30 junho 2010

Vai um gin do Peter’s ?

Logo que «O SEGREDO DOS SEUS OLHOS» entrou em cartaz, corri para as salas de cinema, visto o Melhor Filme Estrangeiro (2010) ser o Óscar em que costumo sintonizar com a Academia de Hollywood.

É um filme pesado (até pelo jargon bastante boémio e hiperbólico mas com partes muito cómicas), apesar do sentido de humor hiper lúcido e refrescante ou não estivesse a concorrer com outros candidatos à mesma estatueta, ainda mais pesados… Refiro-me ao do realizador austríaco, «O Laço Branco», também interessante mas em espiral de ódio, onde a soberba e a crueldade se mascaram de um moralismo repugnante, com uma rigidez desumana. Não por acaso, «O Laço…» decorre em vésperas da I Guerra Mundial, que parece ser urdida pelas mentes castigadoras daquele povoado remoto. Mais dantesco ainda é antever os adultos da II Guerra… Diria que não alcança o horizonte arejado do filme vencedor, apesar do esforço muito louvável da voz off, devidamente demarcada de todo aquele horror clandestino e indomável. Um registo cansativo, acantonado num microcosmo psicológico demasiado retorcido e monolítico.

Voltando ao thriller argentino, «O SEGREDO…» baseia-se no romance de outro argentino, Eduardo Sacheri, com um título ainda mais revelador: «A PERGUNTA DOS SEUS OLHOS».

Num esforço para expor os pontos fortes do filme sem quebrar, minimamente, o suspense – crucial ao desenrolar da narrativa – avançarei com pinças...

Todo o fluir da trama é marcadamente latino, quer pela forte carga afectiva, quer por todo o enquadramento social, quer pelo perfil das personagens, definidas sobretudo pela teia dos relacionamentos humanos.

Os diálogos de tragicomédia vão do burlesco à tirada filosófica ou ao desabafo intimista, passando pela dialéctica tribunícia, em segundos. O espectro de comunicação é incrivelmente amplo, enriquecido por uma mímica magistral, zooms geniais a olhares que dizem tudo, ou a nesgas de planos captados por frinchas de luz que nos desvendam os mistérios mais intrincados. Inimagináveis. Curiosamente, a viagem ao interior das mentes é bem mais empolgante que a exploração dos meandros de um crime hediondo. Abreviando, poderíamos dizer que o filme traça não só os mapas mentais, como mergulha no código das motivações psicológicas, desenhando a matriz irrepetível de cada personalidade. E aqui, a descoberta da chave de leitura do homicídio, pela personagem superior que é o contraditório Sandoval, lança-nos na chave de leitura do próprio ser humano: «Uma pessoa pode mudar de nome, de morada, de aspecto… mas há uma coisa que não pode mudar… não pode mudar de paixão». Corresponde à tradução em linguagem judicial de «Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração.» Adensa-se a trama para vir a revelar, no final, o “tesouro” – mais ou menos assumido, mais ou menos consciente – de cada personagem. Um tesouro que, embora de fórmula simples como é apanágio das opções afectivas, pode numa fase da vida assumir a forma de um amor fortíssimo e, escassos segundos depois, sustentado pelo mesmo amor (quando frustrado…), assumir os contornos da pura vingança que se vai tingindo de ódio. No fim, fica-nos a dúvida sobre a identidade do condenado à pena maior: não será o que se deixou aprisionar no ciclo vingativo, sempre insaciável?

Os perfis psicológicos são apaixonantes. Todos, diria. O realizador conduz-nos por círculos concêntricos, partindo do epicentro dos 3 companheiros do tribunal. Um triângulo unido por uma cumplicidade densíssima, de vida e de morte, onde há lugar para a amizade e para a paixão, dispensando-me de mais caracterizações para não interferir no efeito surpresa. O pequeno círculo alarga-se, progressivamente, a mais pessoas envolvidas no homicídio, que é o pretexto da narrativa, até abranger toda a sociedade.

As variações entre o presente e os múltiplos flashbacks são de mestre. Assim como a alternância de perspectivas entre o olhar individual e o plural, entre as vivências pessoais e os episódios “colectivos”, entre os grandes planos de uma personagem, isoladamente, e os efeitos da constante interferência dos outros, conforme os laços e as circunstâncias de vida que os interligam.

A problemática do tempo assume uma reflexão especialmente mordaz na análise dos mecanismos da memória, um arquivo de natureza eminentemente afectiva. O regresso do inspector reformado ao processo de há 25 anos é também a oportunidade de ajustar contas com o que ficou por acontecer. No fundo, o presente mantém-se em aberto, até para o “milagre”… E fico-me por um par de falas muito ilustrativas (citadas por aproximação):

- Tu tens o presente, mas a mim só me resta o passado. – Esposito a Irene

- Vivi sempre virada para o futuro. O passado não é a minha jurisdição. (Para o rever) declaro-me incompetente. resposta de Irene

- Se não se esquece (do homicídio de há 25 anos), vai acabar com mil passados e nenhum futuro... Vai acabar só com lembranças. – Morales

- Já não sei se é a lembrança ou se apenas me resta a lembrança de uma lembrança, percebe? – Morales

O argumento é desfiado numa escalada de deixas extraordinárias, que não se perdem no exibicionismo verbal, inconsequente, ao jeito do discurso puramente demagógico e oco. Aqui, sente-se a força de cada palavra, até pelo valor que assume no desenrolar da acção:

- Os olhos falame é melhor que se calem. – Esposito a Sandoval, embriagado

- Não. Que (o assassino) viva muitos anos! Assim, acabará com uma vida cheia de nada. – a fórmula da justiça, segundo Morales

- Diz-lhe, ao menos, que fale comigo. – Gomez, o homicida.

