30 novembro 2018

Dos profetas da graça

Há uma certa ideia, enraizada fortemente ainda que sem raizes científicas, de que se falarmos muito numa coisa essa coisa acontece. Normalmente falamos de coisas más: se falarmos muito numa doença talvez essa doença apareça; se falarmos muito num comportamento desagradável que se avizinha talvez esse comportamento se verifique. O poder desse oráculo é-lhe todo dado pelo maligno, está todo ele revestido de cheiro a enxofre. A doença de alguém pode acontecer se falarmos muito nela, mas não é por falarmos muito na cura de alguém que essa cura aparece. Pensamento positivo é outra coisa. Isto de que falo é apenas a probabilidade (ou a certeza nalguns espíritos mais fortes) de alguma coisa má acontecer se falarmos muito na possibilidade dessa coisa má acontecer.

Não sei se um profeta fala do futuro, daquilo que pode vir a acontecer - e normalmente o profeta não é um homem todo ele revestido de luz e brilho, muito pelo contrário - ou se fala para o futuro. Há a expressão profeta da desgraça, mas não há a expressão profeta da graça. Significa isto que falar do futuro (ou falar para o futuro) é sempre invocar o chifrudo, ou pelo menos deixar que ele se coloque de permeio. Falar para a frente (ou falar da frente?) nunca é um acto de virtuosismo ou de confiança - é sempre um alerta ameaçador, uma aviso para o castigo que se adivinha. Embora o dicionário diga que o profeta é alguém que prediz o futuro por inspiração divina, não me parece que seja verdade. 

Não se pode falar do passado que é sinal de imobilismo; não se pode falar do futuro que o maligno arrebita a orelha, sobretudo se falarmos muito nele. Resta-nos o presente, esse instante que se repete até à exaustão, que tem a duração de um nano-segundo, talvez menos, porque passa logo a ser passado. Resta-nos pouco do que falar, e é por isso que me dedico a isto. A alternativa poderia ser recomeçar a fumar, mas acabaram com os cigarros sem filtro.

JdB

29 novembro 2018

Textos dos dias que correm

Kyoto, Novembro 2018

Lucidez sem Ignorância nem Sobranceria

Possivelmente não é sem razão que atribuímos à ingenuidade e ignorância a facilidade de crer e de se deixar persuadir: pois parece-me haver aprendido outrora que a crença era como uma impressão que se fazia na nossa alma; e, na medida em que esta se encontrava mais mole e com menor resistência, era mais fácil imprimir-lhe algo. Assim como, necessariamente, os pesos que nele colocamos fazem pender o prato da balança, assim a evidência arrasta a mente (Cícero). Quanto mais vazia e sem contrapeso está a alma, mais facilmente ela cede sob a carga da primeira persuasão. Eis porque as crianças, o vulgo, (...) e os doentes estão mais sujeitos a ser conduzidos pelas orelhas (ou seja, pelo que ouvem). Mas também, por outro lado, é uma tola presunção ir desdenhando e condenando como falso o que não nos parece verosímil; esse é um vício habitual nos que pensam ter algum discernimento além do comum. Outrora eu agia assim, e, se ouvia falar de espíritos que retornam, ou do prognóstico das coisas futuras, de encantamentos, de feitiçarias, ou contarem alguma outra história que eu não conseguisse compreender, vinha-me compaixão pelo pobre povo logrado por essas loucuras. Mas actualmente acho que eu próprio era no mínimo igualmente digno de pena; não que posteriormente a experiência me tenha feito enxergar acima das minhas primeiras crenças, o que no entanto não dependeu da minha curiosidade (não resultou de uma falta de curiosidade minha); mas a razão ensinou-me que condenar assim resolutamente uma coisa como falsa e impossível é atribuir a si mesmo o privilégio de saber as fronteiras e os limites da vontade de Deus e do poder da nossa mãe natureza; e que não há no mundo loucura mais imensa do que reduzi-los à medida da nossa capacidade e inteligência.
Se chamarmos de monstros ou milagres aquilo a que a nossa razão não consegue chegar, quanto disso se apresenta continuamente à nossa vista? Consideremos o quanto é pelo meio do nevoeiro e às apalpadelas que somos conduzidos ao conhecimento da maioria das coisas que temos em mãos: sem dúvida descobriremos que é mais o hábito do que o conhecimento que nos elimina a estranheza delas, Enfadados e saciados que estamos do espectáculo dos céus, ninguém mais se digna levantar a cabeça para esses templos de luz (Lucrécio). e que, se essas coisas nos fossem apresentadas pela primeira vez achá-las-íamos tanto ou mais inacreditáveis que quaisquer outras, Suponde que agora pela primeira vez elas se manifestem subitamente aos mortais e de golpe se apresentem a seus olhos: não se poderia citar algo mais admirável, e antes de vê-las os homens não teriam podido acreditar em algo semelhante (Lucrécio).

Michel de Montaigne, in 'Ensaios'

28 novembro 2018

Duas Últimas

Do último e recentíssimo disco de António Zambujo, um cantor muito cá de casa. Oiçam e apreciem.

