31 dezembro 2012

Vai um gin do Peter’s?

Este tempo de Festas é tão intenso, que nem mesmo a voragem (por vezes, estafante) dos presentes, dos cartões e emails de Natal ou dos muitos jantares e encontros da época ensombram a graça especial deste período. Ainda que nos dispersem… A própria correria tem algo a ver com um sentido de Vida mais pleno, traduzido em golfadas de solicitações que nos vão despertando mais para a realidade. Nada fácil de verbalizar, pois pertence ao indizível. 

Quando os afazeres transbordam, ajuda-me rever esta tela de Rubens, que entra no telemóvel e no desktop do computador, mal chega o mês de Dezembro:


Adoração dos Magos, RUBENS, 1609, Museu do Prado
LEGENDA no site do Museu (versão anglófona): «The detail shows the Magi offering the Christ Child the gift of gold coins in Rubens’s great painting of The Adoration of the Magi. The detail reveals the artist’s daring technique: in addition to using a brush heavily charged with pigment to depict the highlights around the eye and in the hair, he also used the other end of the brush to make marks in the still wet paint in order to reinforce the curls in the hair and give them more movement. Rubens painted this work in 1609. In 1628 he returned to it, enlarging it with three wide strips of canvas and adding various figures including his own self-portrait.»

No hemisfério Norte, as noites alongam-se em crescendo, até ao solstício de Inverno, que simboliza lindamente aquela Noite histórica de há 2000 anos, em que os homens de boa vontade – de todos os recantos do planeta e de todas as gerações – foram reconhecidos e valorizados precisamente pela Boa Vontade. Coisa inédita!

Não será por acaso que tudo em volta do Natal convida a essa abertura ao próximo, levando-nos a espalhar o bem em redor.

Assim aconteceu, em Manhattan, numa noite gélida do fim de Novembro, quando um polícia ofereceu a um dos muitos sem-abrigos da Big Apple um par de botas novinhas em folha. O episódio foi gravado na câmara de uma turista e difundido na net sem os protagonistas saberem, comovendo milhares de pessoas que o visionaram no youtube: 



Num ápice, os dois ganharam estatuto de figura pública, tornando-se conhecidos pelo nome próprio: o polícia –Lawrence DePrimo; o mendigo –Jeffrey Hillman. Ironicamente, nem tudo se converteu em mar de rosas para o agora famoso mendigo da Time Square. Para não serem cobiçadas, explicou que teve de as esconder, pois poderiam custar-lhe a vida. Apesar de tudo, agradeceu ao seu benfeitor a tentativa de lhe aliviar o rigor do Inverno nova-iorquino: «Aprecio e agradeço o gesto do polícia… (e gostava que) houvesse mais pessoas como ele, no mundo». 

 O veterano de guerra com 54 anos, precocemente envelhecido após 10 anos de vida sem rumo, na rua.


A vida é tão misteriosa que mesmo ajudar quem precisa pode ser complexo e de retorno incerto… De facto, o sofrimento é gritante para demasiada gente. Por isso se percebe o grito lancinante do filósofo incrédulo e turbulento – Nietzsche (1844-1900) – muito a ver com o mistério da noite de Natal, que esteve longe de ser perceptível ou sequer acarinhado por todos os que o viveram directamente, naqueles tempos idos:

« Elevo, só, minhas mãos… ‘Ao Deus desconhecido’...
Eu quero Te conhecer, desconhecido. Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante»  (1864)

Num jogo de paradoxos bem expressivo, o filósofo dirige-se a um Deus que desconhece e, realisticamente, assume estar aquém do seu entendimento. No entanto, reconhece-O semelhante, pois sente-O mais próximo do que em qualquer lugar da terra: dentro de si. Na sua ânsia insaciável pelo infinito, costumava reclamar um horizonte para lá do planeta, querendo abarcar e engendrar o próprio cosmos: «É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.». Assim dava voz (no seu estilo inquieto e q.b. vaidoso) à marca mais profunda da criação, gravada precisamente no seu íntimo…

Giro também que tenha sido este filósofo radical e excessivo a explicar o amor na versão mais radical (mas que Alguém viveu), num patamar sobre-humano: «Há sempre loucura no amor, embora também haja razoabilidade (nessa) loucura.» Assim reivindicava uma medida divina para a humanidade, procurando devolver-lhe a verdadeira estatura inscrita no âmago da natureza do homem, na tal semelhança.


