As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
30 maio 2010
Bem-aventurados os que têm fome...
Solenidade da Santíssima Trindade
EVANGELHO – Jo 16,12-15
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Tenho ainda muitas coisas para vos dizer,
mas não as podeis compreender agora.
Quando vier o Espírito da verdade,
Ele vos guiará para a verdade plena;
porque não falará de Si mesmo,
mas dirá tudo o que tiver ouvido
e vos anunciará o que está para vir.
Ele Me glorificará,
porque receberá do que é meu
e vo-lo anunciará.
Tudo o que o Pai tem é meu.
Por isso vos disse
que Ele receberá do que é meu
e vo-lo anunciará».
Precisamos de...
Precisamos de Santos de calças jeans e ténis.
Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos.
Precisamos de Santos modernos, santos do século XXI, com uma espiritualidade inserida no nosso tempo.
Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e com as necessárias mudanças sociais.
Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo.
Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot-dogs, que usem jeans, que sejam internautas, que usem disc man.
Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de desporto.
Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.
Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos.
29 maio 2010
Textos dos dias que correm...
De onde procede a energia do agricultor que não vê a árvore dar frutos imediatamente, mas que cava e rega, um dia após outro, e que poda e aguenta uma geada e recomeça de novo? É porque acredita na colheita que virá a seu tempo, é porque já a viu e percebeu isso da sua experiência. A experiência, a nossa historia pessoal, ajuda-nos a ter esperança. Já ter passado por dificuldades, ter ajudado outros a passar por elas, ter sofrido, tudo isso ajuda muito. Devemos aprender a ler a nossa história e perceber que não temos nada que deitar as mãos à cabeça, desesperados.
Texto do Pe.Vasco Pinto Magalhães, que mão amiga me enviou por sms.
Pensamentos impensados
Os supositórios têm efeitos rectoactivos?
Fractura de mão é manufractura?
Há partes do corpo das senhoras em que não se deve mexer seja por res...peito seja por re...seio.
Elogio a uma menina com namoro: espero que ele esteja à sua altura embora nem lhe chegue aos calcanhares.
Usava uns óculos com umas lentes tão fracas que dir-se-ia que as usava só para fazer vista.
28 maio 2010
presente mais que perfeito
cintilação mais pura, insana magia
- és meu sonho de vida.
como a flor intocada que permanece,
rasgando de amor a funda noite
até hoje ser já amanhã,
e a manhã de um novo dia.
gi.
27 maio 2010
Deixa-me rir...
A proxima (centauri),
PO
26 maio 2010
Textos dos dias que correm...
25 maio 2010
Good morning Sunshine
You may love your furry versions, but come bobbles, holes and stains, they just won’t do. Leather gloves will last – and look sophisticated. Choose a bright color to add sparkle to winter outfits.
Realmente as luvas fofinhas são muito mais quentes, mas é daquelas coisas que não se usa, como calças impermeáveis ou um boné caqui.
TdB
24 maio 2010
Bem-aventurados os misericordiosos
Fernando Alcácer era juiz num tribunal nos arredores de Lisboa. Homem com vasta experiência na aplicação das leis, há muito que tinha as melhores classificações dentro da magistratura. Quando acontecia um réu recorrer da sua sentença, o tribunal de instância superior confirmava o que o Dr. Alcácer tinha determinado, sinal da justiça da pena aplicada. Não raramente recebia visitas de colegas que, dentro de uma ética que sempre regula as actividades humanas - lícitas ou não -, lhe vinham pedir conselhos, ouvir uma opinião, interpretar o espírito menos óbvio do legislador.
Além da consideração dos seus pares, o juiz era um homem apreciado por advogados, funcionários judiciais, procuradores. Todos lhe reconheciam o rigor, o sentido de humanidade, a atenção às agravantes e às suas inversas, o respeito por uma justiça presumivelmente caracterizada por um venda nos olhos. Reconheciam-lhe, além disso, uma característica que, não sendo inédita, no juiz assumia uma dimensão rara: a memória para matrículas de automóveis de colegas, advogados, funcionários, arguidos, fornecedores... Acontecia frequentemente o dr. Alcácer dirigir-se a uma secretária dizendo:
- Vi sua matrícula ontem no Centro Comercial, D. Arlete... Estivemos lá à mesma hora.