JdB




27 novembro 2018

Crónicas de um viajante ao Japão (VI)

Exterior do Palácio Imperial, Tóquio, Novembro 2018

Tóquio, Novembro 2018
Sábado sento-me a jantar, entre outras pessoas, com uma amiga que já estivera no Japão e que é uma entusiasta do país. Pede-me para eu referir um aspecto apenas que me tenha agradado no país. Respondo após um minuto de pensamento: a delicadeza. Vou então à procura de sinónimos que expliquem melhor a minha ideia: educação, vagar (aparente), civilidade, simpatia e educação, discrição. Mas há, sobretudo, uma certa delicadeza no trato. Diz-me um amigo, cujo pai viveu em Macau durante a II Grande Guerra (e que não era particular admirador dos japoneses) que com um chinês se pode (ou podia, noutro tempo?) estabelecer uma afectividade, mas com os japoneses não. E que nos japoneses esta delicadeza é cortesia e comportamento, não é interiorização.

Nara (ao pé de Kyoto), Novembro 2018
Kyoto, Novembro 2018
Kyoto, Novembro 2018
Tendo a discordar, mais por necessidade de me não entregar à desilusão do que por motivos científicos. Não tenho - nem nunca tive - apreço pelos chineses. É um povo que não me é simpático, que tem uma exuberância e um ruído (não só no tom de voz, mas também nos aparentes comportamentos sociais e no que já foram os vestuários, nas cores) que me desagrada. Sei que os japoneses, saindo dos seus jardins relaxantes e estéticos, são capazes dos gestos mais brutais e violentos, como se viu durante a II Grande Guerra. Percebe-se também, pelo facto do suicídio ser a principal causa de morte no Japão (não afianço esta informação, apanhei-a de esguelha numa apresentação) que nem tudo é sossego e delicadeza: há frustração, há stress profissional, haverá também uma certa incapacidade para lidar com o insucesso, com a diferença relativamente a um padrão.

Kyoto, Novembro 2018
Não obstante tudo isto - mais tudo aquilo que desconheço ou que não referi - o que saliento do Japão é a delicadeza. A delicadeza estética dos jardins; a delicadeza estética dos kimonos, da apresentação da comida, da abordagem das pessoas nas ruas ou nas lojas; a delicadeza estética da cerimónia do chá (diz-me esta amiga que este cerimonial se baseia na nossa missa, no que se refere ao manuseio das alfaias religiosas) ou dos poemas com dezassete sílabas e três linhas (os haiku)

o coração viajante não se enraíza 
antes quer ser
braseira ambulante (1)    

ou ainda a delicadeza de quem, à nossa frente, serviu e semi-confeccionou uma série de pratos tipicamente chineses. Talvez mesmo, porque não, a delicadeza das cores das árvores neste tempo em Kyoto, e que o meu amigo fq comentou no post de ontem. Por último, mas não se esgotando o rol, uma certa delicadeza no trato, no respeito pelos mais velhos ou na educação das crianças para não incomodarem o próximo.

Voltaria ao Japão? Sim, amanhã, para encontrar mais aspectos da vida onde a delicadeza se faz sentir.

Kyoto, Novembro 2018 (fotografia de ACC)
JdB

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(1) [in "O Eremita Viajante", de Matsuo Bashô. (Assírio & Alvim, 2016, Tradução de Joaquim M. Palma)] 

25 novembro 2018

XXXIV Domingo Comum - Solenidade de Cristo, Rei do Universo

EVANGELHO - Jo 18,33b-37

Naquele tempo,
disse Pilatos a Jesus:
«Tu és o Rei dos judeus?» Jesus respondeu-lhe:
«É por ti que o dizes,
ou foram outros que to disseram de Mim?» Disseram-Lhe Pilatos:
«Porventura eu sou judeu?
O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?»
Jesus respondeu:
«O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam
para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui».
Disse-Lhe Pilatos:
«Então, Tu és Rei?» Jesus respondeu-lhe:
«É como dizes: sou Rei.
Para isso nasci e vim ao mundo,
a fim de dar testemunho da verdade.
Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».

24 novembro 2018

Pensamentos Impensados

Genérico
Ainda se faz sexo ou só se faz género?

Diálogos impensáveis
Tem pero?
Não, acabou-se.
E tem peratura?
Também se acabou.
Então dê-me o cracia.
Quer fresco ou natural?

Cheirinhos
Cleópatra usava muitos perfumes, dos frascos não reza a História.

Contradições
Aperitivos são coisas que se vão comendo até se perder o apetite para a refeição.

Modas
Nos tempos de Adão as passagens de modelos tinha pouca imaginação, pois tratava-se, apenas, de parras e folhas de figueira; as folhas A4 tinham passado de moda.

Mais vale tarde...
A Justiça em Portugal tem 4 fases: 1ª Instância, Relação, Supremo e opinião pública.

SdB (I)

23 novembro 2018

Duas Últimas

Foi por causa de Tony Bennet que conheci K. D. Lang. Musicalmente falando, o grande crooner norte-americano apresentou-me a cantora para uma espécie de one night stand,  no decurso da qual a ouvi com gosto mas sem perspectivas de futuro, ao contrário de Tony Bennet, que oiço com gosto, como se o mundo fosse um desejo daquela voz quente, geneticamente italiana, cheia de uma espessura latina que não esmorece.