Continuação de Boas-Festas a todos, desejando um Novo Ano onde nunca falte a luz mágica das estrelas, que inundam a noite de uma beleza sem fim,

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

30 dezembro 2012

Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.

Nas últimas semanas, por uma razão ou outra, fui conversando com pessoas sobre o Natal. Às vezes não mais do que uma pergunta e uma resposta, às vezes diálogos mais demorados sobre o tema. De todas estas impressões ressalto um denominador comum: o Natal é um stress. Depois olho para trás, para quando a minha geração começou a ter filhos, a ter de organizar jantares e ceias com a família com quem também casaram, a correr estradas num vaivém com filhos ensonados e com fraldas sujas e a impressão era a mesma: o Natal é um stress. Significa isto que, em 30 anos, a minha geração pouco mais conseguiu fazer pelo natal do que proferir a frase a itálico, mesmo já não tendo filhos pequenos a exigir colo de horas trocadas.

Para os que têm a minha idade - e são esses que conheço melhor - o Natal é sempre um tempo negativamente intenso, e muitos de nós proferem a frase demolidora: quem me dera o dia 26 de dezembro... O stress é, muitas vezes, apenas uma tristeza. As famílias dividiram-se, alguns elementos desapareceram na curva da estrada, muitos têm pela frente uma vida financeira desafiante ou a angústia de um vazio profissional, as mesas da consoada, outrora cheias de gente, estão reduzidas aos participantes de todos os dias. O Natal é um momento que potencia sentimentos. Talvez a maior parte das famílias viva momentos difíceis de separações, mortes, desempregos, falências, e tudo isso assuma uma dimensão muito grande, como se fosse uma nuvem escura e sem fim a tapar-nos o sol que aquece e alegra. Para outros, o stress é apenas a dúvida - e a maçada que daí decorre - sobre aos presentes que se oferecem, para além do pouco tempo de que todos aparentemente sofremos, da correria que é tudo, da canseira, dos encontrões, das multidões nas lojas, da falta de estacionamento. 

Tenho medo que a minha geração - onde eu me incluo, porque também sou agente activo do discurso acima - esteja a matar a dimensão de esperança e de alegria que é o Natal. Tenho medo que não consigamos nunca ter uma consoada frugal porque não há dinheiro, e não dar presentes porque não há dinheiro e, mesmo assim, vivermos um Natal, se não feliz, pelo menos cheio de calor humano. O Natal não é isto em que eu e muitos outros o tornaram: uma época de trabalhos, de loiça suja, de noitadas e de excessos, de tristezas e de nostalgias, de queixumes sobre o comportamento do próximo, de tradições mantidas à custa de dores nas costas, rombos na carteira, más vontades. O Natal não tem de ser um stress, sob risco de ser preferível a igreja acabar com este feriado e devolver-nos o 1 de novembro...

Muitos de nós perceberam, pelos piores motivos, que podemos viver muito bem com muito menos. O despojamento forçado ensinou-nos isso, ao devolver-nos a noção de tempo de qualidade. Temos menos, talvez sejamos mais. É chegada a altura, se calhar, de aplicarmos esta realidade ao Natal. Apesar de todas as dores, todas as saudades, todas as angústias e todas as impaciências, desejarmos Santo Natal em vez de Bom Natal, revelando, com isso, que o importante é o Menino Jesus, que o importante é o Amor e que o importante é a Esperança. 

Obrigado por lerem o que tinha a dizer a mim próprio. Renovados votos de Santas Festas para todos.

JdB

***            

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa.
Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa.
Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem.
Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos.
Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura.
Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas.
Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas.
Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!»
Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?»
Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse.
Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.
E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens. 

29 dezembro 2012

Pensamentos impensados

Invasão oriental
A proliferação de lojas chinesas foi precedida por Alerta Amarelo?

Tradução com dicionário de sinónimos
He is rich; he has a good foot of sock.
É rico; tem um bom pé de meia.