O povo, na sua imensa e pretensa sabedoria, entende que no melhor pano cai a nódoa. No caso vertente a mancha assentou numa fazenda que se chamava Fernando Alcácer, quando da sua boca saiu uma sentença que todos consideraram demasiado branda para o crime económico de um empresário local. Comentou-se o caso e o próprio juiz – naquele seu hábito obsessivo, quase, de fixar todas as matrículas, inclusivamente a do réu – questionou a sua própria brandura. Mas o facto é que vira qualquer coisa, embora não soubesse verbalizar o quê, nem onde, que o levara a decidir daquela forma. Só sabia que algo o impelira a isso, como se o juiz, para além de conhecer as leis e as matrículas, visse também, premonitoriamente, para além do desfocado das vidas reais e comezinhas do presente.
Metera-se no carro e seguira para casa. Com ele seguia um temporal como há muito não se via na região - uma chuva intensa, um vendaval de arrancar árvores, uma trovoada de ensurdecer - e um incómodo que lhe apertava o estômago:
Mas porque fui eu aplicar aquela sentença tão branda... Será que cometi o erro da minha vida? Será que beneficiei quem não devia? Mas o que me passou pela cabeça?
Embrulhado neste estado de espírito, o juiz passaria um sinal vermelho. Pela esquerda, na legitimidade do seu direito de passagem, viu um carro aproximar-se e fazer sinais intensos de luzes, mas o alerta não era mais do que a bateria de holofotes que iluminaria o horror que se aproximava. No último instante, quando o embate estava à distância de um fio de cabelo, Fernando Alcácer foi espectador da sua própria vida: viu-se como menino na escola a chorar uma mãe que desaparecia; como jovem no liceu a sentir o pulular das hormonas adolescentes; reviveu a arritmia cardíaca do primeiro beijo num vão de escada; olhou a imponência da escadaria no primeiro dia em que pôs os pés na faculdade; reviu-se como jovem licenciado em Direito e como estudante do Curso de Estudos Judiciários; suou de novo a angústia da primeira sentença. Reviu, no fundo, toda a sua vida.
Nestas magias que permitem que o tempo tenha uma duração indefinida, houve espaço suficiente para o juiz identificar a matrícula daquele carro e o condutor, um empresário local beneficiário de uma sentença ligeira. Teve a nítida sensação da ironia da situação quando percebeu que o réu culpado sorria para um juiz misericordioso, um instante antes de guinar o carro e embater com uma violência brutal num poste, desfazendo-se num estrondo de chapa esmagada e dor anunciada.
JdB
23 maio 2010
Os dons do Espírito Santo
Domingo ...... Se Fores à Missa
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos
se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!»
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor.
E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.»
Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»
22 maio 2010
Pensamentos impensados
21 maio 2010
transumância
o cântico dos cânticos,
epopeia lírica aos pés do altar-mor,
uma estátua ao que poderia ter sido.
terrível cousa esta, leitores futuros meus,
extirpar a espantosa dor
do que está mais do que morto, em nós,
mas algures, lá longe, transborda de vida.
fazer o luto de flores vivas,
carrear esse tráfego nocturno e viscoso
de animais mortos
que ainda caminham.
gi.
20 maio 2010
Deixa-me rir...
pcp
19 maio 2010
Vai um gin do Peter’s ?
As discrepâncias entre os seus testemunhos –aqui quase elevados a árbitros da história– e a narrativa de Salazar é, de facto, notória mas não tem a interpretação directa e simples de um discurso de oposição ao regime. Nem mesmo indirectamente. O traço mais evidente nos seus diários é o notável distanciamento de quem se sente, por um lado triste e nada inspirado para relançar raízes longe da terra que chora e, por outro, oriundo de uma cultura diversa, que parece considerar superior (pressente-se)... A distância entre eles e o que observam é a maior, porque é a da linha do coração, que talvez não tenha chegado a aterrar em Lisboa... sobretudo nos casos de Erika e de Exupéry. O que é perfeitamente compreensível, com vidas dilaceradas pela guerra. Foi o próprio Exupéry a escrever: «O essencial é invisível aos olhos, porque é para ser visto com o coração.»