Não mais ouvi k. d. lang, não mais a procurei, nem sequer através de interposta pessoa. O que ouvi estava ouvido - não me orgulho da falta de vontade para procurar, porque a existência também é feita de preguiças e faltas de curiosidade. Voltei a encontrá-la aqui ontem, não por um acaso do destino, mas porque o espaço é local de visita regular. Já não há Tony Bennet mas, em compensação, há Coimbra, o Mondego, e aquele género de fado que alguém caracterizou, com graça, como nostálgico-impertinente. Cantar o Fado Hilário não é para todos, não sei sequer se deve ser para k. d. lang. Não sei se ela sabe português, se decifra o que canta.

Pode cantar-se o fado não se sabendo o que canta? Tenho dúvidas. E se não pode cantar-se, falamos então de um número circense, como encantar focas ou dar piruetas perigosas.

JdB  


22 novembro 2018

Poemas dos dias que correm

O Somno de João

O João dorme... (Ó Maria,
Dize áquella cotovia
Que falle mais devagar:
Não vá o João, acordar...)

Tem só um palmo de altura
E nem meio de largura:
Para o amigo orangotango
O João seria... um morango!
Podia engulil-o um leão
Quando nasce! As pombas são
Um poucochinho maiores...
Mas os astros são menores!

O João dorme... Que regalo!
Deixal-o dormir, deixal-o!
Callae-vos, agoas do moinho!
Ó mar! falla mais baixinho...
E tu, Mãe! e tu, Maria!
Pede áquella cotovia
Que falle mais devagar:
Não vá o João, acordar...

O João dorme... Innocente!
Dorme, dorme eternamente,
Teu calmo somno profundo!
Não acordes para o mundo,
Póde affogar-te a maré:
Tu mal sabes o que isto é...

Ó Mae! canta-lhe a canção,
Os versos do teu irmão:
«Na Vida que a Dor povoa,
Ha só uma coisa boa,
Que é dormir, dormir, dormir...
Tudo vae sem se sentir.»

Deixa-o dormir, até ser
Um velhinho... até morrer!

E tu vel-o-ás crescendo
A teu lado (estou-o vendo
João! Que rapaz tão lindo!)
Mas sempre, sempre dormindo...

Depois, um dia virá
Que (dormindo) passará
Do berço, onde agora dorme,
Para outro, grande, enorme:
E as pombas que eram maiores
Que João... ficarão menores!

Mas para isso, ó Maria!
Dize áquella cotovia
Que falle mais devagar:
Não vá o João, acordar...

E os annos irão passando.

Depois, já velhinho, quando
(Serás velhinha tambem)
Perder a cor que, hoje, tem,
Perder as cores vermelhas
E for cheiinho de engelhas:
Morrerá sem o sentir,
Isto é deixa de dormir...
Acorda e regressa ao seio
De Deus, que é d'onde elle veio...

Mas para isso, ó Maria!
Pede áquella cotovia
Que falle mais davagar:

Não vá o João, acordar...

António Nobre, in 'Só'

***

Quando Chegar a Hora

Quando eu, feliz! morrer, oiça, Sr. Abbade,
    Oiça isto que lhe peço:
Mande-me abrir, alli, uma cova á vontade,
    Olhe: eu mesmo lh'a meço...

O coveiro é podão, fal-as sempre tão baixas...
    O cão pode lá ir:
Diga ao moço, que tem a pratica das sachas,
    Que m'a venha elle abrir.

E o sineiro que, em vez de dobrar a finados,
    Que toque a Alléluia!
Não me diga orações, que eu não tenho peccados:
    A minha alma é dia!

Será meu confessor o vento, e a luz do raio
    A minha Extrema-Uncção!
E as carvalhas (chorae o poeta, encommendae-o!)
    De padres farão.

Mas as aguias, um dia, em bando como astros,
    Virão devagarinho,
E hão-de exhumar-me o corpo e leval-o-ão de rastros,
    Em tiras, para o ninho!

E ha-de ser um deboche, um pagode, o demonio,
    N'aquelle dia, ai!
Aguias! sugae o sangue a vosso filho Antonio,
    Sugae! sugae! sugae!

Raro têm de comer. A pobreza consome
    As aguias, coitadinhas!
Ao menos, n'esse dia, eu matarei a fome
    A essas desgraçadinhas...

De que serve, Sr. Abbade! o nosso pacto:
    Não me lembrei, não vi
Que tinha feito com as aguias um contrato,
    No dia em que nasci.

António Nobre, in 'Só'

21 novembro 2018

Vai um gin do Peter’s ?

QUANDO A HISTÓRIA MERECE MEMÓRIA   – 11 & 21 DE NOVEMBRO

Replicando o gesto de há 100 anos, às 11h00 (de Paris) de 11 de Novembro de 2018, os sinos dobraram pela paz. Há 100 anos, dominava o medo, o ódio, a devastação e a morte. Actualmente, recorda-se a tragédia passada por «devoir de mémoire», acreditando que «La vague [mortífera] n’emportera pas le souvenir».

A papoila, à esquerda, é a flor evocativa da I Guerra.