Argumentação
Uma paulada na cabeça pode ser um argumento sólido;
já atirar vitríolo à cara pode ser considerado argumento líquido.

Incultura
Não percebo que estejam a ser perseguidos os manifestantes que atiraram pedras em frente à Assembleia da República; era tudo gente digna.
Jesus Cristo disse quem nunca pecou que atire a primeira pedra.

Infinitamente ciente?
Se Deus soubesse inglês, saberia que não devia expulsar Adão por ter comido uma maçã; an apple a day keeps the doctor away.

GOOD CARESSES - BOAS FESTAS

SdB (I)

28 dezembro 2012

A Kind of Christmas Song


On this day twenty four
Dylan’s at my front door
Sayin’, boy, it’s December
Did you remember to remember?

And as I turn my face
To reply, yes, I guess I do
He just leaves with no trace
Leaving me all alone with you

and with that amazing grace
which is pure light bursting through.

gi.

Falando do nada…

POSSUIREMOS A TERRA E O CÉU!

Grandes são a Terra e o Céu!

Grandes são o Sol, a Lua e as Estrelas!

Grandes são os vossos olhos e os vossos corações!!!

De um só golpe atingem tudo e, ao invés, podem nada ver, se obstinadamente se fecham à realidade que nos cerca… mas também à realidade em que temos vivido e, que, quantas e quantas vezes, nos permitimos desculpabilizar com um simples: “não era eu naquele momento…”

Grandes, seremos, pois, se quisermos!

Basta que tenhamos um olhar profundo e um coração aberto e largo, mas verdadeiro, como se fosse a porta grande, por onde devem entrar lufadas de alegria, todas as venturas…e até, as dores do mundo…
Sim. Até as dores do mundo!

Pois não julguem que ultrapassaremos a vulgaridade sem termos sofrido. E quão vulgar somos quando nos escudamos nesse sofrimento para justificar o merecimento de outros fins na nossa vida! A dor molda o aço humano para as grandes e pequenas lutas que se travam na vida.

E, se o Céu e a Terra são grandes e nos parecem estar a esgrimir contra moinhos gigantes de vento para a sua conquista, pensemos nisto:

- A Terra, ganhá-la-emos pelo esforço honrado do nosso trabalho. O Céu, pelo amor que dermos em cada dia a cada um dos  nossos companheiros de jornada e a todos aqueles que se cruzam nos nossos trilhos. A tudo isto, acresce a não menos árdua tarefa de conseguirmos ser VERDADEIRAMENTE  fiéis aos valores que, de boca escancarada, proclamamos ao mundo que defendemos. Se assim não for, ao menos reconheçamos que não somos suficientemente fortes e honestos para os seguir.

O Sol, também o ganharemos! E a Lua e as Estrelas, porque os vossos corações aquecidos pelo dom da esperança, que deve ser uma constante de qualquer fé, pode e deve ser Sol nos dias cinzentos e pode, na escuridão, ganhar as claridades únicas do luar e as luminosidades cintilantes próprias das Estrelas!

Para ganharmos tudo isto é porque o Senhor nos deu olhos bondosos e corações sensíveis…

Ponde estes dons a trabalhar e a render! Acreditem , que somos trabalhadores qualificados e exímios e, se quisermos, tão eficientes, ou mais, do qualquer braço robusto!

Que em 2013, ninguém se atreva a fazer greve nesta “empresa”  é o meu profundo desejo…

A todos quantos os seus pacientes olhos passarem em revista estas simples letras, o meu desejo de Santas Festas

JC


27 dezembro 2012

Deixa-me rir...

"Caros Audiophiles, the Christmas spirit for me began last weekend with a wonderful carols concert at the magnificent Royal Albert Hall. The Hall was lit by candles and the choir singers and the orchestra were dressed, Mozart-style, in 18C costumes.

I hope that by now you have enjoyed a wonderful Christmas with families and friends. I wish you all a 2013 full of excitement, prosperity, love...and great music!

