As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
31 janeiro 2013
Crónicas de um universitário tardio
Ad honorem Sanctae et
Individuae Trinitatis, ad exaltationem fidei catholicae et vitae christianae
incrementum, auctoritate Domini nostri Iesu Christi, beatorum Apostolorum Petri
et Pauli ac Nostra, matura deliberatione praehabita et divina ope saepius
implorata, ac de plurimorum Fratrum Nostrorum consilio, Beatum N. Sanctum esse
decernimos et definimos, et Sanctorum Catalogo adscribimus, statuentes eum in
universa Ecclesia inter Sanctos pia devotione recoli debere.
Foi com esta fórmula,
proferida pelo Papa aquando da proclamação de um novo santo, que dei início ao
meu ensaio intitulado: A Santidade, ou a perfeição dos dias quotidianos.
Está entregue, e será o último que partilho (partes, apenas) com os meus
queridos e inesperados fiéis leitores, que as crónicas de um universitário
tardio já deram, por agora, o que tinham a dar. A citação de Sophia de Mello Breyner encerra o ensaio.
(...)
Até há bem
pouco tempo vivíamos num mundo de apelo ao consumo, à imagem, ao ter mais do
que ao ser, ao sucesso, aos sinais exteriores, ao prazer, ao calcorrear sem fim
das ruas dos centros comerciais para comprar mais um artigo. A crise mundial,
com reflexos penosos em Portugal, alterou esta realidade – se não por via da
vontade de rever modos de vida, talvez pela via da necessidade de alterar modos
de vida. Hoje há mais desemprego, mais fome, há famílias abaixo do limiar da
decência humana, há horizontes sombrios, amanhãs que já não cantam, um imenso
mês que sobra quando o salário – ou a generosidade alheia – chega ao fim. Hoje
há ruínas, falências, humilhações, dívidas, impostos, abandonos.
Hoje há um muro que tapa a palavra esperança, e todas as forças individuais se
concentram na defesa do presente porque o futuro, até prova em contrário,
existe cada vez menos.
Vivemos um tempo em que não
há tempo, um momento dolorosamente duradouro das nossas vidas em que o arsenal
que nos resta de energia e resistência interior está voltado para a
subsistência, para a sobrevivência, para a dignidade da vida própria, para a
manutenção dos limites que cada um define como sendo os mínimos que não o
aviltem. Em cada casa de família há desemprego, verba escassa para a faculdade,
emigração, crises afectivas que a luta diária potenciou. Em muitos recantos
escondidos e envergonhados há choros, olhos cavados por noites insones, mãos
inquietas devido à inexistência de soluções.
Neste cenário de
desesperança, o que significa ser-se santo? O que significa, na verdade, a
perfeição das vidas quotidianas, quando a nossa procura é, cada vez mais, a da
satisfação das necessidades mais básicas onde o transcendente tem pouco lugar?
(...)
Enquanto houver alguém que
se disponha a lutar pela reposição da justiça, que perdoe ofensas, que rasgue
um pouco do seu manto para cobrir a nudez do outro, que se sinta desafiado à
entrega gratuita e voluntária aos outros, que não desvie o olhar perante a miséria
que confrange ou que chore com a morte injusta, então o milagre e o heroísmo
conviverão connosco de mãos dadas. Enquanto houver alguém ao nosso lado que
teime em levantar o céu, no significado feliz que lhe dá o Prof. José Mattoso,
que encontre no seu sofrimento um sentido para a vida, que saiba oferecer uma
palavra a um velho abandonado ou uma mão a uma criança doente ou que arrisque a
sua vida pela vida dos outros, então a esperança de um mundo melhor mantém-se
viva. Enquanto houver alguém assim, por menor que seja o número desses alguéns
na multidão anónima de egoísmos, prepotências, comodismos, indiferenças, não
perderemos a esperança, e assumiremos a santidade - ou a perfeição dos dias
quotidianos - como uma possibilidade ao virar de uma esquina, numa fábrica,
numa vizinhança, num escritório, num hospital, numa escola, numa família.
Negar este caminho é
abdicar de uma vida grande, de uma vida maior do que nós, para abraçar um mundo
pequeno onde só cabe o eu que nos afasta do próximo, que nos cega de orgulho,
que nos ilumina a vaidade com uma luz efémera, que nos faz negar esta ideia
salvadora que nenhum dos nossos talentos é verdadeiramente nosso, apenas nos
foi disponibilizado para o serviço de um bem comum. Negar o caminho da
perfeição ou, melhor, o caminho da procura da perfeição, é viver num mundo
estreito, triste e sombrio, porque só se ilumina de uma vida própria e
egocêntrica. Um mundo que será sempre pequeno de mais.
***
[A poesia
é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O
amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o
encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e
por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação
todos os dias.][1]
JdB
30 janeiro 2013
Diário de uma astróloga – [44] – 30 de Janeiro de 2013
O trio Aquário, Urano e Prometeu
Quando
perguntam à astróloga “o meu signo é bom
ou mau?”, respondo que todos os signos podem ser expressos de forma
positiva ou negativa, e não há um melhor do que outro. Mas eu, Luiza, tenho preferências:
gosto imenso do Aquário. Ainda bem, porque o Sol está nesse signo desde 19 de
Janeiro e até 18 de Fevereiro.