Junto ao Arco do Triunfo, reuniram-se 70 Chefes de Estado – entre europeus, EUA, Rússia, magrebinos e outros – para homenagear as vítimas da I Guerra Mundial e garantir um futuro de paz às novas gerações. Junto ao mais famoso memorial bélico do Ocidente, a palavra de ordem condensava o essencial: «Plus jamais ça».

Perspectiva dos batedores da escolta de Trump, no caminho para o Arco do Triunfo –
Credit Tom Brenner para o «The New York Times»

Em Paris, o centenário do armistício foi celebrado com minutos de silêncio, música, um discurso de Macron e poemas de soldados-poetas, compostos a 11 de Novembro de 1918 por franceses, britânicos, alemães e declamados, um século depois, por liceais das diferentes nacionalidades.

O repertório musical acentuou o eixo Paris-Berlim, a abrir com Bach no timbre nostálgico e solene do violoncelo, primorosamente executado pelo sino-americano nascido na capital gaulesa – Yo-Yo Ma. Comoveu Putin, segundo noticiou o «Evening Standard»(1) (aqui em gravação de qualidade sofrível):



As marcas russas na cerimónia de 2018 foram mais longe: a sequência protocolar atrasou-se com a demora de Vladimir P. junto ao monumento em honra das tropas que, à data, obedeciam ao Czar. Ali depositou um ramo de flores em escarlate luminoso, cor de sangue, no formato de bouquet de noiva, à parte das hastes compridas.


Depois de Bach, seguiu-se a sonata do francês Maurice Ravel, interpretada pelo duo Yo-Yo Ma e o violinista Renaud Capuçon. Para concluir: o «Bolero» (1928) de Ravel, que se tornou símbolo de esperança de um pós-guerra pacificado através do filme do realizador gaulês  «Les uns et les autres» (1980). E calhou a um maestro russo dirigir a European Union Youth Orchestra – Vasily Petrenko.

Uma curiosidade a ver com Portugal e o «Bolero»: o maestro Pedro de Freitas Branco, amigo de Ravel, dirigiu uma execução mais lenta daquela composição, que se repete e avança em crescendo como uma espiral obsessiva, alongando-a em dois minutos e meio.

Em Étoile, irrompeu ainda uma actuação musical mais atípica mas pleno de intensidade, na voz potente da artista do Benim Angélique Kidjo3, para prestar homenagem à forças expedicionárias africanas que participaram na Grande Guerra e tendem a ser ignoradas. Redundou noutro momento comovente para vários dos VIPs presentes.  É Kidjo quem associa a voz à essência do ser humano, defendendo que: «La voix est le mirage de l’âme».



No último Domingo de S. Martinho, por todo o planeta, multiplicaram-se as comemorações do centenário do armistício, percebendo-se quanto os gestos simbólicos, celebrados em conjunto, têm o condão de unir povos de todos os confins do planeta, partilhando a mesma dor e afirmando a mesma vontade de paz:

Sydney, Australia - Red poppies are projected on to the sails of the Sydney Opera House.
Photograph: David Gray/Reuters (2)

Children laid poppy wreaths at a memorial in Hong Kong.
Credit Vivek Prakash/Agence France-Presse — Getty Images

Kolkata, India - An Indian army soldier carries a wreath
before laying it at the war graves cemetery during a ceremony to mark the centenary. 
Photograph: Rupak de Chowdhuri/Reuters

Transcorridos 10 dias no calendário, surge a festa de 21 de Novembro, que suplanta o grande Cisma do Oriente e toda a cristandade (em especial, ortodoxos e católicos) evoca a Apresentação de Nossa Senhora no templo. Reza a história que, aos 3 anos de idade, Sant’Ana e S.Joaquim levaram Maria ao templo para agradecer o nascimento da filha. Repetiam a experiência de Abraão, dos pais de S.João Baptista e de tantos outros casais a quem fora dado o dom de conceber tardiamente, para certificar uma fecundidade inexplicável e impossível pelas leis da natureza.

Mal chegou à longa escadaria do templo, apenas reservada para os sacerdotes, Maria subiu-a impelida pelo Espírito Santo e foi recebida pelos sacerdotes com as mais altas honras, conduzindo-a ao núcleo mais sagrado templo, apenas reservado aos eclesiásticos em ocasiões especialíssimas.

Talvez por coincidência (e, naturalmente,  gosto pessoal), as melhores telas alusivas a esta evocação da infância da Mãe de Deus e da Humanidade pertencem a italianos, que beneficiam do facto de se encontrarem na confluência das civilizações oriental e ocidental, desde há milénios: 

Fra Carnevale, «Apresentação da Virgem» (detalhe), c. 1467

Ghirlandaio, «Apresentação da Virgem», na Capela Tornabuoni em Santa Maria Novella,
Florença, 1486–90.

Titian, «Apresentação da Virgem», c. 1535.