My first selection is a lovely accappella song from Christmas 1973 by English folk group Steeleye Span. That same year produced some classic Christmas pop songs. Christmas in Britain would not be the same without hearing in every shop the sounds of Slade's Merry Xmas Everybody and Wizzard's I Wish It Could Be Christmas Every Day. But Steeleye Span's beautiful Gaudete, a surprise hit, reminds everyone of why we celebrate Christmas: 

Gaudete, gaudete
Christus est natus
ex Maria virginae
Gaudete




This second video celebrates love, and remembers the year gone by and sends best wishes for the coming year. A sweet melody that makes use of the Scottish song Auld Lang Syne (For Old Times) which everyone sings just after midnight to welcome the New Year:




Ate proximo ano!
 
PO

26 dezembro 2012

Um Homem

               José Mujica - Presidente do Uruguai


Após ouvir a intervenção de José  Mujica, actual  Presidente do Uruguai, proferida no Brasil quando da tomada de posse da Presidência rotativa da Mercosul (Mercado Comum do Sul),  apercebi-me  de que estava em presença de um Homem que recitava, não um discurso vulgar, mas sim, uma corajosa Homília de Verdade. Habituado a ouvir promessas e baboseiras, a minha alma pasmou!

Na juventude,  guerrilheiro do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, preso 14 anos por actividades terroristas, o Presidente José Mujica, que se diz  ateu (?), no seu discurso em perfeita comunhão com princípios Cristãos, mostrou ser  Homem de Bondade.  Ao afirmar que o homem não controla, mas sim,  é controlado pela Globalização, bem merecia receber o Prémio Nobel da Paz, ou talvez o Prémio Nobel da Verdade!!

Nascido em 1935, de profissão agricultor, humildemente vive numa casa modesta numa pequena fazenda perto de Montevideu. Vendendo ele próprio no Mercado local  os produtos hortícolas que a sua quinta produz, e que segundo diz lhe basta para o sustento da família, entrega mensalmente 90% do seu salário como Presidente do Uruguai a carenciados e a ONGs (Organização Não Governamental Contra a Pobreza)!



Ao ler os dados biográficos deste politico, recordei os percursos de Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, de Luther King e tantos outros. Se bem que diferentes nas acções e no carácter, têm em comum a tenacidade e o objectivo.  

Acredito que estes  homens controversos, de  vida  sinuosa, alguns a pisar as raias do "crime",  ao contrário dos oportunistas que vivem da política, sejam sinceros.

                   O caminho e a experiencia moldou-lhes o carácter, a idade deu-lhes o senso.
                   A bondade encoberta, que neles sempre existiu, revelou-se! 

FMCN (Natal 2012)

25 dezembro 2012

Dia de Natal



Dia de Natal

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 

No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. 

No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito. 
N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam. 
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 
O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. 
Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. 
Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d’Ele, exclamando: 
«É deste que eu dizia: ‘O que vem depois de mim passou à minha frente, porque existia antes de mim’».
 Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça. Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer. 

24 dezembro 2012

Véspera de Natal

(Jan Gossaert, ca. 1510)


Aos meus queridos e fieis leitores, e aos que comigo alimentam este blogue diariamente, desejo um Santo Natal e um Bom Ano. Que este tempo o seja de comunhão, de paz, de caridade e de inclusão.

JdB

Fórmula para o caos


À semelhança do ano passado, partilho neste espaço os melhores livros que li em 2012.


Um Político Assume-se - Mário Soares

Na Rua Árabe - Nuno Rogeiro

O Vento dos Outros - Raquel Ochoa

Free to Chose - Milton e Rose Friedman

Marcelo Rebello de Sousa - Vítor Matos

Os Nove Magníficos - Helena Sacadura Cabral

As Contas Politicamente Incorrectas da Economia Portuguesa - Ricardo Arroja

O Presidente, o Papa e a Primeira-ministra - John O' Sullivan

A Próxima Década - George Friedman

O Mistério Inglês e a Corrente de Ouro - João Carlos Espada

Democracia Liberal - A política, o Justo e o Bem - Pedro Rosa Ferro

Era Uma vez a... Revolução! - José Manuel Fernandes


Pedro Castelo Branco

P.S. - Ficam os votos de um bom Natal e feliz ano novo para o JdB e todos os que escrevem e lêem o Adeus, até ao meu regresso.