O interesse das suas experiências creio advir bem menos de qualquer pretensa autoridade moral a decifrarem os factos (até porque os erros nas previsões não sugerem grande discernimento para a análise histórica), do que da riqueza da sua expressão artística, que a uma mesma realidade associam encantos ou desencantos muito seus, a revelar-nos a história de almas intensas e inquietas.
Também o cenário não podia ser mais bonito, sob a luz quente e única de Lisboa, o rebuliço colorido, mas dorido, dos muitos estrangeiros que se cruzam nas margens do Tejo, uns sorrindo e gozando a paz e o sol, outros demasiado destroçados e perdidos para desfrutar um oásis sem bombas, outros apressando-se a atravessar o Atlântico, rumo a Nova Iorque… Tudo compreensível, tudo a história irrepetível e fantástica de cada um!
Nau de Portugal exibida na Exposição do Mundo Português, 1940.
Fotografia de: Mário Novais
Entendamo-nos que nesta redescoberta dos discursos do Estado Novo encontramos múltiplas declarações desfasadas, slogans ridículos como o do «Dia S» em vez do Dia D e tantas outras palavras-de-ordem horrivelmente simplistas. Claro que não ficaram imunes às gaffes, ao triunfalismo, ao tom festivaleiro da gramática da propaganda política, básica e imediatista. É mais do mesmo. Mas as fantasias e os abusos de Salazar falam por si, dispensando o contraponto de estrangeiros tão pouco sintonizados com o país acolhedor, o que está longe de ter sido a voz corrente da multidão de viajantes que se apaixonou por Lisboa, nessa mesma altura. E muitos vindos de capitais magníficas. Como não lembrar o Gulbenkian (aterrou na Portela, em 1942) ou várias famílias reais em que alguns aqui ficaram até ao final dos seus dias ou escritores e jornalistas como a suíça Anne Schwarzenbach, amiga da família Mann: «Como me senti feliz, ao percorrer, pela primeira vez, as ruelas estreitas e íngremes (da capital). (…) A branca cidade de Lisboa, banhada em luz crepuscular, deveras resplandecente com as suas igrejas, telhados, monumentos, mercados, molhes e velhos palácios.»
São imperdíveis os travellings pela Exposição do Mundo Português:
Porta da Fundação, da autoria de Cottinelli Telmo. Exposição do Mundo Português, 1940.
Espelho de Água e Padrão dos Descobrimentos da Exposição do Mundo Português, 1940.
Fotografia de: Mário Novais
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
FICHA TÉCNICA:
Título: FANTASIA LUSITANA
Realização : João Canijo Produção: Periferia Filmes
País: Portugal Distribuidor: Midas
Género: documentário
Ano – 2010 Duração – 64 min.
18 maio 2010
Queima das Fitas
As semanas dos outros já não me dizem respeito. Quinzenalmente, à hora em que a noite começa a sossegar, lembro-me que é dia de escrever para o blogue e é esse o meu calendário. Estou sentado em frente ao computador há dias. Não sei quantas voltas a terra deu sobre si mesma, no seu baile de enganar parvos, nem quantas horas de jantar pulei, não me lembro se mudei de roupa, ou sequer de lugar. Aparentemente, a minha vida descobriu a sua vocação de pescadinha de rabo na boca e resolveu começar a devorar-se a si mesma, enquanto espera que venham devorá-la de vez.
Talvez não seja talhado para isto de ser estudante, ou talvez seja só irremediavelmente romântico, mas ainda guardo alguma esperança, escondida, para não me envergonhar, de encontrar alguém, neste caminho que é a universidade, que ainda se lembre do tempo em que os professores ensinavam, os alunos aprendiam e o mundo crescia.