A necessidade
arquetípica do Aquário é de liberdade e de obter novas perspectivas com
mudanças e progresso. Está ligado às invenções e à tecnologia. As personagens
aquarianas são de uma certa forma rebeldes, revolucionários, têm espírito
aberto e poucos preconceitos. Tanto podem ser altruístas e humanitários como
originais e excêntricos ou acumulando ambas facetas.
O símbolo de Aquário
parece uma corrente eléctrica e a imagem clássica ligada à constelação representa
uma figura humana canalizando a sabedoria do céu para a Terra
O planeta Urano regente de Aquário foi descoberto em 1781 por Sir William Herschel. Foi o primeiro planeta descoberto através da tecnologia de ponta da altura – o telescópio. Há milénios que não se baptizava um planeta e dar-lhe nome foi um processo complicado. Herschel quis baptizá-lo com o nome do rei George III, Georgium Sidus, ou com o seu próprio nome. Os outros astrónomos não acharam bem. O astrónomo alemão que estudou a órbita deste novo planeta, Johann Bode (um Aquário nascido a 19 de Janeiro) sensatamente sugeriu Urano, nome do deus que na mitologia reinava sobre o céu e era pai do deus Saturno. Em 1789 foi descoberto um novo elemento baptizado “urânio” e a partir daí, Urano foi a denominação mais usada por astrónomos e astrólogos e, desde 1850, a única.
O planeta Urano regente de Aquário foi descoberto em 1781 por Sir William Herschel. Foi o primeiro planeta descoberto através da tecnologia de ponta da altura – o telescópio. Há milénios que não se baptizava um planeta e dar-lhe nome foi um processo complicado. Herschel quis baptizá-lo com o nome do rei George III, Georgium Sidus, ou com o seu próprio nome. Os outros astrónomos não acharam bem. O astrónomo alemão que estudou a órbita deste novo planeta, Johann Bode (um Aquário nascido a 19 de Janeiro) sensatamente sugeriu Urano, nome do deus que na mitologia reinava sobre o céu e era pai do deus Saturno. Em 1789 foi descoberto um novo elemento baptizado “urânio” e a partir daí, Urano foi a denominação mais usada por astrónomos e astrólogos e, desde 1850, a única.
Em termos físicos, o planeta Urano revela excentricidade (característica de aquário) porque a sua inclinação
é superior a 90°. Isto é, gira sobre si mesmo na horizontal e não na vertical, como
todos os outros. Em termos astrológicos começou a verificar-se também uma anomalia:
ao contrário dos outros planetas, cuja energia se assemelha à mitologia do deus
respectivo, a energia do planeta Urano, sincrónica com o comportamento humano e
assuntos mundanos, nada tem a ver com a mitologia de deus do mesmo nome.
Em 1978,
Richard Tarnas, psicólogo, historiador, astrólogo e filósofo americano, tem uma inspiração
e propõe a mitologia de Prometeu para a compreensão do Urano astrológico. Mais
tarde escreve uma monografia “Prometheus, the Awakener”, que aconselho a todos os
estudantes de astrologia.
O titã
Prometeu era um herói que se rebelou contra os deuses e lhes roubou o segredo
fogo para o dar à raça humana, permitindo assim o seu progresso e civilização. Foi
o primeiro humanitário! Zeus, furioso, castigou Prometeu, aprisionando-o contra
um rochedo onde todos os dias uma águia gigante lhe ia comer um bocadinho de fígado.
Este martírio durou até que Hércules o libertou e matou a águia.
Tarnas não
liga muito à parte sangrenta do mito, mas sim ao lado rebelde e humanitário e aponta, cheio de razão, que a energia de Urano também coincide com a do período em que
foi descoberto: a primeira revolução industrial, a revolução francesa e a declaração
da independência dos Estados Unidos.
Olhando para fenómeno
cultural dessa época, o Romantismo (1770 – 1840), constato que o mito de
Prometeu aparece na obra literária de expoentes do espírito romântico, tendo alguns deles fortes qualidades
aquarianas e/ou uranianas.
- Goethe com Urano em Aquário oposto a Mercúrio escreve o poema “Prometheus” em 1774 mas só publicado em 1789.
- Lord Byron nascido em 1788 com Sol, Vénus, Saturno e Plutão em Aquário escreve “Prometheus” em 1816.
- Mary Shelley nascida em 1797 com o Sol conjunto a Urano publica Frankenstein em 1818 com o subtítulo “The Modern Prometheus”.
- O seu marido, Percy Shelley, nascido em 1792 e também com Sol conjunto a Urano escreve “Prometheus Unbound” em 1820. Os seus escritos foram tão revolucionários que Gandhi afirmou ter sido influenciado por ele.
