Cheguei há exactamente uma semana. Altura para algumas notas dispersas sobre sensações e impressões:
Internet: Não obstante os esforços inexcedíveis da chanceler da Embaixada, Manuela Chaby, a minha ligação ao mundo da internet continua por um fio (telefónico). Tenho os serviço mínimos, que me permitem enviar SMS via Vodafone PT, actualizar o blogue, receber e enviar correio electrónico. Carregar fotografias e comunicações pelo Skype estão, para já, arredados do mundo das realidades. Fica aqui o agradecimento renovado à Manuela - pela simpatia e disponibilidade permanentes, nestas e noutras questões logísticas / financeiras / informativas.
Meteorologia: as manhãs surgem gloriosas, sem núvens no céu e uma temperatura fresca e simpática. As tardes tendem a ficar mais quentes e rondam, neste momento, os 24ºC. Quando cai o sol fica frio, e a camisola torna-se traje (quase) obrigatório.
Trabalho: tenho o privilégio de trabalhar no alpendre com vista para a piscina e para o lindíssimo jardim da residência (fotografias já publicadas aqui). Tudo seria idílico se não fosse o ruído constante e mecânico do gerador que nos acompanha diariamente - nos últimos dias ao longo de várias horas. Quando vem a energia da rede - ou se desliga a máquina infernal para poupança do equipamento - cai um silêncio que surpreende, mas que é inspirador, apenas quebrado pelo som dos pássaros. Não há motoretas ao fundo, carros que passam, cães que ladram dos jardins vizinhos.
Redondezas: saindo da residência e voltando à esquerda, defrontamo-nos com casas semelhantes, como já referi anteriormente, amplas e espaçosas, relativamente baixas, com muros altos e redes de protecção (alguma electrificadas). Se voltarmos à direita - no caminho que nos levará ao centro, a paisagem é mais incaracterística e não tão simpática.
Bancas: em cada esquina (não estará um amigo, como cantava o Zeca) mas há um grupo de gente local, com um caixote de madeira voltado ao contrário a vender meia dúzia de tomates, algumas cenouras e laranjas. Não são bancadas grandes, não são quantidades grandes. Dá aspecto de ser uma tentativa, inglória, quiçá, de facturar uns tostões.
Estradas: a beira das estradas está povoada de zimbabueanos, parados como quem aguarda por nada, ou acenando uma mão num braço caído ao longo do tronco. O que fazem estes (que se contam às dezenas) que manifestam um movimento mínimo? Pedem boleia - porque os hábitos cá são assim.
População: a população branca, versus a preta (diz-se preta ou negra?) é inferior a 1%. Significa que, salvo alguns locais frequentados maioritariamente pela população branca, o nosso olhar cruza-se, quase sempre, com os de cá. São geralmente afáveis, simpáticos, educados e têm, ao que me foi dito, o grau de escolaridade mais elevado em toda a África.
Finanças: Desde 1 de Agosto que entrou em vigor uma nova política monetária. Assim, foram retirados 10 zeros (parece-me) a todas as notas. Reina, agora, o dólar zimbabueano revalued. Para estas coisas sou engenheiro - naquilo que os engenheiros têm de pior. Preciso de estabilidade para perceber as engrenagens. Escusado será dizer, por isso, que ainda não entendo o preço das coisas, a lógica que preside aos câmbios, o que é barato ou caro.
Feriado: Ontem foi Dia dos Heróis. O Zimbabué presta homenagem aos bravos (gallant no original) filhos e filhas da nação que tombaram para proporcionar a liberdade de que todos gozam agora.
8 comentários:
Ah, caraças! O que eu gostava que alguém chegasse aqui e tirasse dez zeros ao empréstimo da casa que acabei de comprar! Pensando bem, JB, tu tens uma soooooorte!
Diga-lhes que mandem esses dez zeros (à direita, claro) para a minha conta bancária, se não os querem aí...
OI AMIGUINHO!
Que bom saber que também aí há sempre uma mão amiga e desinteressada!
( D. Manuela, em nome de algumas Amigas, o nosso Bem Haja pela sua preciosa ajuda. )
Até já...
Que beleza! "Mulher", mais do que "Senhora".
Calculo que seja ainda cedo para termos a sua impressão sobre a Mulher Africana, a do Zimbabué.
Assim à primeira vista que tal?
"Despenteada", irriquieta , nervosa ou .... "penteada", calma e serena.
Há gritos nas ruas? As mulheres gritam? Mesmo quando não devem?
Não creio.
Até já,
Resposta conjunta:
- Não há zeros para ninguém, não há nada para ninguém, vamos embora manel.
- A mulher do zimbabué não é, à primeira vista bonita. Nunca as vi gritar. Hoje, que irei a um flea market, talvez as veja no seu esplendor de genuinidade. Talvez não gritem. Talvez... O que pode ser bom - sobretudo se não houver motivos para tal.
Caro amigo João,
Gostei de ler as tuas prosas e de saber das notícias mais recentes.
Gostava ainda de estar aí, para rumarmos a Sul ou Nascente, na altura própria. Lembras-te de NY, há longos 27 anos!?
Espero que, apesar de eng., aprendas a lidar depressa com a inflação e os números a tender para infinito!
Saudades a "monsieur l'ambassadeur".
Grande abraço,
FQ
Meu caro FQ: e nós gostaríamos muito de te ter por cá. Ainda nos riríamos com essa viagem há 27 anos, numa altura em que as nossas preocupações eram bilhetes trocados, pizzas comidas com garfos de plástico, espiões no hotel...
Grande abraço para ti também.
Só para dizer um olá! E, que com tantos amigos no blog conseguimos trocar as voltas à distância.
Amanhã tenho que estar cedo em Sta Iria .. o que lhe faz lembrar? Controle de documentos, evidências .. quase aposto !
Um beijo,
São
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