Lembraram-me recentemente que já devia ter acabado o curso, que já devia estar a andar para a frente com esse negócio de ser gente, estenderam-me, meio a medo, meio ao desafio, fitas de tecido colorido, Escreve qualquer coisa, onde deixei, invariavelmente, uma versão escrita daquilo que é um abraço forte, ao invés do tradicional carimbo de notificação de entrada numa "nova fase" e da muito gasta "boa sorte".
Estou muito feliz por todos aqueles que souberam encontrar combustível para a alma no meio da rebaldaria dos dias de estudante, aqueles que souberam agarrar-se aos objectivos traçados e que agora, chegados ao fim, lhes brilham os olhos de satisfação.
Um exercício lógico trivial colocar-me-á, provavelmente, na gaveta dos pequeninos, ou na dos mandriões, ou na dos coitados, ou até na dos menos espertos. Não faço questão de me ver ao espelho aqui e agora, mas supondo que tenho uma extraordinária capacidade de me observar do lado de fora, como quem observa macaquinhos no zoo e perde a tarde toda a contemplar os seus embaraços e as suas vergonhas, eu diria que apenas ando a adiar o dia em que, Finalmente, chegarei ao fim do meu caminho de estudante. Não porque goste muito disto, nada disso, só não quero confirmar as suspeitas que o meu subconsciente subversivo vai gritando à consciência nas alturas mais complicadas, de que isto é tudo uma enorme perda de tempo.
Zdt
17 maio 2010
Ira
Alberto sempre fora distraído – na escola, na faculdade, no serviço militar, na empresa, em casa. Esquecia-se das aulas, perdia comboios e a espingarda, saltava compromissos e prazos de relatórios. Salvava-o a Francine, uma secretária dedicada e atenta cuja mente funcionava como um lembrete de agenda electrónica.
Paralelamente a esta característica desenvolvera um fetiche: o sexo angariado através dos anúncios dos jornais. Alberto, não sendo vaidoso, gabava-se, no entanto, de um controlo de qualidade preventivo sem falhas. Conhecia os verdadeiros atributos das raparigas através do fraseado do anúncio, sabia onde lhe venderiam gato por lebre, reconhecia virtuosismos escondidos atrás de palavras simples e aparentemente transparentes, conhecia os códigos de texto que revelavam fantasias de ir ao céu.
A noite tinha-se posto mansa e quente naquele Agosto lisboeta. Alberto tinha consultado os jornais e na véspera, com uma lua cheia que lhe entrava pela sala dentro, decidira contratar a Heloísa, uma moçambicana licenciada em relações internacionais há pouco mais de seis meses, com um livro de recibos verdes com uma virgindade que ela já não tinha e o nome inscrito no centro de emprego. Chamara-lhe à atenção a fotografia sensual, ligeiramente diferente das habituais que prenunciavam um erotismo barato regado a espumante à temperatura ambiente.
Alberto convidara-a a entrar e, como era costume, oferecera uma taça de champanhe, que Heloísa, no seu corpo bem tratado de mulher de vinte e poucos anos, aceitara de bom grado. Passava pouco das dez da noite quando ambos se dirigiram para o quarto onde já ardiam velas, e se ouvia o som constante e gravado de uma fonte que brota água num murmúrio da natureza.
Trocaram um beijo longo e húmido, carregado daquela ansiedade de quem beija pela primeira vez uma mulher desconhecida, porque a Alberto não lhe afligia a natureza comercial do encontro. Era uma boca nova, uns lábios entreabertos que o recebiam com as cores de África, os sons de África, os ritmos de África, e isso era o bastante para lhe provocar um ligeiríssimo aumento da frequência a que batia o seu coração – uma batida baixa e compassada, porque Alberto tinha sido um maratonista promissor na agremiação desportiva onde crescera.