Estes
sincronismos levam-me a acreditar que Richard Tarnas tem toda a razão, e que a
mitologia de Prometeu é essencial na compreensão de Aquário e Urano.
O mito e a sua ligação à energia aquariana estava bem vivo quando, um século mais tarde, John D. Rockefeller Jr., nascido a 29 de Janeiro de 1874 com Sol, Vénus, Mercúrio e Saturno em Aquário em oposição a Urano, escolheu, como símbolo de progresso para o seu moderníssimo Rockfeller Center em Nova Iorque, a escultura de Prometeu, que muitos dos meus leitores já admiraram. Agora olharam com novos olhos!
O mito e a sua ligação à energia aquariana estava bem vivo quando, um século mais tarde, John D. Rockefeller Jr., nascido a 29 de Janeiro de 1874 com Sol, Vénus, Mercúrio e Saturno em Aquário em oposição a Urano, escolheu, como símbolo de progresso para o seu moderníssimo Rockfeller Center em Nova Iorque, a escultura de Prometeu, que muitos dos meus leitores já admiraram. Agora olharam com novos olhos!
No próximo
post falarei dos meus Aquários favoritos.
Luiza Azancot
www.astrocape.com
29 janeiro 2013
Crónicas de um universitário tardio
6ª feira passada entreguei o meu trabalho de Poéticas Contemporâneas, cuja nota ainda não sei. Partilho uma parte com os resistentes que quiserem chegar ao fim...
***
o
panoptismo e a fábrica do futuro
ou
como reduzir os níveis de entropia nos sistemas produtivos
como reduzir os níveis de entropia nos sistemas produtivos
1. Introdução
Uma fábrica rege-se por
princípios económicos fundamentais e comuns a todas as organizações com fins
lucrativos. Não obstante as preocupações
de ordem social, de valorização da pessoa, do respeito pelo seu crescimento
como ser humano e como trabalhador, o seu objectivo poderia resumir-se, numa
versão forçosamente redutora, a algumas ideias chave: redução de custos, aumento
de competitividade, maximização dos recursos, rentabilização do equipamento,
flexibilização. Se o apego ao sintético
nos obrigasse a usar uma palavra só, escolheríamos esta: eficácia. Paralelamente
a estes factores há, obviamente, a qualidade do produto fabricado, o cumprimento
das normas do ambiente, da segurança e da saúde no trabalho, o estabelecimento
de parcerias com fornecedores e clientes, a formação dos colaboradores, a
actualização tecnológica, o respeito pelas partes interessadas
Tudo isto concorre, no fundo,
para que a fábrica, no seu sentido lato de organização com fins lucrativos,
seja competitiva, ganhe quotas de mercado, ambicione a exportação, a
internacionalização, crie um nome que seja respeitado num mundo global onde as
fronteiras se esbateram, numa Europa que vê o seu parque industrial reduzir-se
lentamente, como uma folha de papel que se esboroa exposta aos ventos de
mudança.
Uma fábrica é apenas, na
maioria das vezes, uma espécie de braço
armado de uma empresa mais vasta onde convivem o Marketing, a
Contabilidade, os Recursos Humanos, as Vendas, etc. Para efeitos deste trabalho
não nos interessa se a fábrica é um centro de custo, se gera lucro, qual as
regras financeiras ou contabilísticas que se lhe aplicam. O que nos interessa é
uma visão simples desta realidade: uma fábrica é uma unidade, composta por
pessoas e máquinas, que tem de produzir com a máxima qualidade e segurança, no
menor tempo possível, com uma flexibilidade total.
2. Conceitos
2.1. Fábrica e linhas de montagem
Diz-nos uma definição que uma
fábrica é uma empresa destinada à
transformação ou conservação de matérias-primas ou à transformação de produtos
semifinais em produtos finais.
Por outro lado, uma linha de
montagem é um espaço onde se executa um
conjunto de operações elementares distintas, tendo em vista a montagem de um ou
vários produtos. Estas linhas são compostas por um conjunto de postos de
trabalho ligados entre si.
A produção em fluxo contínuo é
a chave de todos os sistemas de organização do trabalho numa instalação
fabril. A cadência, a entrada e a saída
são os pilares da linha de montagem, cujas vantagens são:
- resultados muito eficientes;
- menores custos de manipulação do material;
- operações muito simplificadas, que permitem a utilização de mão-de-obra pouco qualificada (barata);
- pequenos stocks intermédios;
- simplificação do controlo da produção (o sequenciamento baseia-se quase só́ na definição de uma taxa de produção).
2.2. A entropia e as equipas
Na termodinâmica, a entropia
está vulgarmente associada à quantidade de ordem, desordem e/ou caos num
sistema. Por outro lado, a entropia, que
pode reduzir-se por acção externa, é (também) uma medida da desordem no
sistema; quanto maior a entropia, maior a desordem. De acordo com a 2ª lei da
termodinâmica, a entropia do Universo tende para um máximo.
