05 agosto 2008

Impressões de viagem aeronáutica


Saí ontem de casa eram 14.15h e cheguei ao Zimbabué às 12.30h (uma a hora a mais do que em Portugal) do dia seguinte. O número de horas que mediou o chegar e o partir foi quase sempre dentro de um avião, a ouvir informações de segurança sobre as máscaras de oxigénio.
Amiga de amigo meu ofereceu-se para me facilitar a vida no check-in; assim, garantiu-me lugares excelentes dentro da condição económica, porque para mais não dava. Mas mesmo isso foi um bálsamo para um homem que tem 1.86m, um peso que o pudor impede de revelar, a quem lhe foi diagnosticada uma hérnia discal e que sofre de um ataque irritante e incomodativo de gota. Conseguiram-me o melhor, considerando o quadro de miséria em que se encontra o cinquentão.
Tendo sido um viajante frequente, e com uma relação com a tentação fortemente judaico-cristã, tenho uma recomendação para todos: recusem liminarmente o primeiro lugar da classe económica. Se necessário for, que se viaje com os joelhos esmagados, os artelhos num sofrimento de cãibra permanente, a coluna num clamor de angústia por um osteopata. Eu explico, porque viajei sempre na 1ª fila da classe económica:
De Lisboa para Frankfurt detive o meu olhar numa business class vazia, onde o espaço para estender os membros inferiores que Deus me deu era fortemente convidativo. Ali respira-se luxo - mas não havia candidatos, a não ser os que não têm direito a. De Frankfurt para Joanesburgo são 10 horas de viagem 10. Quem está nas últimas filas da zona dos que não podem ou não querem remete-se a uma infelicidade que é cega. Quem, como eu, ia na primeira fila, saliva perante a visão, um metro à frente e por detrás de uma cortina que tapa o luxo burguês, de um copo que tilinta num cristal da boémia, de um pano quente que ensopa as faces num aroma de lavanda, de uma hospedeira que distribui revistas e ementas, de um ecrã individual, porque o colectivismo é para depois da fila 33.
De Joanesburgo para Harare o voo é menos tentador. Uma hospedeira, com umas medidas físicas claramente incompatíveis com a largura do corredor, pergunta a meia dúzia de pessoas, sentadas na zona das portas de emergência, se são capazes e estão dispostas a ajudar no caso de uma evacuação. Um inglês com ar colonial diz logo que sim, porque o Império Britânico se construíu desta forma; a senhora idosa na minha fila esbugalha os olhos de terror, antes de ceder uma carteira que faria as delícias da pocahontas; um nativo, de boné de pala enterrrado até à arcada supraciliar desinteressou-se do assunto, continuando a conversar com o vizinho. Foi chamado à realidade pela assistente de bordo, que lhe assentou uma palmada no braço que me pareceu de uma intimidade pouco profissional.
Cheguei a Harare numa décalage quase angustiante com a minha mala, que ocupa espaço desnecessário num contentor qualquer - provavelmente em Joanesburgo. Hoje tenho um jantar, e talvez vá de smoking, que é a fatiota mais disponível.
Tentarei voltar amanhã, com menos peripécias e mais descrições. Assim consiga ligar o meu computador à internet - que hoje ocupo um emprestado.

7 comentários:

ana v. disse...

Ah, muito bem... vejo que isso começa "em bom", de smoking e tudo! Já me passou por completo a pena que tive da sua condição aérea...
Venham de lá mais notícias, e dê um beijo meu ao nosso caríssimo embaixador (enfim, se não lhe der jeito não leve a coisa à letra...) lol

JdB disse...

Já osculei o nosso embaixador que não se importou com o facto, dado que vinha por sua encomenda. A mala continua desaparecida - talvez amanhã ponha fraque...

Anónimo disse...

o que começa de "smoking" só pode acabar em banhos de espuma....
Em grande JB
Um beijo tambem ao embaixador , discreto claro...
Por aqui o calor aperta e os Açores ja tão perto..

Anónimo disse...

Lamento que a mala não tenha chegado consigo, é sempre chato;embora o seu caso seja diferente, percebe por que é que eu nunca viajo com mala de porão.Pai

JdB disse...

Rocha: Já o beijei por todas, embora esta conversa "pública" possa por em risco a carreira do embaixador - ou talvez não...

JdB disse...

Se eu pudesse viajava também com a mala na mão. Mas atendendo ao tamanho da dita... Já chegou, entretanto (supostamente)

Anónimo disse...

Ah, grande João, começa a aventura!

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