranças, são ótimos desafios!
Aprecio essa atitude em si.
Beijinhos.
Sussann Deyhim vocals with the orchestra are magnificent, ethereal, passionate, promising another world. Thanks JDB. PO
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