26 julho 2011

Duas últimas


António Variações, nome artístico de António J. Rodrigues Ribeiro, minhoto de Amares que veio para Lisboa com somente 12 anos, é alguém que continuo a ouvir com vontade e prazer, passados mais de 25 anos sobre a sua morte. Era ainda pouco ou nada conhecido, em meados da década de 80, e já eu e um dos meus irmãos o procurávamos com avidez e persistência na telefonia e nos singles. A brincar, talvez porque, antes de ser barbeiro (cabeleireiro, como agora se diz) foi sacristão na Charneca da Caparica, uma terra situada perto daquela onde vivíamos!

Tendo estado presente hoje numa auditoria da Qualidade – área, entre outras, em que o dono deste estabelecimento é um barra – não posso deixar de fazer o paralelo com a qualidade de Variações como compositor e autor. Tendo morrido muito cedo, com 39 anos, deixou uma obra curta e diversificada, que influenciou de forma marcante a música portuguesa. Canções suas nunca editadas vieram largos anos depois da sua morte a ser interpretadas por nomes importantes da nossa música, como Manuela Azevedo ou Camané.

A arrepiante letra do tema que escolhi fala por si. A liberdade, a excentricidade, a solidão, a dificuldade em se perceber a si próprio, são traços de uma personalidade marcante, diferente e, atrevo-me a dizer, com laivos de genialidade. Como li a alguém já não sei onde, esta música e esta letra são um autêntico “hino a todos os desalinhados deste mundo”. Não me considerando um “desalinhado” e não subscrevendo algumas das opções de vida de A. Variações, não posso concordar mais. 


Espero que gostem!

fq


3 comentários:

Anónimo disse...

Acho interessantíssimo o perfil do António Variações e gosto imenso que o traga aqui. Nem gosto tanto da voz ou da sonoridade das canções ... gosto sim do perfil, da coragem de ser, das letras das músicas, do "diferente" que ele foi numa altura em que Portugal era muito igual... boa escolha, fq. pcp

JdC disse...

Gosto sim senhor. Principalmente pelas mesmas razões aduzidas pela comentadora anterior. O homem era de facto diferente. No estilo, na sonoridade, na atitude e até no nome.
O vídeo é uma grande celebração gay, que mostra pouco a faceta sacristão do Variações. Mas também não foi esta que o celebrizou.
Abraço.

JdB disse...

A vantagem de ser o terceiro comentarista é o facto de podermos aproveitar o que outros já disseram com qualidade superior. Concordo com tudo - a diferença, a coragem, talvez, a atitude. É bom olhar para este espaço (o meu, obviamente...) como o lugar geométrico da pluralidade, onde até se divulga a celebração gay, na expressão mais hetero de quem a proferiu.

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