16 julho 2011

Pensamentos impensados

Hoje vou dedicar-me a desancar o acordo ortográfico, esse aborto que nem merece maiúsculas.

Há anos, a RTP importou uma telenovela brasileira que teve um merecido sucesso: Gabriela Cravo e Canela; a telenovela era uma adaptação de um livro de um enorme escritor, Jorge Amado, e tinha um elenco fabuloso. A partir daí (Sinatra diria ever since that night) não mais pararam as importações linguísticas brasileiras: chuteiras em vez de botas, eventos em lugar de acontecimentos, fila em vez de bicha (os bichas de lá não gostam, comam menos) ingressos em lugar de bilhetes ou entradas, tchau em vez de adeus, etc.

As mesas do pequeno almoço das telenovelas portuguesas encheram-se de frutas e sumos, substituindo o casqueiro e o café de cevada. Passaram a tratar-se as pessoas pelo nome próprio, independentemente do grau de intimidade. Todos são senhor José, senhor Joaquim, tendo-se chegado à ordinarice de o 1º Ministro (RIP) ser conhecido por "Engº" José Sócrates.

Algumas palavras viram-se privadas de letras só porque estas eram mudas; (a grande maioria dos deputados são mudos e não são suprimidos nem ninguém os faz desaparecer). Com este suprimir perde-se a origem, a etimologia, como se se quisesse que os antepassados desaparecessem. Se as letras mudas podem desaparecer, por que não "capar" os H iniciais? Qual a diferença entre habitar e abitar? As palavras com 2 "s" passariam a grafar-se com "ç". 

Os ingleses têm a sua língua, independentemente dos americanos serem muito mais; o facto de o Brasil ter uma população 20 vezes superior à de Portugal não é razão. Gente que não sabe conjugar, que diz "tu sabe" mistura o você com o tu e com o vós é que deveria aprender o português de Portugal.

Há tempos vi na TV um ministro de Portugal a dizer "presidenta". Embora a seguir se tenha rido, não deixou de dizer uma patetice. Só me falta ver Santo António grafado Antônio.

Portugal está a agachar-se, e quem muito se agacha... O que me falta em conhecimentos linguísticos, sobra-me em patriotismo.

SdB (I)

3 comentários:

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo consigo.
fq

Maf disse...

Concordo,concordo, concordo. Dá-me nervos assistir à desfiguração da nossa lingua. Já não bastavam os erros gramaticais e ortográficos que os nossos próprios filhos - nova geração - insistem em cometer ao escrever, o aparecimento de toda uma nova linguagem utilizada nos telemóveis, chats, etc... vem agora o acordo desvirtualizar ainda mais a lingua de Camões! Como cidadã livre, pagadora de impostos e cumpridora das minhas obrigações cívicas, decido em consciência NÃO aderir ao acordo. Será que irei presa ?
Maf

Anónimo disse...

NUNCA aderirei ao Acordo. Graças a Deus, já não estou na escola. É bom que se fale sobre isto. No Facebook´- não sei se o SdB(I) "frequenta" - há um grupo enorme que debate o assunto. pcp

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