Paralelamente, em termos de
gestão de recursos humanos (e lembramos que o âmbito deste trabalho é uma
fábrica, uma unidade fabril, um microcosmos no mundo laboral actual) tem sido
de alguma forma evidente que alguns sistemas humanos, deixados em roda livre, isto é, sem controlo ou disciplina,
tendem para o caos, para a desordem. No fundo, como se uma linha de montagem
fosse a replicação, a uma escala miniatural, do Universo.
Obviamente que esta ideia-chave
não se aplica a toda a realidade humana de uma unidade fabril onde coexistem
técnicos ligados ao desenvolvimento de novos produtos, ao controlo da
qualidade, à reparação dos equipamentos indispensáveis à boa fabricação dos
produtos acabados, à monitorização da saúde dos colaboradores. Para estes,
ainda que enquadrados por regras e princípios, a liberdade existe, isto é, há alguma amplitude na forma como
entendem gerir o seu tempo, organizar o ritmo/posto de trabalho.
Ora, muitas destas áreas são
serviços de suporte, existem com o objectivo de apoiar o coração deste corpo produtivo. Poderíamos chamar a este órgão fulcral
e determinante o departamento de produção – não mais do que o conjunto de
pessoas a quem é atribuída a responsabilidade de fabricar, de acordo com
instruções claras e inequívocas em termos de especificação do produto, prazos
de execução e quantidades planeadas, o que é necessário para abastecer o
mercado, seja o mercado do consumidor final, seja o mercado da organização que
se situa a jusante.
Apesar da sofisticação mecânica
de muitos sistemas produtivos fabris, o facto é que a mão-de-obra humana ainda
desempenha um papel importante. A automação das várias tarefas é, para uma
enorme quantidade de unidades fabris, uma relativa miragem. Com as actuais
exigências de redução de custos, aumento de competitividade, maior
flexibilidade, etc., a autonomia das equipas/grupos de trabalho, tão em voga
nos últimos anos com os conceitos de lean
manufacturing, TPM (Total Productive Maintenance), toyotismo, é menor. Por
outro lado, a equipa ou grupo de trabalho (pessoas que realizam em conjunto
tarefas ou missões concretas) não são, ao contrário da família, da pequena
comunidade aldeã, ou do grupo étnico, equipas naturais, mas artificiais. Como
conseguir, então, um nível de produtividade e de eficácia nestas equipas
multidisciplinares, artificiais?
Citemos uma frase, de cujo
autor falaremos mais adiante: as disciplinas são
técnicas para assegurar a ordenação das multiplicidades humanas.
3. O mundo de hoje
Em meados do séc. XX, George Orwell publicaria Mil Novecentos e Oitenta
e Quatro. Em Airstrip One, uma província de Oceânia, e local principal onde se
desenrola a história, uma profusão de posters invade a cidade. Neles, o retrato
do líder vem acompanhado da frase Big Brother is watching you.
O mundo de hoje é orwelliano, ainda que nem sempre saibamos quem é o
Big Brother, ou o conceito se divida por uma quantidade imensa de pessoas ou
organizações que nos vigiam. Entre a saída de casa e o regresso, doze horas
depois, somos observados em permanência: numa bomba de gasolina, numa rua, num
banco, num parque de estacionamento. Em qualquer estabelecimento podemos ser confrontados com a frase que nos
sugere que sorriamos, porque estamos a ser filmados, frase que denota um olhar
invisível pousado em cada um de nós. Mesmo que não saibamos quem nos observa, temos a consciência dessa
possibilidade, e o nosso comportamento molda-se a essa hipotética certeza. Esta
possibilidade impressiona mais a imaginação do que os sentidos.
O conceito de privacidade desfaz-se nos dias de hoje A nossa intimidade é revelada nas redes
sociais – em particular no facebook. Esta exposição é irreversível e as nossas
actividades profissionais ou de lazer, os amores e desamores, os gostos e as preferências,
os conhecimentos e fotografias ficarão para sempre num mundo etéreo, acessível
a pessoas cujos rostos não conhecemos mas que nos conhecem, porque tiveram
acesso aos nossos passos, à nossa intimidade revelada. Apesar desta exposição,
que atingiu já o ponto de retorno, o facebook tem um tremendo sucesso,
remetendo os não aderentes para uma espécie de infoexclusão.
Noutra dimensão, centenas de candidatos perfilaram-se num balcão, ao
longo dos últimos anos, para se inscreverem num programa onde são filmados 24
horas por dia, expostos aos olhos de uma multidão anónima que liga as
televisões num voyeurismo obsessivo.
Hoje, ao contrário do 1984 de George Orwell, os vigilantes somos todos
nós, que espionamos os
passos dos participantes anónimos. O que antes era temido – o controlo e a
vigilância – e também o que era protegido – a privacidade e a intimidade –
tornam-se objectos de fascínio. Trocou-se a privacidade pela fama. A sociedade
de hoje, subordinada ao conceito do sou
visto, logo existo, é dominada por um olhar omnividente, que vai da
proliferação dos programas televisivos de voyeurismo explícito à epidemia da
vigilância que multiplica as câmaras encontradas a cada passo que damos.
