Istambul, Junho 2014 |
No romance homónimo de Jane Austen, Emma falha os vários prognósticos amorosos de gente que anda de volta dela. John Cage compôs uma obra experimental, a que chamou 4'33", que se resumia a ausência de som. Todo o teatro tem os seus momentos de pausa.
Emma só fala verdade quando está calada, porque ao falar desacerta nas suas certezas sobre quem ama quem. John Cage não mostra o silêncio, mas o ruído ambiente. As pausas no teatro não se destinam a não ser nada, mas a ser outra coisa.
Talvez vivamos demasiado das coisas óbvias - arriscar-me-ia a dizer positivas - porque são essas que nos prendem mais os sentidos. E no entanto talvez a solução de muitos mistérios esteja na observação intensa e cuidada do que é o inverso da palavra, da música, da fala do actor. Talvez o segredo para muitos enigmas esteja no silêncio da emma que somos todos nós, na escuta do ruído ambiente, nas pausas com que contemplamos o nosso íntimo.
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Há algumas semanas fui ver com amigos Os gatos não têm vertigens. No fim, naqueles cinco minutos de comentários finais (neste caso elogiosos) todos falaram da cena final, em que a protagonista (cujo nome não me lembro) morre e vai ao encontro do seu marido. A mim, que me falta talvez o silêncio, só me ocorreu que aquilo não representava a morte. Perante uma espécie de espanto e horror dos meus companheiros, não consegui verbalizar a minha teoria. A última cena não é a morte. É apenas a paz. É isso que eu vejo naquele final, e não serei preso por isso...
JdB
2 comentários:
Também fui ver o filme. Gostei imenso e fui tocada pela "morte". Talvez a paz seja a visão dos que gostamos e o conforto que isso nos dá.
Os silêncios são linguagem e a ausência de fala não impede o discurso. Bem visto o seu apontamento.
Boa semana
Olá JdB, fui ver o filme e gostei das múltiplas mensagens que o mesmo transmite ou que trduzimos do mesmo. Concordo com a sua leitura sobre o final bonito que tem a ver com a partida, com o regresso a casa.
Agradeço, todos os posts do seu estabelecimentos.
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