Outros eventos tiveram lugar a 21 de Novembro, embora nenhum congregue vontades tão diferentes e complementares como o que inspirou artistas de vários gerações. Elencando alguns dos que fizeram história: em 1818, o Czar Alexandre I apresentou uma petição em favor da constituição de um Estado judeu no território da Palestina; no rescaldo da Revolução de Outubro, logo em 1917, o espírito lúcido do grande escritor russo Maxim Gorky classificou Vladimir Lenin de «fanático cego e aventureiro irracional»; em 1933, foi aberta a primeira Embaixada dos EUA na capital da URSS; em 1937, deu-se a estreia da 5ª Sinfonia de Dimitri Shostakovitch, em Leningrado, recebida com uma ovação recorde de uma hora; em 1970, o golpe de Estado na Síria iniciou a dinastia do clã al-Assad no poder; em 1977, o Concorde rasgou os ares, pela primeira vez, num voo entre Londres e Nova Iorque; em 2017, Mugabe aceitou resignar, ao fim de 37 anos no cargo de presidente do Zimbabwe.

O grande mestre que é o tempo confirma a validade da memória histórica. Por isso, finda a II Guerra Mundial, foi gravado nos campos de concentração nazi, em grandes parangonas, o alerta do filósofo George Santayana (1863-1952): «Those who do not remember the past are condemned to repeat it».

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas, numa Quarta-feira)
____________________________
(1)   https://www.standard.co.uk/news/world/vladimir-putin-at-paris-armistice-day-russian-president-wells-up-as-cellist-plays-at-remembrance-a3986951.html .
(2)   https://www.theguardian.com/world/gallery/2018/nov/11/armistice-day-is-marked-around-the-world-in-pictures#img-17. 
(3)   Esta multifacetada cantora, compositora, actriz, dançarina e realizadora, três vezes premiada com o Grammy, teve uma actuação memorável no Rock in Rio de 2015. Quem lá esteve, penso que não a esquece. É especialmente conhecida pela sua interpretação de MAMA AFRICA:


20 novembro 2018

Textos dos dias que correm

A Inutilidade do Viajar

Que utilidade pode ter, para quem quer que seja, o simples facto de viajar? Não é isso que modera os prazeres, que refreia os desejos, que reprime a ira, que quebra os excessos das paixões eróticas, que, em suma, arranca os males que povoam a alma. Não faculta o discernimento nem dissipa o erro, apenas detém a atenção momentaneamente pelo atractivo da novidade, como a uma criança que pasma perante algo que nunca viu! Além disso, o contínuo movimento de um lado para o outro acentua a instabilidade (já de si considerável!) do espírito, tornando-o ainda mais inconstante e incapaz de se fixar. Os viajantes abandonam ainda com mais vontade os lugares que tanto desejavam visitar; atravessam-nos voando como aves, vão-se ainda mais depressa do que vieram. Viajar dá-nos a conhecer novas gentes, mostra-nos formações montanhosas desconhecidas, planícies habitualmente não visitadas, ou vales irrigados por nascentes inesgotáveis; proporciona-nos a observação de algum rio de características invulgares, como o Nilo extravasando com as cheias de Verão, o Tigre, que desaparece à nossa vista e faz debaixo de terra parte do seu curso, retomando mais longe o seu abundante caudal, ou ainda o Meandro, tema favorito das lucubrações dos poetas, contorcendo-se em incontáveis sinuosidades, fazendo incessantemente ainda mais um circuito antes de enfim descansar no leito de que se aproxima. Mas viajar não torna ninguém melhor de carácter nem mais são de espírito. Teremos de nos aplicar ao estudo, de frequentar os mestres da filosofia, a fim de assimilarmos os princípios já estabelecidos e investigar o que ainda está por descobrir. Só assim a alma se pode arrancar à mais dura servidão e alcançar a verdadeira liberdade. Enquanto ignorares a distinção entre o evitável e o desejável, o necessário e o supérfluo, o justo e o injusto, o moral e o imoral — nunca serás um viajante, mas apenas um ser à deriva.As tuas deambulações não te trarão qualquer proveito, já que viajas na companhia das tuas paixões, seguido sempre pelos males que te dominam. E bom era que estes males apenas te seguissem! Bom era que eles estivessem longe de ti! O que se passa, porém, é que os levas em cima, e não atrás de ti. Deste modo, onde quer que estejas, eles oprimem-te, destroem-te com a mesma virulência. Um doente precisa que se lhe indique um remédio, não um panorama. Se um homem parte uma perna ou faz uma entorse não vai pôr-se a passear de carro ou de barco: manda, sim, é chamar um médico que lhe ligue o membro partido ou ponha no seu lugar o osso deslocado. Ora bem: acaso pensas tu que uma alma quebrada ou torcida em tantos lugares pode tratar-se com uma simples mudança de ambiente? Não, esta doença é demasiado grave para curar-se com um passeio! A formação de um médico ou de um orador não se faz em viagem; a aprendizagem de qualquer arte não depende da geografia. Como pensar que a sabedoria, a mais importante das artes, se pode adquirir saltando daqui para acolá?! Podes crer que nenhuma viagem te põe ao abrigo do desejo, da ira, do medo; se tal fosse o caso, todo o género humano começaria em massa a viajar. Estes males não cessarão de atormentar-te, de desgastar-te ao longo das tuas viagens, terrestres ou marítimas, enquanto tiveres em ti as suas causas. Admiras-te que de nada valha fugir quando tens dentro de ti aquilo de que foges?