Vive-se hoje numa sociedade escópica que tem como espectáculo a disciplina e o
controlo. O olho que vigia e pune é o mesmo que possibilita a fama.
É com esta realidade que
olhamos para os sistemas produtivos, em particular para as fábricas, onde uma
miríade de pessoas, artificialmente agrupadas, transformam matérias-primas em
produtos acabados. É preciso disciplinar esta heterogeneidade humana, criar
condições para que a sua eficácia se eleve a níveis de excelência. É preciso
organizar esta multiplicidade de gente que já vive e convive com uma sociedade
distópica e controlada, gente que é observada sem o querer, mas que também se
expõe voluntariamente à observação. É preciso organizar esta diversidade de
gente que se perfila numa linha de montagem para fabricar ou transformar
produtos, que se organiza para satisfazer critérios de produtividade, de
rentabilidade, de eficácia, de serviço ao cliente.
Que ferramenta temos ao nosso
alcance para organizar esta força de trabalho que, deixada em roda livre,
tenderá para a desordem, para o caos? Qual o modelo que leva um operário de uma
linha a sair de sua casa e a entrar
na sua fábrica e a perceber que esta
não é mais do que a extensão daquela, que não há ruptura, não há diferença
substantiva na forma de viver, de pensar e de agir, que a única evidência
visível de mudança está na eventual existência de um uniforme...
Este modelo, que é a chave para
o imbróglio humano, chama-se panóptico.
...
8. Conclusão
Poder ver tudo, ter a sensação de se ser visto
em permanência. Paredes transparentes, em vidro, que nada escondem, tudo
revelam. Por trás, câmaras ou pessoas, pouco importa. A sensação da observação
num hipotético sentido biunívoco, porque não sabemos nunca se observamos mais
do que somos observados, ou, se ao observarmos os outros, nos observamos a nós
próprios. Uma vida
feita de dias iguais, sem ruptura de ambientes, a conviver com um dispositivo
incorpóreo, virtual, insinuante, que torna o exercício do poder mais rápido,
mais leve, mais eficaz. A disciplina,
essa técnica para assegurar a ordenação das multiplicidades humanas,
a vencer o caos, a desordem, a artificialidade das equipas. A disciplina ao
serviço da eficácia da unidade, de um todo que é maior do que a soma das
partes. A disciplina que faz crescer as
aptidões de cada um, que as coordena, que multiplica a capacidade produtiva,
que alarga - sem enfraquecer - as frentes de ataque. A disciplina como
tecnologia.
O panóptico...
JdB
28 janeiro 2013
Vai um gin do Peter’s?
É tão bom saber que
vários recantos lindos do nosso país estão a ser descobertos e recomendados em
sites de turismo, dos aventureiros aos clássicos.
15 of the best historic cafes in Europe
La Closerie des Lilas,
Paris – best for literary history
Café New York,
Budapest – best for most beautiful
Café Central, Vienna –
best for classical music
Majestic Café, Porto –
best for Art Noveau
Cafe Chris, Amsterdam
– best for interesting locals
Caffe Torino, Turin – best for glamorous past
Ultieme Hallucinatie, Brussels – best for stained glass
decor
Café Slavia, Prague – best for understated
Jama Michalika, Krakow – best for quirky decor
Caffe Florian, Venice – oldest cafe in Italy
Café de l’Opera, Barcelona – best for
Opera fans
A Brasileira, Lisbon – best for old school elegance
Cafe Buchwald, Berlin – best for sweet tooth’s
Cafe Odeon, Zurich – best for famous past
O badalado TRIPADVISOR elege como dos Melhores Hotéis do Mundo o
ONYRIA MARINHA EDITION HOTEL & THALASSO(1), na Quinta da Marinha, com golfe, spa e uma localização
privilegiada. O termo grego «onyria» significa sonho e corresponde, na
perfeição, às imagens do boutique hotel. Aliás, a descrição feita pelo famoso
site parece referir-se ao próprio paraíso: «If you cannot find happiness during your stay here,
stop looking. There isn't a better place you'll
find. The staff will go above and beyond to meet any expectations you may have.
The
accommodations are second to none.». E conclui com uma visita ao campo de
golfe, para melhorar o handicap:
O site Globe Spots(2) coloca Portugal no TOP 10 dos destinos
imperdíveis para 2013, por muitas e boas razões: «Portugal oozes 'old European charm'. Medieval towns
and historical quarters are full of squares, churches and monasteries. Narrow
lanes are flanked by old skew houses with crooked balconies draped in drying
laundry. Here, neighbours still share the latest gossip or discuss politics
from their windows. Pastry shops and taverns are found in such abundance it
makes you wonder whether the Portuguese eat at home at all. The pace is
soothingly slow and any day seems to be a good day for a drink. Chances are
that after a few days in Portugal, you’ll find yourself sitting in a small
square with a glass of tawny port in your hand, no matter whether you
previously liked the stuff or not. It's just one of those things Portugal does
to you.»