- Estou cansado de ser feliz. – Esposito, em resposta ao cumprimento do inspector

Nada é óbvio enquanto não for visto até ao âmago da alma, embora se deixe adivinhar num esgar involuntário, num desabafo extemporâneo. Mas nada fica por desvendar se se toma o pulso da vida! Poderá soar estranha esta associação de ideias entre o sucesso de uma investigação criminal e a postura de vida do investigador. Indo mais longe – propõe-se aqui uma relação causa-efeito. Vale a pena transcrever dois ditos de Esposito, para avaliarmos a ousadia da proposta:

- Parecia-me que tudo se tinha passado noutra vida… mas foi nesta… Porque esta é a vida.

- Como se faz para viver uma vida vazia? Uma vida cheia de nada?

Talvez a personagem que melhor ilustre o olhar profundo que todo o ser humano merece, para superarmos a falácia das aparências, seja o copofónico e irascível Sandoval, afinal um sábio sem pose nem estatuto, antes autêntico druida. Auto-define-se assim: «O que se passa, Benjamin (Esposito), é que vocês me vêem assim, vestido de sapo. Mas, na realidade, sou um príncipe encantado.» Cabe-lhe uma função decisiva, oscilando entre o coro das tragédias gregas e o bobo das peças de Shakespeare, a pontificar ao longo do curso da história. Será o mais paradoxal do variado panorama humano em cena. Se dúvidas houvesse, a sua última aparição na tela faz jus à grandeza do seu carácter, encoberta por um dia-a-dia de vícios e desleixo. Aliás, o final torna-se o momento supremo de cada personagem, a manifestação mais límpida do respectivo “tesouro”.

Convidando-nos a redescobrir a substância da realidade, para lá do invólucro, o filme de Campanella sugere-nos a pergunta inscrita nos olhos de cada um, uma bússola também recomendada pela sabedoria popular, que vê nos olhos o espelho da alma.

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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FICHA TÉCNICA

tulo original: El secreto de sus ojos Título traducido: O Segredo dos seus olhos

Realizador: Juan José Campanella

Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, Javier Godino, Guillermo Francella, José Luis Gioia, Carla Quevedo, Bárbara Palladino.

Produção (argentino-espanhola): Mariela Besuievski

Argumento: Juan José Campanella, baseado no romance La pregunta de sus ojos de Eduardo Sacheri

Fotografia: Félix Monti Banda sonora: Federico Jusid e Emilio Kauderer

Duração: 127 min. Ano: 2009 País: Argentina /Espanha

29 junho 2010

Chegou a Maria Clementina

Podia começar este texto com essa postura tipicamente portuguesa que é a de que 'a galinha da vizinha', sendo neste caso uma galinha estrangeira, 'é muito melhor do que a minha'. Venho hoje falar de uma banda diferente do habitual. São quatro pessoas que se juntaram mas cujas identidades não são conhecidas, e que se apresentam ao público na forma de desenhos animados.

Voltando a essa postura tipicamente portuguesa, podia dizer que estão só a copiar um conceito já criado pelos Gorillaz (tanto quanto eu saiba a primeira banda a apresentar-se desta forma), e que estes não só foram os criadores como o fizeram muito melhor, e que a música deles é muito melhor, e que a música em Portugal é uma miséria, e que cá nunca se faz nada de jeito.

Mas não vou adoptar essa postura. Até porque não concordo nada com ela. Não acho que cá não se faça nada de jeito, acho mesmo que há música muito boa. Não temos de importar tudo. Mas isso é assunto para outro post.

Noto que tem vindo a surgir uma nova onda na música portuguesa. Parece uma coisa mais popularucha, em que os Deolinda são os representantes maiores do género. Acho que se têm criado projectos muito interessantes dentro do género e, com sorte, a grande maioria da música portuguesa que tem sido publicitada nos últimos tempos já partiu para parte incerta (aqui não vou referir nomes, basta ouvir a RFM durante uma hora para se perceber quem são).

Voltando à tal banda diferente do habitual. Intitulam-se Maria Clementina, e os membros criaram quatro alter-egos: Raquel Menina, Juca Pavico, Manuel de Malta e Enrique Mita. Este projecto foi encomendado pelos sumos B! que quiseram criar uma banda sonora para a publicidade do novo B! Clementina. Os Maria Clementina lançaram um EP, e a música que acompanha o anúncio do sumo é esta.

Dizem que fazem ruralo-pop-inconformado e, não sabendo muito bem o que é o género, depois de ouvir o EP e a música do anúncio, parece-me que a classificação lhes assenta muito bem. Parece-me também que cai dentro do tal género mais popularucho.

Diz quem sabe que os quatro membros são conhecidos por projectos a solo ou por colaborações, e que foram falados no último ano e meio. E outra das graças desta banda é esta tentativa de tentar adivinhar quem é quem. Eu tenho cá um palpite para quem são os três que cantam na música acima.

SdB (III)

28 junho 2010

Pintura para o dia de hoje...

The Translation of Saint Rita of Cascia (Nicolas Poussin, ca 1630)

Histórias para o dia de hoje...

Muito começou em Smir, no Club Med, no ano de 2000. A vida era fagueira e as preocupações relativamente poucas. Os anos que se seguiram foram intensos, e eu devo muito à família da RJ, a quem dedico este post. Quando dei por mim escrevíamos um livro a meias. Um dia, em 2006 talvez, ofereci-lhe um pequenino conto de que publico parte. Era uma altura em que a alma mística que punha nos textos era superior à qualidade com que o fazia. Eu sei porque o publico, e a RJ sabe porque o lê. Há muitas formas de dizer obrigado.

JdB

(...)

- Aonde ides, Senhora?

Deus Nosso Senhor perguntava com ar ligeiro, um leve rodopiar de corpo, um breve trinado na voz, um discreto menear de braços.

- Hoje é dia de Escola dos Anjos, Senhor. Vamos na letra R e prometi que falaria sobre Santa Rita de Cássia.