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

19 novembro 2018

Crónicas de um viajante ao Japão (VI)

Kyoto, Japão, Novembro de 2018

Quem visita capitais europeias entra fatalmente em igrejas, seja por uma questão de fé, seja por uma questão estética, para apreciar o estilo arquitectónico, a estatuária, as pinturas, a talha, etc. Estar no Japão significa entrar em pagodes ou em templos, "edifícios" belíssimos, estruturas feitas em madeira e que estão entre as maiores - há uma que é mesmo a maior - do mundo. Na semana passada entrámos num, cujo nome não consegui fixar: o ambiente é simpaticamente escuro, a madeira impressiona, o silêncio nunca é violado, uma ou outra escultura são de rara beleza ou causam grande impressão. As pessoas circulam de volta do altar onde o Buda olha por todos e para todos. Há uma certa reverência das pessoas, semelhante à de um cristão numa igreja cristã. 

Muitos destes pagodes / templos (confesso que não sei a diferença exacta) há uma caixa alta, rectangular e com pés, dotada ranhuras inclinadas, onde os fiéis depositam a sua esmola (socorro-me da nossa expressão). É vulgar ver gente local a deitar moedas, como é vulgar ver turistas a fazê-lo, talvez imaginando que é a sua contribuição para o momento espiritual do dia, ou uma espécie de Fontana di Trevi onde as moedas (já atiradas de longe, dada a profusão de turistas em frente) indicam uma possibilidade de regresso.

Entrámos num desses templos. Na penumbra dominante, três homens vestidos de forma normal, talvez num uniforme discreto. Um deles tem um boné com a pala voltada para trás. O que fazem? Equipados com um balde de plástico, um funil de plástico e sacos de pano, recolhem as moedas que os visitantes depositaram na caixa, talvez desejando dias melhores ou a recuperação de doenças. Não há nada de transcendental nesta actividade: um boné, equipamentos de plástico, sacos, barulho de moedas. 

Podemos ter pensamentos frágeis, esperançosos ou generosos no oferta de uma esmola. Fazemo-lo de forma discreta, não exuberante. Na hora da recolha, nada mais do que plástico, modernidade, cumprimentos de normas de execução permanente. Tudo se resume a algo muito terreno, inevitavelmente terreno.

JdB

18 novembro 2018

33º Domingo do Tempo Comum

EVANGELHO - Mc 13,24-32
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Naqueles dias, depois de uma grande aflição,
o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade;
as estrelas cairão do céu
e as forças que há nos céus serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens,
com grande poder e glória.
Ele mandará os Anjos,
para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais,
da extremidade da terra à extremidade do céu.
Aprendei a parábola da figueira:
quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas,
sabeis que o Verão está próximo.
Assim também, quando virdes acontecer estas coisas,
sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.
Em verdade vos digo:
Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Passará o céu e a terra,
mas as minhas palavras não passarão.
Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece:
nem os Anjos do Céu, nem o Filho;
só o Pai».

***

Matar a morte *

É possível a fé «matar a morte»?

Se a vida é uma bênção, a morte surge no horizonte, ainda que distante, como uma maldição impossível de contornar. Pode surpreender-nos em tempo de festa e a sua densa sombra sobre aqueles que amamos é fonte de angústia. Dialogamos com ela durante noites a fio enquanto mantemos um braço de ferro até ao limite, até ao dia em que a abraçamos ou somos mansamente abraçados por ela.

«No fim dos tempos», nesse tempo que desejamos longínquo, sonhamos que a «morte morra», porque até aquele que a antecipa procura desesperadamente um espaço de liberdade e de realização. Desejamos que a morte seja a pedra na qual assentamos o pé para atravessar o grande lago, a fronteira que separa os dois mundos, realidade transitória mas necessária para aceder à plenitude de felicidade que naturalmente ansiamos.

É possível que a «morte morra?» A perspetiva cristã enfrenta este mistério de um modo que alguns consideram uma estratégia de negação da realidade, uma espécie de fuga para a frente. A finitude não é uma desgraça, antes pelo contrário, é uma experiência de libertação. O morrer, associado por vezes à dor terrível, é o pórtico para a comunhão plena com Deus.

Esta nova visão da morte está já presente nos primeiros testemunhos que chegaram até nós, como por exemplo, a versão de S. Marcos do fim dos tempos que escutamos este domingo: «Nos últimos dias, depois de uma grande aflição… Nessa altura, verão o Filho do Homem vir…. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos…».

Terá sido num ambiente familiar, longe do olhar persecutório das autoridades, que a mensagem apocalíptica de Jesus foi repetidamente proclamada. Ameaçado e perseguido por causa da fé, o pequeno grupo não arrepiou caminho. Hoje é-nos difícil imaginar o impacto disruptivo deste pequeno grupo na cultura dominante. Eram, no mínimo, bastante estranhos. Como destaca o ensaísta D. Hart, faziam parte da comunidade as pessoas mais desprezíveis. Aos olhos dos pagãos, tinham sido justamente condenadas, torturadas e executadas pelos seus crimes mas, para espanto de muitos, rapidamente eram glorificadas como mártires da fé, cujas relíquias ocupavam o espaço devocional dos antigos deuses.