O portal de turismo britânico
GlobalGrassHopper tem 2 cafés portugueses no TOP 15 da Europa, onde apenas
Itália merece mais do que uma referência. E falamos de países como França,
Áustria, Holanda, Espanha, República Checa, Hungria, Alemanha, Polónia,
Alemanha e Suíça, com uma única referência…
Os dois eleitos nacionais
são o Majestic no Porto e a Brasileira em Lisboa. Claro que teríamos mais
(talvez até outras) alternativas para propor, sobretudo em Lisboa, onde a
Versailles, a esplanada do miradouro de S.Pedro de Alcântara, as duas
esplanadas na Rua D.Pedro V (no Lost In e na boutique ao lado), para além das casas
de chá estrategicamente situadas na Graça ou junto ao Castelo ou nas bordas do
Tejo, tornariam quase impossível ficarmo-nos só por uma… Mas esta foi a
selecção de cafés históricos preferidos da escritora e música Holly J.Holly,
viajante compulsiva.
Vale a pena citar o
artigo, até pelas excelentes dicas para um chá ou café quente, capaz de nos
ajudar a descongelar do frio e abrigar da chuva e ventania louca deste tempo (no
site encontra-se uma imagem alusiva a cada café:
http://www.globalgrasshopper.com/destinations/europe/15-historic-cafes-europe/)
http://www.globalgrasshopper.com/destinations/europe/15-historic-cafes-europe/)
15 of the best historic cafes in Europe
Written by
guest writer Holly J. Holly is a travel writer and musician based in the UK.
When she’s not scouring Europe for her favourite historic cafes she also enjoys
travelling further afield. Her favourite travel destination is Japan, and her
favourite cities include Paris, Barcelona and Tokyo.
The Best Historic Cafés
in Europe – Once favourite haunts
of aristocrats, writers, poets and louche libertines, many of Europe’s coffee
houses have a colourful history. Where better to sample of a slice of Europe’s
bygone past than one of the beautifully preserved historic cafes? From fancy
Art Deco to one of Amsterdam’s oldest brown cafes here are 15 of the best
historic cafes in Europe:
La Closerie des Lilas,
Paris – best for literary history
La Closerie des Lilas is the perfect place to visit on Paris weekend breaks. A former philosopher’s favourite, the cafe is
known for its rich history of hosting such heroes of literature and art as
Ernest Hemingway, Henry Miller, Apollinaire, Cézanne and Picasso. Every Tuesday
night great thinkers, artists and poets would pile into La Closerie and mull
over the latest theories, sharing their work and their ideas. Fans of Hemingway
will most certainly want to visit the lush secluded terrace where the great
author spent endless hours scribbling out his work. Hemingway lived a mere
stone’s throw from the café and his favourite place at the glistening mahogany
bar is marked with a well-polished brass plaque bearing his name.
- 171 Boulevard du
Montparnasse 75006 Paris, France
Café New York,
Budapest – best for most beautiful
Café New York, Budapest is often mentioned as one of the most beautiful cafes in Europe – if not the world – and if you happen to
vist you’ll probably agree. Renowned for being the place to meet for early
20th century artists, today it’s also a restaurant offering both
traditional and Italian dishes to locals and tourists alike. The décor
is suitably lavish with elaborate and decorative traditional pieces
combined with more contemporary elements. Grab yourself a seat at one of the
mirrored tables you may be lucky enough to experience a short performance from
the local actors who frequently tread the boards at this popular café.
- 1073 Budapest, Erzsebet korut
9-11, Hungary
Café Central, Vienna –
best for classical music
With its marble pillars, glistening array of chandeliers
and sweeping ceilings Café Central in Vienna is a fabulous example
of early 19th century architecture. Nestled within a grand expanse of a
historic palace it has long been associated with intellectuals since its
opening in 1876. Most European cafés have used the idea of a Viennese café as a
template, and the Café Central is probably the most superb example of them all.
If refined elegance stirs you then you must visit this beautiful place,
afternoons are particularly pleasant as they offer live classical music
recitals. As you can imagine the acoustics are incredible.
- Herrengasse / Strauchgasse,
1010 Vienna, Austria
Majestic Café, Porto –
best for Art Noveau
Fans of Art Nouveau will adore the glorious Majestic
Café, Porto which exhibit’s a stunning façade, exquisite interiors and a
delightful winter garden. Famed for its Belle Epoque atmosphere it is perhaps
one of the most photographed and aesthetically pleasing cafés in the world, let
alone in Europe. The architecture was executed by the exceptional Joao
Queiroz. As well as the beautiful surroundings the café boasts a rich
calendar of cultural activities throughout the year.
- Rua Santa Catarina 112,
4000-442 Oporto, Portugal
Cafe Chris, Amsterdam
– best for interesting locals
Amsterdam is famous for its ‘Brown cafes’ so called for
their dark but cosy wooden interiors and the nicotine-stained walls and
ceilings. Cafe Chris – established in 1624 – is said to be the oldest
“Brown Cafe” in the city. A truly historical landmark located in the attractive
Jordaan area, people come for the genuinely old interiors and probably
also to meet a handful of colourful local personalities.