- Pois muito bem. Cá vos espero. Sinto que hoje acontecerá alguma coisa. SERÁ PORQUE É VÉSPERA DE DIA DE S. PEDRO?

O Pai voltou as costas, um riso reprimido a custo, a bondade toda reflectida naquela graçola.

Maria dirigiu-se para a sala de aula onde a esperava uma infinidade de anjos. À medida que se aproximava sentia o ruído a crescer, um ruído todo feito de alegria e satisfação, inundado de amor e bem-estar.

- Boooooom diiiiiiiiiiaaaaaaa, Mãe!

Maria começou a contar, para ver se faltaria alguém: 1, 2, 3, ,... 280660..., 12325908..., 917290366,... ∞.

- Estão cá todos – disse com um ar satisfeito.

- Mãe, Mãe, que dia é hoje?

- Porque queres saber, meu anjo?

Madalena não respondeu, mostrando um sorriso tão doce que enterneceria qualquer um, encolhendo os ombros como que a dizer que não tinha uma resposta muito certa – ou se calhar não a queria partilhar. Ainda...

- O Nosso Pai diz que é véspera do dia de S. Pedro, mas eu acho que há mais... Vamos falar de Santa Rita de Cássia, e vou ler-vos a história dela.

Como sabeis, meus anjinhos, ‘Santa Rita nasceu em 1381, em Itália. Foi baptizada com o nome Margherita, o que originou a abreviatura de Rita pela qual é conhecida em todo mundo católico. Abalada pela morte do marido e dos filhos, quis recolher-se ao convento das agostinianas de Cássia, mas não foi aceite. Rezou, então, fervorosamente aos santos de sua devoção: São João Baptista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino. Contam os biógrafos que estes santos arrombaram as portas do convento e a fizeram entrar. Por 14 anos, até à sua morte, trouxe na testa um estigma, associando-se assim à paixão de Cristo. Morreu no mosteiro de Cássia em 1457 e foi canonizada em 1900. São-lhe atribuídos tantos e tão extraordinários milagres que é tida por advogada das causas perdidas e a santa do impossível’.

Como sempre, os anjos não perdiam uma palavra do que Maria contava, absorvidas pela sua entoação, pelo texto mágico, pela mensagem.

- Mãe, Mãe, que dia é hoje?

Nossa Senhora preparava-se para responder quando um choro de criança pequena a interrompeu. Numa fracção de segundo todos os anjos estavam debruçados do Alto, deleitados com aquela rapariga que acabara de nascer. Como se chamaria, teria um bom coração, seria amiga dos outros, estaria sempre pronta para ajudar, iria conseguir adivinhar quando os outros precisassem dela, será que alguém lhe escreveria coisas com alma – versos ou contos? Tantas perguntas, tantas dúvidas – será que alguém tinha certezas?

A um canto, Madalena sorria, já não de doçura, mas de alegria quase incontida. Agora sim, a pergunta dela tinha resposta e o seu mundo na terra estaria mais protegido, teria outra felicidade. Viu aquilo que mais ninguém via, com uns olhos – como alguém diria num ano difícil – ‘profundos como a noite mas brilhantes como estrelas’. Sentiu, na suavidade da sua infantilidade, mas no predestinação do seu percurso, que no Céu não havia Ontem nem Amanhã, Nunca ou Sempre. No Céu o tempo fluía com uma leveza tal que a Eternidade estava ali à mão de cada um, o Infinito era já agora, Passado e Futuro coincidiam no tempo presente. Madalena olhou para a Frente, a vista absorta na Distância, o coração inundado de uma Confiança só acessível a quem tem um íntimo puro, uma alma sossegada, um caminho de Fé.

Viu a sua vida e a daqueles que lhe povoavam os sentimentos, que lhe tinham dado o amor de que ela se lembrava, lhe tinham segurado a mão quando ela partia. Viu, lado a lado, o Sofrimento e a Alegria, a Solidão e a Companhia, a Pergunta e a Resposta. Viu pessoas que surgiam, outras que desapareciam, outras ainda que permaneciam. Viu pessoas muito especiais, daquelas que estavam sempre presentes – mais em espírito do que em corpo -, e que diziam palavras bonitas mesmo que nem todos as ouvissem. Viu ainda duas pessoas, por quem ela nutria um afecto especial, que conversavam muito sem nunca se verem.

Ao pé de si, os outros anjos continuavam as perguntas: quem é, como se chama, que profissão vai ter, com quem vai casar, quantos filhos vai ter. Ao seu lado, numa presença que nunca faltava mesmo que nem sempre se sentisse, Maria e o Pai Eterno davam as mãos a Madalena. Todos sabiam já que dia era aquele, porque se tinha falado de Santo Irineu, de Santa Rita de Cássia, de 1960. Era dia 28 de Junho, dia de todas as alegrias, momento de todas as esperanças. Madalena levantou-se, debruçou-se do Alto e, perante a surpresa de todos, sorriu-se com o bebé como se se conhecessem de toda a vida. Acenou, atirou-lhe um beijo e uma rosa (será que alguém saberia porquê?) e disse com um ar de profundo agradecimento: Olá Quatro Letras!

Tudo estava bem.

27 junho 2010

Textos dos dias que correm...

Não se pode confundir felicidade com facilidade.
A felicidade não cai do céu, é luta e dá trabalho. É Graça, também!
A felicidade cristã tem três "efes": fé, fidelidade e fecundidade!
Fé, que é confiança em Deus.
Fidelidade que é nunca desistir de alcançar o que se propôs.
Fecundidade que significa abertura ao que Deus nos pede, capacidade de gerar futuro.
Se alguma destas coisas não existe, não podemos encontrar a felicidade.
Feliz equivale a ser pessoa de fé, confiante, fiel aos seus propósitos, fecunda, aberta aos outros e à vida.


