17 junho 2012

11º Domingo do Tempo Comum

Enquanto houver sobre a terra alguém que procure levantar o Céu, quer dizer, implantar um pouco de bondade sobre a Terra, restabelecer equilíbrios, perdoar ofensas, respeitar o "Céu", renunciar ao poder, plantar uma árvore e regá-la todos os dias, vibrar com uma cantata de Bach, arriscar a vida para matar a fome a alguém, comover-se com o riso de uma criança, sentir-se interpelado pelo mistério de Jesus Cristo no Getsémani como Aquele que carrega os pecados do mundo - enquanto houver alguém que teime em entregar-se à vida, sem pensar em si mesmo, mas tendo em mente os seus semelhantes - não é insensato manter a esperança. (José Mattoso, in Levantar o Céu).

Li este texto, que faz parte do prefácio da obra citada, ainda no Funchal. À minha frente apenas mar e, ao fundo, um pouco de terra com um casario a escorrer pela encosta. Na vastidão do oceano, tal como estava ilustrado na fotografia que publiquei na terça-feira, um homem sozinho praticava windsurf. Li este parágrafo e parei. Partilhei-o alto com quem estava comigo e talvez não tenha lido mais, para que tudo isto - a beleza do escrito, a confiança do homem e a grandeza do mar - ficassem cá dentro a enviar-me mensagens que nem sempre consigo decifrar, quanto mais explicar.

Sexta-feira, ao redigir este post, cruzei-me com o comentário de um dos padres da minha paróquia ao evangelho dominical. E começa assim: a parábola é um convite à esperança, à confiança e à paciência. Se eu tivesse pensado que deveria ter paciência, que mais cedo ou mais tarde as sensações daquele momento teriam uma qualquer revelação, talvez encontrasse uma série de coincidências significativas, mesmo que elas só tivessem lógica dentro de mim.

A semente de que fala o evangelho de hoje cresce e desenvolve-se fruto da sua dinâmica própria, desconhecida para o homem que mantém as suas rotinas diárias. O reino de Deus cresce e desenvolve-se dentro de nós apesar dos dias fagueiros ou turbulentos, no silêncio confortante ou no ruído inquietante com que nos defrontamos. O Seu tempo não é o nosso, porque os Seus critérios não são os nossos. A nós cabe-nos a esperança de que falava José Mattoso, a confiança metafórica do homem isolado no mar, a paciência compensadora de quem, num momento, vê clarificado um pensamento desconexo.   

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.

JdB



EVANGELHO – Mc 4,26-34
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Naquele tempo,
disse Jesus à multidão:
«O reino de Deus é como um homem
que lançou a semente à terra.
Dorme e levanta-se, noite e dia,
enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga,
por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo mete a foice,
porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda:
«A que havemos de comparar o reino de Deus?
Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra,
é a menor de todas as sementes que há sobre a terra;
mas, depois de semeado, começa a crescer,
e torna-se a maior de todas as plantas da horta,
estendendo de tal forma os seus ramos
que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus
com muitas parábolas como estas,
conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas;
mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.


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