O comportamento anormal dos seguidores do Galileu, também Ele torturado e executado em espaço público, é apenas compreensível à luz da eminente ressurreição, caso contrário, não passaria de um grupo de lunáticos sem qualquer consistência social e histórica. Um novo dado altera substancialmente o modo de ver e estar no mundo: a devoção ao Deus crucificado e ressuscitado.

É possível a fé «matar a morte»? A resposta dos cristãos é inequivocamente afirmativa.


* P. Nélio Pita, CM
Publicado em 16.11.2018

17 novembro 2018

Pensamentos Impensados

Detector de mentais
Os governantes, quando falam, deveriam estar ligados ao detector de mentiras.

Ditados políticos
Aldrabe-se o burro à vontade do dono.

Falhas
Não cumpriu com o acordado; estava adormecido.

Linguajares
A confusão gerada na Torre de Babel teve lados positivos: apareceram as línguas de gato.

Aplicações
É proibido pôr dinheiro em ovos chocos nas ilhas do camião.

Cadeiras
Ricardo Salgado deveria ter ido para o banco dos suplentes.

SdB (I)

16 novembro 2018

Crónicas de um viajante ao Japão (V)



Talvez uma das melhores metáforas para o fim do Natal enquanto festa cristã esteja nesta singela fotografia tirada a uma montra em Tóquio. A Wikipédia diz-me que a percentagem de igrejas cristãs no Japão é de 2,3%.  E no entanto, Tóquio e Kyoto estão pejadas de símbolos natalícios. Onde? No comércio, é claro, 

A fotografia ilustra uma realidade generalizada no Japão: não há restaurante que se preze que não tenha uma composição dos pratos que serve. Este estabelecimento, em particular, desejava aos clientes um feliz natal, quando ainda nem no Advento estamos.

O Natal ERA uma festa cristã. Pouco a pouco, com o beneplácito dos cristãos, foi sendo apropriada pelos não crentes, e transformada numa festa comercial, assente na troca de presentes. No Japão - ou neste estabelecimento, por exemplo, o Menino Jesus foi substituído por umas lulas, por uma guiozas que estarão disfarçadas, por um sushi que espreitará num local escondido da coroa de flores.

Imagino que grande parte dos japoneses (quiçá os imperadores...) festejem o Natal: trocam presentes, definem o amigo secreto, estabelecem um tecto para o valor das ofertas, porque a carestia da vida assim o impõe. Presumo que a maioria seja xintoísta mas, não obstante, farão tudo isto. O Menino Jesus? O google tradutor diz que em japonês se escreve assim: 少年イエス. É o melhor que temos...

JdB

15 novembro 2018

Crónicas de um viajante ao Japão (IV)

Parte de um mapa do metro de Kyoto que dão aos estrangeiros. O metro local não é mais complicado do que o de Lisboa. 

14 novembro 2018

Crónicas de um viajante ao Japão (III)


Algumas pessoas - e estas pessoas são, normalmente as que se encontram fora da Igreja Católica - gostam de criticar o comércio religioso que floresce junto a locais de culto. E falam ainda de alguma superstição que rodeia a ideia de rezas para a obtenção de favores. Apesar de aquilo que as mover nem sempre ser uma crítica ligeira, mas um desejo de cravar mais uma ferroada na Igreja, não deixo de concordar com elas um pouco: na verdade, há um comércio demasiado junto de alguns locais, agravado pela reduzida qualidade estética dos produtos à venda. Por outro lado, não sou fã da ideia da intercessão dos santos ou das rezas que as pessoas lhes fazem para a obtenção de finezas.

Ontem estivemos em Nara, uma pequena cidade a 30 minutos de comboio de Quioto. Visitámos pagodes e templos, todos de uma imponência e beleza sem igual. Um deles (de que porei fotografias um dia) limita-se a ser a maior construção em madeira do mundo. Entrámos num: junto ao altar, pequeninas madeiras à venda onde as pessoas podem inscrever um pedido qualquer. Segundo um aviso em A4 branco plastificado, os deuses (ou aquele(s) específico(s) são particularmente eficazes na resolução de problemas de saúde, no acompanhamento dos mais idosos e - isto é que é importante - na melhoria de notas e no auxílio à entrada na faculdade. Noutro templo, particularmente bonito, uma quantidade imensa de artigos religiosos à venda. 

Declaração de interesses: sou um admirador do Japão e de algumas das suas características. Mas, neste caso em apreço, gosto de citar Vasco Santana: Carneiro amigo, andamos todos ao mesmo.