Vasco P. Magalhães, sj (pensamento enviado por mão amiga)

13º Domingo do Tempo Comum

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.
Cabe-me a mim, nesta desgarrada semanal que vou mantendo com a maf, deixar alguns pensamentos sobre o evangelho de hoje. Tarefa difícil, porque há textos que nos são mais evidentes do que outros...
Realcei as palavras que me parecem importantes, caminho e seguir, porque talvez sejam as que mais se aproximem, conceptualmente, do que vou rogando diariamente, seja na forma de uma oração convencional, seja na de um desejo implícito voltado para cima.
De há muito que vou pedindo a Deus que me dê discernimento e força. O primeiro, para me iluminar sobre a melhor forma de atingir a santidade; a segunda, para que não me falte o alento para o trilhar.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo,
Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém
e mandou mensageiros à sua frente.
Estes puseram-se a caminho
e entraram numa povoação de samaritanos,
a fim de Lhe prepararem hospedagem.
Mas aquela gente não O quis receber,
porque ia a caminho de Jerusalém.
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus:
«Senhor,
queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?»
Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os.
E seguiram para outra povoação.
Pelo caminho, alguém disse a Jesus:
«Seguir-Te-ei para onde quer que fores».
Jesus respondeu-lhe:
«As raposas têm as suas tocas
e as aves do céu os seus ninhos;
mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça».
Depois disse a outro: «Segue-Me».
Ele respondeu:
«Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai».
Disse-lhe Jesus:
«Deixa que os mortos sepultem os seus mortos;
tu, vai anunciar o reino de Deus».
Disse-Lhe ainda outro:
«Seguir-Te-ei, Senhor;
mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família».
Jesus respondeu-lhe:
«Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás
não serve para o reino de Deus».


26 junho 2010

Pensamentos impensados

Falemos de casacos de pele de animais: se tiverem pelos, diz-se casaco de peles, se não tiverem chamam-se casacos de pele. Alguém me explica?

As tágides são as musas do Tejo; será que as musas do Sado são as sádicas?

Na Assembleia da República está, na sala das sessões, uma escultura que representa a República e que foi esculpida num bloco de mármore que se destinava a representar o Rei D. Manuel II, que entretanto morreu. Pode dizer-se que é uma pedra transexual.

O pau-santo é uma madeira exótica; o pau de Cabinda é uma madeira erótica.

Às pessoas que se lamentam dizendo que os seus amigos estão todos a morrer, costumo argumentar: é natural, toda a gente morre antes de nós.

Resposta às perguntas feitas em 19/6
1-Nos Jerónimos, em Lisboa (pode ser só um cenotáfio, mas não me parece).
2-Na estação do Rossio; uma pequena estátua entre a duas portas principais.
3-Na Rotunda do Marquês, no arco da Rua Augusta e um medalhão na estátua de D. José.
4-Todos cortam orelhas.
5-Triste Feia que é uma artéria em Alcantara.(Costa do Castelo é um bairro).

25 junho 2010

pequena canção

as saudades que trago comigo, sugadas do fado mais antigo,
não as desejo nem dadas ao melhor amigo do meu pior inimigo.

eu, que inimigos não tenho, melhor fora que os tivesse deveras,
em vez espadas e balas, desembainharia de vez estas saudades,

arrancadas a ferros e erros e braços a este meu coração tão dorido.
(ou então: riscar, reescrever, apontar à palavra: meu coração tão florido.)

gi.

24 junho 2010

Deixa-me rir...

(Desculpem-me os fãs do PO, hoje sou eu outra vez. O PO tirou uns dias off…)

Gosto imenso de rock n’ roll. Acho que é mesmo o meu estilo de música preferido. Caso tivesse de escolher um! Graças a Deus que não tenho de me cingir a um único estilo!

E porque gosto tanto de rock n’roll, de que Portugal não tem qualquer tradição (infelizmente), aqui fica o rei do Rock n’ Roll, como já lhe chamaram, um virtuoso que influenciou n músicos que se lhe seguiram, nomeadamente o já postado Keith Richards que afirmou publicamente ter ficado a saber o que queria fazer na vida quando ouviu o meu convidado de hoje. Ei-lo: Chuck Berry, magnificamente bem acompanhado, cantando Johnny B Goode e Roll Over Beethoven.

(E para que não pensem que o rock n’ roll é um estilo menor, saibam que as preferências musicais do nosso conhecido e sapientíssimo Rui Vieira Nery vão para, por ordem decrescente: música clássica, fado, bom jazz e rock n’ roll clássico – ouvi-o dizer isto numa entrevista, penso que na Antena 2).

Enjoy! Celebrate rhythm! Celebrate life!



pcp

22 junho 2010

As pessoas que comem hortaliças de manhã


Gosto de pessoas que compram hortaliças de manhã.
De manhã é tudo diferente:
O cheiro,
A cor,
As conversas de café.

Até o sol é diferente. Toda a gente sabe, não se compram hortaliças de manhã! Até faz mal...

A minha avózinha (que faz anos hoje), não comprava legumes de manhã, se calhar nem comprava legumes mas tinha aquilo espírito especial de quem gosta de viver de manhã.

Hoje já não, tem as pernas cansadas mas, no outro dia, ouvi-a a falar com o meu cão de uma maneira tão diferente que só um espírito especial consegue (aquelas almas da manhã, tão diferentes).

O meu cão, esse que considero o diabo em forma de animal, sempre histérico e hiperactivo, pousava o focinho no colo da minha avó e ouvia atentamente tudo o que ela lhe dizia: "Ouça lá, quem é que lhe deu autorização para mexer nas minhas coisas e ser maluco?". Ele ria-se à sua maneira e fingia que fazia caso.

O meu cão, também ele é um espírito novo, é como as pessoas especiais, é como a minha avó, é como o Google, o coelho da minha melhor amiga. São essas pessoas que sabem tão bem sentir a pulsação do mundo. São pessoas especiais. São as pessoas que compram hortaliças de manhã.