- Bloemstraat 42, 1016 LC
Amsterdam, Netherlands
Caffe Torino, Turin – best for glamorous past
Turin is actually the first place in Europe where coffee fever
first took hold and the Italian city is still home to a thriving cafe culture.
Another café that can claim a Belle Epoque atmosphere is the attractive Caffe
Torino, Turin first opened in 1903. Clustured amongst the other
coffee houses on Piazza San Carlo, Caffe Torino certainly stands out with its
rich velvet furnishings, expanses of wood and homely fireplaces. The café has
welcomed a whole host of famous names including Ava Gardner, Alcide De Gaspari
and pianist Ludovico Einaudi. Boasting a heated terrace since the 1950s, it
also has a refined restaurant which adds to its charm.
- Piazza San Carlo, 204,
10121 Turin, Italy
The Antico Caffe Greco, Rome – oldest cafe in Rome
Anyone who has visited Rome knows it’s filled with many
excellent cafes, but the one that really stands out is The Antico Caffe Greco. It is the
second oldest café in Italy, and the oldest bar and café in the whole of Rome.
Since opening its doors on Via dei Condotti in 1760 it has hosted such
historical figures as Stendhal, Goethe, Byron, Franz Liszt, Henrik Ibsen, Hans
Christian Andersen, Keats, Wagner, David Reynolds, Felix Mendelssohn, Maria
Zambrano, Levi and Casanova. More contemporary visitors include artists,
politicians and writers.
- Via Condotti 86 | Piazza di Spagna, Rome, Italy
Ultieme Hallucinatie, Brussels – best for stained glass
decor
Formerly a popular historic cafe, then closed and fully
restored ‘The Ultimate Hallucination” is housed in a mansion built in
the second quarter of the 19th century. With an elegant neo classical style filled
with beautiful stained glass the restaurant consists of three parts. The front
has Art Nouveau Empire style, the middle section refers to the Art Nouveau
style of Charles Rennie Mackintosh and the dining room of yesteryear has a
distinctive French Art Nouveau flavour. A truly unique place to dine
or grab a coffe.
- Koninsstraat
316, Brussels, Belgium
Café Slavia, Prague – best for understated
Café Slavia, Prague is
handily situated near to such beloved landmarks as Charles Bridge, Castle Hill
and the National Theatre. Since its opening towards the end of the
19th Century it has hosted a number of dissidents, artists and writers.
Even Vaclav Havel enjoyed a coffee here prior to his engagement as president of
the Czech Republic and supposedly, this is where Apollinaire used to sup
absinthe. Today it’s a more sedate example of Art Deco nostalgia, although
it still maintains a nationalist aura.
- Smetanovo nábřeží
1, 110 00 Prague, Czech Republic
Jama Michalika, Krakow – best for quirky decor
One of the quirkiest cafés in Europe has to be Jama
Michalika, Krakow. The walls are adorned with caricatures of the great
cabaret artists, actors and writers who have visited this favourite bohemian
haunt. With its secret back room hide out, delicious bigos stew and the
tradition of enjoying lashings of absinthe, European historic cafes don’t come
any more interesting.
- Floriańska
45, Kraków, Poland
Caffe Florian, Venice – oldest cafe in Italy
Caffe Florian
in Venice - first opened in 1720 –
is considered to be the oldest café in Italy, if not the world. Famous
patrons of the two room café include Goethe and the legendary
lothario Casanova. Today Caffe Florian has huge displays of diverse artwork
that grace the walls, ranging from comic strips to classical oil paintings.
Hosting the world-renowned La Bienniale de Venezia art festival, this café is
the perfect place to indulge in some Italian culture as well as enjoying some
of the finest coffee in Europe.
- Piazza San Marco, 56, 30124
Venice, Italy
Café de l’Opera, Barcelona – best for
Opera fans
Fans of Art Nouveau will probably enjoy this cafe the
most. Idyllically located just across from the opera house amidst the
bustling hub of Las Ramblas, it is the perfect place to absorb the buzz of the
city as well as look out for familiar faces and meet new friends. It has
welcomed opera goers and performers for over a century.
- La Rambla, 74, 08001
Barcelona, Spain
A Brasileira, Lisbon – best for old school elegance
Lisbon is also known for its fine collection of historic
cafes. One of many people’s favourites is the ‘The Brazilian Cafe’ – one of the
oldest and most famous cafes in the city’s old quarter. Tourists flock to the
place drawn by its early original early 20th-century facade, old carved wood
and burnished metal decor and glinting bottles behind the bar. Service may not
be the quickest but at least it’ll give you a chance to people watch in
gorgeous surroundings.
- Rua Garrett 120, 1200 Lisbon,
Portugal
Cafe Buchwald, Berlin – best for sweet tooth’s
Many traditional cafes in Berlin specialise in
baking but this cafe has to be one of the oldest. The house specialty is
the cake, a tradition first started by confectioner to the Royals, Gustav
Buchenwaldmade. Opened in 1900, decor still lingers in a bygone era
with kitschy wallpaper, floral curtains and simple furniture will
give you an authentic feeling of sitting in old-fashioned parlour.