Alguns minutos depois, com a lentidão de quem deseja que o tempo se arraste na eternidade de uma noite, a camisa de Heloísa caía no chão. O ex-corredor ainda só estava nos dez mil metros e o fôlego não lhe faltaria. O resto da roupa que separava Alberto da nudez africana cairia a seguir, sem ruído, sem perturbação - e sem pressa. A segunda contraente daquela noite onde se trocaria prazer por notas estava agora nua, integralmente nua, e Alberto tinha passado os vinte e cinco mil metros. O aumento do ritmo cardíaco era pouquíssimo, tão diminuto que Heloísa não dera por isso. És um atleta, diria Alberto de si para si, como quem se motiva à passagem difícil dos trinta quilómetros.
Nas duas horas seguintes o casal manteve a mesma passada, porque o primeiro contraente assim o desejou. Tudo fluiu num vagar sensual e calmo, como um sol que beija o Índico enquanto se põe no fio do horizonte moçambicano. O maratonista chegava ao fim, repleto de um orgulho vencedor, pronto para dar uma última volta à pista antes de receber a coroa de flores de uma multidão ululante.
O que te pareceu, Heloísa? Gostarias de voltar outro dia?
A moçambicana olhou-o nos olhos, deixando que os dele percorressem o seu corpo à procura das memórias, dos vestígios, dos sons e dos cheiros.
Sabe Dr. Alberto... O senhor deve ser muito distraído. Não sei se percebeu no anúncio que eu sou masoquista – gosto de alguma violência, de gritos, de agitação. O meu gozo atinge-se na cólera, na ira de quem me contrata. Mas o senhor deve ser católico – e a ira é um pecado mortal, não é?
JdB
16 maio 2010
Solenidade da Ascensão do Senhor
EVANGELHO – Lc 24,46-53
Conclusão do santo Evangelho segundo São Lucas
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Está escrito que o Messias havia de sofrer
e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia
e que havia de ser pregado em seu nome
o arrependimento e o perdão dos pecados
a todas as nações, começando por Jerusalém.
Vós sois testemunhas disso.
Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai.
Por isso, permanecei na cidade,
até que sejais revestidos com a força do alto».
Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia
e, erguendo as mãos, abençoou-os.
Enquanto os abençoava,
afastou-Se deles e foi elevado ao Céu.
Eles prostraram-se diante de Jesus,
e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria.
E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.
15 maio 2010
Bento XVI - Encontro com o mundo da Cultura
Venerados Irmãos no Episcopado, Distintas Autoridades, Ilustres Cultores do Pensamento, da Ciência e da Arte, Queridos amigos,
14 maio 2010
romy schneider pour alain delon
eu que olho para ti,
o instante em que nos cruzamos
contra as leis do tempo e da probabilidade,
este rectângulo digital,
o oráculo que resta em tempo de deuses descrentes.
um imenso adeus, uma e outra e outra e uma vez.
e, contudo,
esse olhar teu em mim
e este olhar meu em ti,
faísca frenética,
metafísica amorosa ao final da tarde que finda,
amor fundo que se afunda
constelação que se apaga.
nenhuma beleza se mede
por possibilidades ou lucros imediatos
- antes pela louca certeza
de que somos absolutamente possíveis,
como este nosso amor
entre quem morreu há décadas, tu,
e quem vive quase morto, este metafórico e sulfúrico eu,
que ainda sou.
gi.
13 maio 2010
Deixa-me rir...
PO
12 maio 2010
12 de Maio
Foi hoje, mas há nove anos, na processão das velas em Fátima. Aos meus ombros ia uma criança que não voltaria lá, porque o mundo pode ser traiçoeiro. Talvez por isso, também, goste de lá voltar sempre que posso: para sentir nos meus ombros a criança que não pôde voltar.
Olho para dentro de mim e quero acreditar que há sempre alguma coisa que muda neste dia, que se modifica para melhor. Talvez dure pouco e daí a necessidade do regresso.
Nostalgicamente, fica aqui algo que escrevi a propósito desse dia de hoje, mas há nove anos. É como se eu me separasse de mim próprio e escrevesse sobre o eu que fui naquela noite.
Perceberão os que me conhecem, imaginarão os que não sabem da minha história.