15 de Junho de 2010

Sossego traiçoeiro

Fazes poupanças da alma

Com as manias da razão

E pedes sempre mais calma

Custa-te largar a mão.


Sobre as coisas que assustam

Não demoras a pensar

Imitas aqueles que escutam

E vais-te deixando andar.


Sobra-te tempo pra tudo

Sobretudo pra gastar

E deixas-te andar mais que mudo

Não gostas de atrapalhar.


O sossego é traiçoeiro

Surpreende quem quiser

A verdade é que és um estrangeiro

Até prá tua mulher.


E a certeza esmorece

Enquanto avanças na canção

A vida é sempre diferente

E precisa de um refrão.


Agora contas plos dedos

O que sabias de cór

A tabuada dos medos

Não tem lugar no amor.


E há-de chegar o dia

Em que tu vais perceber

Só te deram esta vida

E foi feita pra viver.


Zdt (cancioneiro dos improvisos)

21 junho 2010

Bem-aventurados os mansos...

Neste pequeno texto há dois personagens, Vítor e Rafael, ambos gémeos. São tão gémeos que, para efeitos de narrativa, não só não se distinguem um do outro como dizem exactamente o mesmo, e encontram-se nos mesmos locais com uma simultaneidade sem explicação científica. O que diz um diz o outro – sendo que a inversa também é verdadeira. Onde está Rafael pode ler-se Vítor. Diria ainda, correndo o risco da repetição, que a inversa também é verdadeira.

***

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.

Rafael – como poderia ser Vítor – de há muito que sorria ao ouvir esta frase do sermão da montanha. Apanhara o hábito de seu pai, um homem sério, austero e grave que se vira precocemente viúvo quando a esposa tombara no chão, silenciosa e discreta, num desgraçado e chuvoso domingo de Ramos.

Vítor – como poderia ser Rafael – voltara a ouvir o texto sagrado, já sem sorriso. Franzira-se-lhe um sobrolho e correra-lhe uma lágrima furtiva derivada de uma orfandade paterna recente. De facto, o pai dos gémeos – entre si, e inversamente falando – finara-se com um sorriso segurando entre as mãos fortes e grandes um diário. Foram encontrá-lo com os olhos abertos, um fio de saliva a escorrer-lhe pelo canto da boca fina e séria e um estetoscópio – totalmente desenquadrado da decoração envolvente – numa banqueta ao lado.

Rafael – como poderia ser Vítor – fechara-lhe os olhos, arrumara o instrumento médico com um misto de espanto e temor de que sempre se reveste o inexplicável, e sentara-se a ler o diário. Um dos gémeos – ou seria o outro? – sugerira que se começasse pela página aberta, que talvez se derramasse uma luz sobre o funesto evento.

17 de Fevereiro. Voltei a casa de AT. Recebeu-me linda e deslumbrante, com um sorriso convidativo e pecaminoso. Estava vestida de enfermeira, o meu fetiche mais recorrente. A farda justa realçava-lhe as formas volumosas e, junto a um peito que a cirurgia estética tinha retocado, um relógio pequeno marcava as 15 horas. Estendeu-me uma mão forte e profissional, lamentando o meu ar macilento. Instou-me à posição horizontal na marquesa, alegando a necessidade de um exame completo. Na hora que se seguiu observou-me de norte a sul, de nascente a poente, de A a Z. Usou todos os seus sentidos, justificando a necessidade de um diagnóstico perfeito. Quando a possuí – e foi ela, AT, quem explicitamente me pôs o verbo nos lábios – revesti-me de uma felicidade imensa, como o doente a quem o médico transmite palavras de cura. A enfermeira levou-me à porta, solícita, confiante, amável – e desnuda. Mantivera sempre um estetoscópio ao pescoço, como quem mostra ao paciente que todos somos serviço e prazer. Estendeu-me a mão profissional e forte e pediu que lhe devolvesse o instrumento médico aquando da próxima visita. Detectou-me um corpo pouco ginasticado, mencionando que talvez fosse bom convidar uma acrobata da vez seguinte. Amo-te, AT, e não vejo o dia de te possuir de novo.

Vítor – como poderia ser Rafael – interrompera a leitura do diário para aplicar de novo o verbo abrir – já abrira a boca, faltava abrir a porta. Na soleira da dita encontrava-se uma senhora muito bonita, fardada de enfermeira, com um relógio pequeno a compor um decote displicente onde saltitava um peito retocado pela cirurgia.

Muito boa tarde. Estou a falar com os donos da empresa Irmãos Mansos e Herdeiros? Talvez tenham ouvido falar na minhas iniciais – AT... O meu nome é Andreia Terra, e conheci bem o vosso pai...

Bem-aventurados...

JdB

20 junho 2010

Domingo ... se fores à Missa!

“Pega na tua cruz, nega-te a ti mesmo e segue-me …” que palavras tão duras. Quem é que, no seu perfeito juízo, se nega a si mesmo? Talvez os mártires, as freiras de convento, os monges budistas, os verdadeiros santos, mas não nós, comuns mortais. E que quer isto dizer, negar-se a si mesmo? É anular-se? Ser low profile, não dar nas vistas, não ter opinião nem intervenção? É ouvir e calar? É ver e desviar? Sentir e desdenhar? Não, não e não. Deus fez-nos à sua imagem e semelhança e essa semelhança deve, pelo contrário, ser bradada aos 7 ventos. Deve ser o nosso cartão de visita, a nossa projecção no mundo e nos outros. Um verdadeiro Cristão não deve anular-se, muito pelo contrário, deve mostrar-se. Então, o que é isto de negar-se a si mesmo? Gostava de ouvir a v/ opinião, o vosso ponto de vista.

O que me ocorre como possivel explicação ou interpretação, como lhe queiram chamar, será talvez a consciência de que cada um de nós não é o fim, em si próprio, mas um simples instrumento ao serviço de Deus. O nosso corpo serve para armazenar a alma, não é nosso e a alma serve para servir a Deus, não é nossa. Somos pincéis nas mãos do artista.