23 dezembro 2012

Domingo, Se Fores à Missa!

Um dos cânticos mais bonitos da nossa Liturgia.  O Cântico do Magnificat que significa saudação.

Magnificat (também conhecida como Canção de Maria) é um cântico entoado por Maria por ocasião da visita à sua Prima Isabel.  Na narrativa, após Maria saudar Isabel, que está grávida com aquele que será conhecido como João Batista, a criança mexe-se dentro do útero de Isabel. Quando esta louva Maria pela sua fé,  Maria entoa o Magnificat como resposta.

Magnificat


A minha alma glorifica o Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.

Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva:
De hoje em diante me chamarão bem aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.

A sua misericórdia se estende de geração em geração
Sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço
E dispersou os soberbos.

Derrubou os poderosos de seus tronos
E exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
E aos ricos despediu de mãos vazias.

Acolheu a Israel, seu servo,
Lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais,
A Abraão e à sua descendência para sempre

Glória ao Pai e ao Filho
E ao Espírito Santo,
Como era no princípio,
Agora e sempre. Amen.

UM SANTO NATAL PARA TODOS OS LEITORES DO ‘ADEUS’
MAF


Evangelho segundo S. Lucas 1,39-45.


Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia.
Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?
Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio.
Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»

22 dezembro 2012

Pensamentos impensados


Humores
Cavaco Silva disse que não se deixava pressionar.
Se abandonasse a cara esfíngica e a frases pitonísicas, veria o bom que é deixar que uma boa massagista o pressione, e que há vida para além da azia.
 
Medo
Deve ser giro ver uma centopeia a pôr o rabo entre as pernas.
 
Infracções
Quase todos os dias cometo o pecado original: como maçãs.
 
Traduções com dicionário de sinónimos
Do you want to be my even?
Queres ser o meu par?
 
Latim macarrónico
Baptizar, celebrar casamentos, enfim... são actividades à prior.
Já uma infecção no tendão de Aquiles é uma situação à posterior.

SdB (I)

20 dezembro 2012

Crónicas de um universitário tardio

De entre os géneros literários com que travei conhecimento na pós-graduação saliento hoje o Ensaio. Na cadeira Arte e Ensaio, excelentemente orientada pelo professor Gustavo Rubim, fomos lendo e interpretando vários, desde Montaigne (o pai dos ditos cujos...) até Jorge Luís Borges, passando por Eduardo Prado Coelho, Susan Sontag ou Almada Negreiros. Mais abaixo poderão ler um dos que mais gostei de ler, porque me revelou uma visão nova de um certo mundo - talvez mesmo de uma parte do meu. Vale a pena o esforço da leitura, apesar da aparente extensão e da tradução salpicadamente brasileira...

JdB

***


NAUTILUS  BATEAU IVRE 

A obra de Júlio Verne (cujo cinquentenário foi recentemente comemorado) constituiria um bom material para uma crítica estruturalista, pois é uma obra temática: Verne construiu uma espécie de cosmogonia fechada sobre si mesma, que tem as suas categorias próprias, o seu tempo, o seu espaço, a sua plenitude e até o seu princípio existencial.

Este princípio me parece ser o gesto contínuo do enclausuramento. A imaginação da viagem corresponde em Verne a uma exploração da clausura, e o bom entendimento que existe entre Verne e a infância não provém de uma mística banal da aventura, mas, pelo contrário, de um gusto comum pelo finito, que se pode encontrar na paixão infantil pelas cabanas e tendas: enclausurar-se e instalar-se, este é o sonho existencial da infância e de Verne.  O arquétipo deste sonho é esse romance quase perfeito,  A Ilha Misteriosa, no qual o homem-criança reinventa o mundo, povoa-o, fecha-o e nele se encerra, coroando este esforço enciclopédico com a postura burguesa da apropriação: pantufas, cachimbo e lareira, enquanto lá fora a tempestade, isto é, o infinito, uiva inutilmente.