- Bartningallee 29, 10557
Berlin, Germany
Cafe Odeon, Zurich – best for famous past
One of Zurich’s most famous cafe, this fancy Art Deco
establishment -opened in 1910 – was a favourite haunt of a number of
writers, painters and musicians. Albert Einstein, James Joyce, Lenin and
Picasso are just a handful of its former famous visitors – giving it a
reputation as a meeting point for intellectuals and high society. Today it
draws a crowd aching for a bit of Europe’s old school elegance with high
ceilings, brasserie fittings and formally dressed waitresses.
- Limmatquai 2, 8001
Zurich, Switzerland
Opções não faltam, no
Velho Continente, para passar uma boa tarde de Inverno entre quatro paredes ou
em plena natureza, por exemplo, num enclave delicioso de pinhal e mar (o tal,
de sonho), a pouco mais de 15 minutos de Lisboa. Demasiado bom para ser verdade?
Sem dúvida.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
_____________
(1) http://www.onyriamarinha.com/pt/Onyria-Marinha-Edition-Hotel-Thalasso.aspx
(2) www.globespots.com/besttravel.php?year=2013#.ULjC5cchEeA.facebook
27 janeiro 2013
3º Domingo do Tempo Comum
Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico.
No filme Casino Royale, M e James Bond encontram-se em circunstâncias algo tensas. Ela diz-lhe (e cito bastante de cor): a arrogância e o auto-conhecimento nunca se deram bem... O resto do diálogo não interessa. O espião faz aquele ar de trabalhador das docas e sai para matar os maus e para beijar as donzelas.
Não me enganei no dia deste post. Sei que é domingo, embora pareça estranho estar a falar do 007. Apanhei esta frase há uma semana, quando via apenas os minutos iniciais do filme, e achei curioso, porque estava a meio de conversas sobre introspecção, vantagem e necessidade de escutar, seja os outros, seja o nosso próprio eu. Pareceu-me ser mais uma coincidência significativa.
Pode continuar a parecer estranho esta conversa sobre introspecção ao Domingo. Mas eu explico: no meu caso - e é desse que falo - a introspecção que fui fazendo (de uma forma totalmente desorganizada) ao longo dos últimos anos, teve uma componente espiritual importante, isto é, na minha cabeça, seguramente confusa e anárquica, a procura de quem eu sou como homem não é independente da procura de quem eu sou como católico. Por isso, como dizia esta semana num jantar, encontrei sempre vantagem em ter um padre como interlocutor, desde que o padre cumprisse minimamente as funções de um psicólogo. E o padre que me acompanha há alguns anos cumpre essa função...
O que encontrei eu na introspecção que fui fazendo? Um auto-conhecimento seguramente mais sólido. Conheço-me mais profundamente, sei melhor onde estão as minhas inseguranças e fragilidades, quais são os meus defeitos e qualidades, quais são as características com que embirram os que vivem mais junto de mim. Sabendo isso posso tentar mudá-las ou, em não conseguindo, posso revelar a minha incapacidade. Mas a introspecção permitiu-me viver melhor com todas essas características e saber expô-las a quem me está próximo. Revelar um defeito ao próximo é, na expressão feliz da minha querida amiga LA, astróloga de plantão ao estabelecimento, alumiar esse defeito. E ao alumiá-lo ele perde a carga sombria, obscura e escondida, e passa a ser algo partilhável. Se me pedissem para dizer, numa frase, o que tinha encontrado nesta caminhada de introspecção, eu diria: permitiu que eu vá vivendo (e o tempo verbal é importante) em paz comigo próprio.
A arrogância não se dá bem, de facto, com o auto-conhecimento. Numa visão simplista - e repetindo um argumento que já usei numa história de sensualidade e engano - para o auto-conhecimento são precisas duas pessoas dentro de um espaço exíguo: o eu que observa e o eu que é observado. Ora, se o eu que é observado é demasiado grande, muito auto-convencido (ou apenas cego...) como deixará espaço para o eu que observa? Como deixará que a sua consciência se descentre de si próprio para se analisar?
Alonguei-me - e o tema daria para muito mais. Bom Domingo para todos, em particular para aqueles que me ouvem falar mais sobre este tema, que me ajudam neste processo e a quem dedico o escrito.
JdB
***
Evangelho segundo S. Lucas 1,1-4.4,14-21
Visto que muitos
empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram,
como
no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se
tornaram Servidores da Palavra,
resolvi eu também, depois de tudo ter
investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua
ordem, caríssimo Teófilo,
a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que
foste instruído.
Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua
fama propagou-se por toda a região.
Ensinava nas sinagogas e todos o
elogiavam.
Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume,
entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.
Entregaram-lhe o
livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está
escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a
Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos
cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos,
a proclamar
um ano favorável da parte do Senhor.»
Depois, enrolou o livro, entregou-o ao
responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos
nele.
Começou, então, a dizer-lhes:
«Cumpriu-se hoje esta passagem da
Escritura, que acabais de ouvir.»
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