Domingo se fores à Missa... Nega-te a ti mesmo

Maf

Evangelho segundo S. Lucas 9,18-24.
Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?»
Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.»
Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.»
Ele proibiu-lhes formalmente de o dizerem fosse a quem fosse;
e acrescentou: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.»
Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me.
Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la.

19 junho 2010

Pensamentos impensados

Hoje vamos deixar as piadas e testar os conhecimentos dos leitores.

1 - Onde está sepultado o Rei D. Sebastião?
2 - Onde está, em Lisboa, uma estátua do Rei D. Sebastião?
3 - Em Lisboa, o Marquês de Pombal, está representado em pelo menos, 3 sítios. Onde?
4 - O que têm em comum Van Gogh, os toureiros e Mike Tyson?
5 - Em Lisboa, há um sítio, cujo nome é... apenas o nome; não é rua, travessa, largo, beco, nada.
Como se chama?


Pensamentos dos outros

Eça de Queiroz odiava os políticos porque lhes adivinhava caspa.
Penso que este pensamento é de Ramalho Ortigão referindo-se ao futebol: jogo de canelão e encontrão propício à tuberculose.

SdB (I)

18 junho 2010

amor & etc.

repara, laura, nas minhas palavras,
uma hipótese entre tantas outras de seres feliz
pela linguagem.

aqui, neste bairro que só nós dois habitamos,
nenhum linguista ousará desfazer
os nós entrelaçados dos nossos dedos;
nenhum filologista romperá jamais
os elos, os laços, os traços
que nos unem
e reúnem
à volta da enorme árvore frondosa da praça maior:
a linguagem.

de alexandre dito o grande, restam os livros.
de roma, outro tanto.
alexandria, sião, constantinopla?
poeiras
varridas pelo tempo.

já as palavras teimam, insistem, resistem.

como esta minha ideia louca, laura,
de te fazer feliz
por pura osmose semântica.

um dia, alguém lerá: foram felizes, tão felizes, aqueles dois.
e sabes que mais, laura?
no espaço destas exactas 28 linhas mal escanhoadas,
descontando já as linhas brancas,
sei que
fomos fomos fomos fomos

- isto é: sei que somos.

gi.

17 junho 2010

Deixa-me rir...

Imagino que os leitores deste blogue conheçam o jornal Financial Times (só podem!). Não sei é se todos estarão familiarizados com o seu suplemento de fim-de-semana How to Spend It (www.howtospendit.com). O nome diz tudo: como gastar o dinheiro que se tem. Presume-se, neste caso concreto, que é muito, muito, muito, muito, muito dinheiro….. literalmente, “dinheiro à séria”. Pessoalmente, um título destes e o “mundo” que isso significa, choca-me, choca-me mesmo. Sou absolutamente a favor da partilha e da divisão de bens (não imposta, claro!), não posso achar melhor as dádivas de milhões que o Bill Gates, a Jane Fonda, a Madonna, o Sean Penn, e outros tantos, têm oferecido para causas várias. Acho inclusivamente que isto devia ser uma prática “corrente” por parte de quem tem em excesso. Ninguém precisa, seguramente, de ter 10 casas em diferentes cidades, n propriedades no campo, na praia e na neve, torneiras de ouro na casa-de-banho, iates, aviões particulares, roupa e acessórios exclusivos, antiguidades aos pontapés, ser proprietário de meia Londres (como o Duque de Westminster) ou ainda haver países onde a riqueza se encontra concentrada em 5% da população!! É um atentado, uma afronta a quem não tem nada, a quem vive na rua, está corroído pela doença e vê os seus filhos a morrerem de fome à sua frente. Há qualquer coisa de errado neste desiquilíbrio social… mas isso daria origem a todo um outro post. Hoje estou mais light do que isto….

Mas apesar destas considerações, não consigo deixar de ser fascinada por esta revista. Visualmente, como seria de esperar, é muito atractiva (mas há melhor; para todos os efeitos é um suplemento de um jornal!): óptima fotografia, bom papel, sofisticação em todos os detalhes, em tudo o que é apresentado: sapatos, relógios, carros, roupa, pessoas. Sugestões de hotéis, de férias, de decoração, de compras, é tudo, assumidamente, para um conjunto de pessoas que se rodeia de luxo, verdadeiro luxo, no seu dia-a-dia.

Mas aquilo que realmente me atrai no How to Spend It, para além do seu lado visualmente apelativo, é o seu lado de procura de excelência, que se manifesta tanto na divulgação do que é Belo neste mundo, como também na procura das últimas trends a nível de ideias, de conceitos e de modos de vida. As entrevistas são feitas a pessoas que têm em comum o serem ricas, criativas, empreendedoras, intelectual e profissionalmente estimulantes, pessoas que fazem o futuro, desenham o futuro em termos da arquitectura que passamos a apreciar, da moda que passamos a vestir, do design de que nos rodeamos, da ciência que nos fascina, do turismo que procuramos . São pessoas com mundo, cosmopolitas, que se rodeiam de pessoas alike. Desta convivência, necessariamente fervilhante e estimulante, saem as últimas tendências que influenciam, quer queiramos quer não, as nossas escolhas mundanas. E não tem mal nenhum… sempre foi assim e sempre assim será … a não ser que o Homem evolua muito …. o que não prevejo para breve …

Já agora falo-vos da última trend em Inglaterra de que tive conhecimento ao ler um artigo no último How to Spend It: criar casas com fachadas personalizadas. Imaginem-se loaded with money e cansados (o tom tem de ser blasé!) com a fachada da vossa casa. Contratam os serviços dum arquitecto e ele remodela-vos a parede que separa o “vosso” espaço do espaço colectivo. Ou podem mandar construir uma casa de raiz, evidentemente. Mas sempre com uma fachada personalizada. Vi algumas destas casas no dito artigo e achei-as bem giras, curiosas, diferentes. O minimalismo zen que atingiu o seu apogeu no final do séc XX já era! Agora o que está a dar é decorar, é usar e gozar de padrões, texturas e efeitos. Com alguma contenção, como diz um dos arquitectos entrevistados. Para todos os efeitos, vivemos num espaço partilhado!