JdB
---------------------
A quinze metros de mim, não mais, um grupo de peregrinos, tão igual e tão diferente de tantos outros, chamou a minha atenção. Eram pessoas relativamente novas, dos seus quarenta e poucos anos, com crianças de várias idades. Dei por mim a fixar a vista num pai que levava uma filha aos ombros. Porquê, não faço ideia. Não havia nada naquele quadro que merecesse uma atenção especial ou mais demorada. Um olhar farol sobre o recinto mostraria com certeza inúmeros pais com filhos ao colo, aos ombros, às cavalitas. Porquê aquele, meu Deus? Enfim, mistérios da mente para os quais nem sempre temos explicação. Alguém que estava ao meu lado apercebeu-se da minha curiosidade e murmurou-me ao ouvido, entre duas Ave-Marias, a história daqueles personagens anónimos. Confesso que fiquei perturbada. Não só porque a minha cabeça, dos milhares e milhares de peregrinos que ali estavam, se fixou especificamente naqueles – que quem estava comigo conhecia -, mas também pela própria história. Na realidade, há acasos na vida de uma pessoa que, de tão extraordinários, mais vale ficaram sem um entendimento lógico que lhes tire o encanto.
O terço continuava, rezado em várias línguas, dez ou doze nacionalidades irmanadas na mesma fé que não olha a fronteiras nem a classes sociais. Não é preciso ser-se devoto de Fátima para saber que o fenómeno ultrapassou de longe os limites daquela pequena terra, se estendeu à Europa mais a Leste. Deixei-me ir embalada naquela ladainha, mistério após mistério, Ave-Maria, Pai-Nosso, um sem fim de orações com os dedos a percorrerem lentos as contas do Rosário. A minha mente era uma confusão de sentimentos, as ideias como bolas percorrendo anarquicamente uma mesa de bilhar. Era a angústia devido ao estado de saúde do Joaquim, o pensamento desesperado ‘faço tudo o que for preciso para o salvar’, lado a lado com uma imensa perturbação por não saber com exactidão o que ali estava a fazer, as dúvidas de fé a contribuírem para o desassossego do espírito.
Findo o terço começou a procissão da velas, um dos momentos altos da Fátima do 13 de Maio. O andor continuava o seu percurso pelo recinto e, ao som de cada refrão, os peregrinos sentiam seguramente o mundo inteiro mais iluminado, vela ao alto, corações ao alto, os olhos postos no andor e a alma no Céu. Entrei mais uma vez naquele ritual de fé, como se quisesse mostrar a Nossa Senhora que eu estava ali, que precisava dela, sem na realidade ter uma opinião muito definida do seu verdadeiro poder e da sua influência na minha vida. ‘Rogai por nós que recorremos a vós’.
A minha atenção dividia-se de uma maneira quase ostensiva entre o ponto onde se encontrava a imagem de Nossa Senhora e aquele quadro familiar que, indiferente ao meu olhar e à minha curiosidade, prosseguia a sua jornada de devoção. O pai mantinha a filha aos ombros, esquecendo possivelmente o esforço físico, subjugado por um peso muito mais difícil de suportar. Mesmo na escuridão da noite iluminada por uma miríade de velas, consegui olhar ambos nos olhos. Surpreendeu-me como lhes consegui ver – no mesmo instante - o sofrimento e a esperança, a angústia e a confiança. Uma mistura de sentimentos que eu admitia não conseguir vislumbrar em toda a sua dimensão faltando-me, claramente, a experiência da maternidade para sentir o que é o verdadeiro amor por um filho. Naquela imagem tão singela estava o esplendor e a miséria das nossas vidas, o princípio e o fim de tudo. ‘Ave, Ave, Ave Maria’, pai e filha elevavam os braços e imagino que ambos gostariam, na diferença do entendimento de cada um, que o andor se voltasse para eles, que Nossa Senhora lhes desse um sinal – ainda que imperceptível para todos os outros – que os tinha visto e que tomaria conta deles. Para sempre.
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- JdB
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