Verne foi um maníaco da plenitude: não cessava de completar o mundo, de o mobiliar, de o transformar num receptáculo pleno como um ovo; o seu movimento é exatamente o de um enciclopedista do século XVIII ou de um pintor holandês: o mundo é finito; o mundo está repleto de materiais numeráveis e contíguos. O artista só pode ter uma função: elaborar catálogos, inventários, perseguindo os ínfimos recantos vazios para neles fazer surgir, em filas cerradas, as criações e os instrumentos humanos. Verne pertence à camada progressista da burguesia: a sua obra proclama que nada pode escapar ao homem, que o mundo, mesmo o mais longínquo, é como um objeto na sua mão e que a propriedade é, em suma, apenas um momento dialético no processo de domínio da Natureza. Verne não procurava de modo algum distender o mundo conforme as vias românticas da evasão ou de planos místicos de infinito: procurava incessantemente retraí-lo, reduzindo-o a um espaço conhecido e fechado, que o homem poderia em seguida habitar confortavelmente: o mundo pode tirar tudo de si próprio, pois para existir não necessita de mais nada além do homem.

Além dos inumeráveis recursos da ciência, Verne inventou um excelente meio romanesco de tornar clara essa apropriação do mundo: garantir o espaço por intermédio do tempo, unir permanentemente estas duas categorias, arriscá-las num mesmo lance de dados ou num mesmo impulso irrefletido, sempre bem-sucedidos. As próprias peripécias têm como função imprimir ao mundo uma espécie de consistência elástica, afastar e em seguida aproximar a clausura, brincar agilmente com as distâncias cósmicas, pôr, maliciosamente, à prova o poder do homem sobre os espaços e os horários. E, neste planeta triunfalmente tragado pelo herói verniano, espécie de Anteu burguês cujas noites são inocentes e "reparadoras", arrasta-se por vezes um "desesperado", vítima do remorso ou do spleen, vestígio de uma época romantic terminada, e que faz ressaltar, por contraste, a saúde dos verdadeiros proprietários do mundo, que apenas se preocupam em adaptar-se o mais perfeitamente possível a situações cuja complexidade, de modo algum metafísica e nem mesmo moral, é devida simplesmente a determinado capricho mordaz da geografia.

O gesto profundo de Júlio Verne é portanto, incontestavelmente, o da apropriação. A viagem do barco, tão importante na mitologia de Verne, não contradiz este gesto, muito pelo contrário: o barco pode ser o símbolo da partida; mais profundamente, é o sinal da clausura. O gosto pelo navio é sempre a alegria do enclausuramento perfeito, do domínio do maior número possível de objetos, do ato de dispor de um espaço totalmente finito: amar os navios é, antes de mais nada, amar uma casa superlativa, porque fechada sem remissão, e de modo algum as grandes e indeterminadas partidas. O navio é uma ação do habitat, antes de ser um meio de transporte. Ora, todos os barcos de Júlio Verne são, realmente, perfeitos ambientes de aconchego, e a grandeza de seu périplo aumenta ainda mais a felicidade de sua clausura, a perfeição de sua humanidade interior. Sob este aspecto, o  Nautilus é a caverna adorável: o prazer da clausura atinge o seu paroxismo quando, no seio dessa interioridade sem fissuras, é possível ver através de uma imensa vidraça o vago exterior das águas e assim definir assim num mesmo gesto o interior pelo seu contrário.

Sob este aspecto, a maior parte dos barcos lendários ou pertencentes à ficção são, como o  Nautilus, tema de um enclausuramento desejado, pois basta dar ao homem o navio como habitat  para que nele o homem organize imediatamente o prazer de um universo redondo e liso: aliás, toda uma moral náutica o proclama simultaneamente deus, senhor e proprietário (único senhor a bordo etc). Nesta mitologia da navegação só existe um meio de exorcizar a natureza possessiva do homem sobre o navio: suprime-se o homem e deixa-se o navio sozinho, entregue a si próprio; então, o barco deixa de ser uma caixa, habitat e objeto possuído, para se tornar um olho viajante, que, de leve, roça infinitos e produz partidas ininterruptas. O objeto verdadeiramente oposto ao  Nautilus, de Verne, é o  Bateau Ivre, de Rimbaud, o barco que diz "eu" e, liberto de sua concavidade, pode fazer o homem passar de uma psicanálise da caverna a uma verdadeira poética da exploração. 

Roland Barthes (1975)

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