Parece que a influência agora é o movimento do Arts & Crafts, o famoso movimento estético da segunda metade do séc XIX, fundado por William Morris, que privilegiava a pequena indústria, a revitalização do artesanato criativo em oposição à produção em massa e o fim da distinção entre artesão e artista. Diz o tal artigo do HTSI: “Many of today’s architectural innovators share the same kind of interests (… com os artistas do A & C), while being happy to look back as well as forward in the search for inspiration. As a result, they’re inventing houses and apartment buildings with a real sense of character and individuality, and they are increasingly teaming up with clients and developers who are after the very same thing.”

Para terminar, dou-vos um exemplo apontado neste artigo: uma casa coberta de hera numa mews em Londres. Em frente, uma casa com uma fachada acabada de fazer. A nova fachada é constituída por placas finas de madeira e metal, em tons de beige e preto, a imitar, de forma estilizada, as folhas de hera opostas. Não acham bem giro? Eu acho.

Agora a música. Outro produto do UK. Uma voz soberba. Que me foi apresentada recentemente pelo PO. Beth Rowley, ladies and gentlemen. Recomendo vivamente o album Little Dreamer!





pcp

PS: E para quem, como eu, gosta de coisas bonitas e cool, aqui vão duas sugestões:
www.ted.com
www.thecoolhunter.co.uk

16 junho 2010

Vai um gin do Peter’s ?

Dando continuidade ao gin de 2 de Junho, que iniciou o aperitivo à mensagem riquíssima que o Papa legou a Portugal(1), é hora de desfiar as 5 temáticas que perfazem o conjunto dos TOP 10 de grandes momentos da sua Visita de Maio

- neste gin:

Fátima na história dos séculos XX e XXI

A alegria de amar – o dom supremo

O ser humano – características e possibilidades

Sofrimento – mensagem aos doentes

Despedida comovida, abraçando as pessoas de boa vontade

- a 2 de Junho:

Perfil de um defensor da liberdade, ao serviço de todos

Portugal visto por um olhar de Pai

Cultura – um Papa fascinado pela Beleza

Esperança – a chave do futuro

O mal radiografado com invulgar coragem

Em Bento XVI, a sabedoria das palavras vem impregnada de um alcance poético impressionante, que lhes confere um colorido e jovialidade invulgaríssimos. Lembro um par de exemplos, nesta viagem: «A ‘Branca Senhora’ na aparição», «com a vela acesa na mão, lembrais um mar de luz», «Quem aprende o Amor… será pessoa para os outros», «servir Cristo na humanidade que vos espera», «num momento em que se falava de Inverno na Igreja, o Espírito Santo criava uma nova Primavera»…

Como os grandes Homens comungam de óbvias afinidades, vem a propósito citar Mahatma Gandhi, com um lema de vida aplicável, na perfeição, a Bento XVI: «Perderei a minha utilidade no dia em que abafar a voz da minha consciência».

Fátima na história dos séculos XX e XXI

- «Fátima, lugar privilegiado da misericórdia de Deus» (19.Maio – Audiência Geral das Quartas, no Vaticano, referindo a Visita a Portugal)

- «Nossa Senhora ajudou (os Pastorinhos) a abrir o coração à universalidade do amor (13.Maio – Missa em Fátima)

- «Que… há 93 anos (em 1917), o Céu se abrisse precisamente sobre Portugal – como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta – para reatar, no seio da família humana, os laços da solidariedade fraterna assente no mútuo reconhecimento de um só e mesmo Pai…» (11.Maio – no Aeroporto)

- «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída. Aqui revive(-se) aquele desígnio de Deus que interpela a humanidade desde os seus primórdios… o homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo. Na Sagrada Escritura é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima…» (13.Maio – Missa em Fátima)

- «…É precisamente de esperança que está profundamente impregnada a mensagem – exigente e ao mesmo tempo consoladora– que Nossa Senhora deixou em Fátima. É uma mensagem centrada na oração, na penitência e na conversão, que se projecta para além das ameaças, dos perigos e dos horrores da história, para convidar o homem a ter confiança na acção de Deus, a cultivar a grande esperança, a fazer a experiência da graça do Senhor para se enamorar dele, fonte de amor e de paz.» (19.Maio – Audiência no Vaticano)

- «… Maria, aparecendo aos três pastorinhos, abriu no mundo um espaço privilegiado para encontrar a misericórdia divina que cura e salva. Em Fátima, a Virgem Santa convida todos a considerarem a terra como lugar da nossa peregrinação rumo à pátria definitiva, que é o céu. Na realidade, todos somos peregrinos, temos necessidade da Mãe que nos guia.» (19.Maio – Audiência no Vaticano)

- «Em Fátima, rezei pelo mundo inteiro pedindo que o futuro traga maior fraternidade e solidariedade, um maior respeito recíproco…» (14.Maio – Cerimónia de Despedida, no Porto)

O cronista do Fígaro, a poucos metros do Papa, na Capelinha imortalizou, nestes termos, o momento da deposição da Rosa de Ouro aos pés da Imagem: «Isto pode parecer ridículo e infantil, mas foi em Fátima que a mais bela espiritualidade da Igreja apareceu, em plena luz do dia. A espiritualidade da criança que sabe que deve tudo a Deus. Escolhi este exemplo porque tive o privilégio de estar a poucos metros do Papa e fiquei impressionado – tocado até – com a simplicidade da sua meditação. Parecia uma criança que trouxe um presente para a sua mãe. Nada existia à sua volta, nem câmaras de televisão, nem a multidão, nem mesmo o estatuto de Papa. Ali, era um grande cristão, humilde, que parecia falar com ‘alguém’ que estava realmente presente. Estas são coisas que normalmente não descrevemos no nosso trabalho como jornalistas, mas, desta vez, o mistério foi ‘palpável’. Nesse sentido, essa imagem resume toda a viagem: o poder da fé, a força de Fátima e a simplicidade humana que fala mais que palavras, porque a fé fala directamente ao coração. É realmente a mensagem chave, fundamental para a fé cristã


A alegria de amar – o dom supremo

- «Recomenda-nos que façamos nosso o estilo do Bom Samaritano … E qual é esse estilo? É ‘um coração que vê.’ Este coração vê onde há necessidade de amor e actua…» (13.Maio – Encontro com a Pastoral Social, em Fátima)

- « (O) Bom Samaritano é Ele, que se faz próximo de todos os homens e… os conduz à estalagem, que é a Igreja, onde os faz tratar… através da justiça e da caridade, para vivermos com um coração de bom samaritano.» (13.Maio – Encontro com a Pastoral Social, em Fátima)

- «Quem aprende de Deus Amor será inevitavelmente pessoa para os outros. Unidos a Cristo… somos tomados pela sua compaixão pelas multidões que pedem justiça e solidariedade e, como o bom samaritano da parábola, esforçamo-nos por dar respostas concretas e generosas.» (13.Maio – Encontro com a Pastoral Social, em Fátima)

- «Aprendei a ouvir e a conhecer a sua palavra e também a reconhecê-Lo nos pobres.» (11.Maio – Missa no Terreiro do Paço, Lisboa)

- «Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa… Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente ao mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura.» (11.Maio – Missa em Lisboa)


- «Só com este amor de fraternidade e partilha construiremos a civilização do Amor e da Paz.» (13.Maio – Missa em Fátima)

- «… Aqueles que crêem na caridade divina têm a certeza d’Ele que a estrada da caridade está aberta a todos os homens» (13.Maio – Missa em Fátima, citando o Concílio Vaticano II)

O ser humano – características e possibilidades

A grande personagem concebida por Camus, Calígula, verbaliza com especial acuidade a tensão que inquieta o espírito humano: «Quero o impossível. (…) Eis o que me persegue. Este ir para além», à qual Bento XVI, com a sua extrema lucidez, não se esquiva a responder:

- «A razão, como tal, está aberta à transcendência e só no encontro entre a realidade transcendente, a fé e a razão (é) que o homem se encontra» (11.Maio – Encontro com os jornalistas, no avião)

- «… Só Cristo pode satisfazer plenamente os anseios profundos de cada coração humano e responder às suas questões mais inquietantes acerca do sofrimento, da injustiça e do mal, sobre a morte e a vida do Além.» (11.Maio – Missa em Lisboa)

- «A dinâmica da sociedade absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro… (O actual) conflito entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade… De facto, um povo que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos… A fidelidade à pessoa humana exige a fidelidade à verdade, a única garantia de liberdade…» (12.Maio – Encontro com o Mundo da Cultura, no CCB)

- «A relação com Deus é constitutiva do ser humano: foi criado e ordenado para Deus, procura a verdade… tende ao bem na esfera volitiva, é atraído pela beleza na dimensão estética.» (11.Maio – no Aeroporto)

- «Aquilo que fascina é sobretudo o encontro com pessoas crentes que, pela sua fé, atraem para a graça de Cristo dando testemunho d’Ele. (…) é da santidade que nasce toda a autêntica renovação da Igreja… » (13.Maio – Encontro com os Bispos, em Fátima)

Sofrimento – mensagem aos doentes

- «Meu irmão e minha irmã, tens para Deus um valor tão grande que Ele mesmo Se fez homem para poder padecer com o homem, de modo muito real, na carne e no sangue… a partir de então propaga-se em todo o sofrimento a consolação do amor solidário de Deus, surgindo assim a estrela da esperança.» (13.Maio – Saudação aos doentes, em Fátima)

- «…Poderás superar a sensação de inutilidade do sofrimento que desgasta a pessoa… Como é possível? As fontes da força divina jorram precisamente no meio da fragilidade humana. É o paradoxo do Evangelho. Por isso o divino Mestre, mais do que demorar-se a explicar as razões do sofrimento, preferiu chamar cada um a segui-Lo…» (13.Maio – Saudação aos doentes, em Fátima)

Despedida comovida, abraçando as pessoas de boa vontade

- «Desça sobre Portugal e todos os seus filhos e filhas a minha Bênção Apostólica, portadora de esperança, de paz e de coragem… Continuemos a caminhar na esperança! Adeus!» (14.Maio – Cerimónia de Despedida, no Porto)

- «Para todos os portugueses, fiéis católicos ou não, aos homens e mulheres que aqui vivem, mesmo sem aqui terem nascido, vai a minha saudação na hora da despedida. Não cesse entre vós de crescer a concórdia, essencial para uma sólida coesão, caminho necessário para enfrentar com responsabilidade comum os desafios com que vos debateis.» (14.Maio – Cerimónia de Despedida, no Porto)

Haverá melhor prova do sucesso desta viagem, quando o Papa planeia voltar a Portugal e o cronista do Fígaro, Jean-Marie Guénois (já referido), a descreve como um ponto alto do seu pontificado? Citando-o: «O impacto foi mundial, sem dúvida, precisamente por causa do contexto e da capacidade de resposta do povo português… No fundo, o apelo à missão dos cristãos na sociedade… não surge como uma imposição, mas como uma proposta. Não é uma luta sem inteligência contra as forças da razão, mas uma reconciliação com as forças da razão. É assim o pontificado de Bento XVI

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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(1) Para consultar os textos, na íntegra, aceda ao site: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2010/index_portogallo_po.htm

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