JdB

13 novembro 2018

Poemas dos dias que correm

the horizon just laughed

vinte anos para descobrir que afinal houve uma fresta,
a possibilidade de uma centelha e de toda uma vida diferente
entre esse ponto A e este ponto B onde, desalegres e bebidos,
matamos mágoas destes vinte anos tão bem e tão mal vividos.
de súbito, eras outra vez tu nos teus vinte e poucochinhos anos
ou, creio bem, seria eu, num etilizado e furioso "rewind",
em busca destes anos, destes tantos anos tontos.
a luz do cigarro iluminou-te ténuemente - como és bela, pensei -,
enquanto semi-dançavas sentada canções antigas.
sim, sempre o amor, agora como dantes como amanhã,
a única coisa viva em toda uma cidade que dorme.
os anos passaram, rapariga (obrigado, Manuel, pelas palavras)
e nós estamos apenas mais longe de termos acertado
e tão mais perto de termos falhado essa nossa outra vida.

o horizonte riu-se.
o táxi cruzou a jamais nossa cidade.
e eu disse-te adeus, até outra vida, menina.

gi

Crónicas de um viajante ao Japão (II)

Tóquio, Novembro de 2018

Kyoto, Novembro de 2018

Entre ambas as fotografias há três elementos comuns: japoneses, Japão, telemóvel. Interessa-me o telemóvel, porque o resto é uma inevitabilidade: na fotografia de cima, cinco pessoas numa carruagem de metro, todas ao telemóvel. Na fotografia de baixo, um casal que jantou ao nosso lado: ambos de telemóvel. O telemóvel - e sobre isso já falei - deixou de ser uma peça autónoma do corpo humano para se tornar numa extensão do braço, num componente não independente do cérebro. No Japão é particularmente evidente: não se vê gente sem um telemóvel na mão, seja na rua, à pendura num carro, numa estação de metro, num restaurante. Gente isolada, em grupo, com mais um amigo ou amiga, a pedir um sushi ou a pagar uma conta - sempre de telemóvel na mão, embrenhados no seu pequeno mundo. Em Portugal será, ou já é, assim - e não augura nada de bom.

JdB

12 novembro 2018

Crónicas de um viajante ao Japão (I)

Num sentido arquitectónico, e salvaguardadas as proporções, estar em Tóquio é o mesmo que estar em Toronto ou em Nova Iorque, cidades de certa forma iguais: edifícios modernos e diferentes entre si, a constituírem um conjunto harmonioso numa diversidade grande. Distinguem-se radicalmente de Paris, Londres, Viena ou mesmo Buenos Aires. Como sabemos onde estamos? Pelo escrita que é diferente e pela quantidade imensa de japoneses nas ruas. Fora isso poderíamos estar noutro país.

Alguns aspectos que marcaram a atenção  (elencados sem grande grau de prioridade):

- "velhos" fardados que servem, talvez não de polícia de segurança pública, mas de apoio ao cidadão, ao trânsito, a quem tem uma dúvida; gente mais sénior (muito acima dos 65 anos) nos museus ou em gabinetes de informação. Percebe-se o respeito e a consideração pelos mais idosos, o aproveitamento de características válidas em gente que ainda é muito válida, muito ao contrário da nossa cultura ocidental, de total descarte dos menos jovens.  

- a delicadeza não uniforme das pessoas: os mais velhos fazem jus a uma ideia que tinha de uma certa delicadeza oriental (seguramente japonesa). Nos mais novos não se sente tanto isso, andam pelas ruas (sobretudo num bairro de que falarei mais adiante) como se a vida fosse a deles, a caminhada fosse a deles, o espaço fosse o deles. Mas há também uma delicadeza, que é muito diferente de servilismo, das pessoas no comércio. Como exemplo, a abertura das portas da loja da Seiko em Ginza (um bairro de lojas boas) é seguida da vénia de duas jovens que recebem o cliente. A vénia é um cerimonial, uma atitude de respeito, uma delicadeza na relação humana. Muito diferente, também, de uma espécie de horror ocidental a estas manifestações de consideração, como se isto impedisse a ideia de que somos todos obsessivamente iguais.

- o inglês, muito menos do que básico, de quase todas as pessoas com quem falámos: nas lojas, no aeroporto, no hotel, nos restaurantes, no metro, numa informação na rua. É muito vulgar explicarem-nos qualquer coisa num mapa falando apenas japonês, como se o meio de comunicação fosse um dedo que percorre ruas representadas numa folha de papel.

- a quantidade, dizem-me, de rapaziada ostensivamente efeminada. 

- o silêncio e fluidez do trânsito verificados no sábado e domingo, mas também nesta segunda-feira, dia normal de trabalho. Há um civismo óbvio, que é consolidado por uma ausência total de lixo nas ruas, no asseio dos passeios.

Shibuya (Japão) Novembro de 2018

- a multidão de jovens em Shibuya. Reproduzo a informação que me foi dada por um português casado com uma japonesa: em Shibuya, para ver o crossing, suba ao Starbucks - é a melhor vista numa rua lateral está o edifício circular 109, onde nasce a moda louca jovem. vale mesmo a pena. Mais bizarro não existe. Estão lá as meninas vestidas de negro, as de cor de rosa e caras prateadas. Comece do ultimo andar e vá descendo... perca-se nas ruas traseiras de Shibuya pelo por de sol, quando as tribos começam a emergir para a noite. A descrição não é exagerada. Vi quase tudo isto, numa circulação de pessoas em quantidade nunca vista. 

- o culto do estar-se descalço. Promove-se essa higiene (e o itálico significa que talvez não seja apenas asseio) no hotel onde estamos e num restaurante onde fomos. 

Tóquio, Novembro de 2018

- a comida, saudável, de digestão fácil. Almoçámos uma espécie de sopa com legumes cozidos, cujo caldo se aproveitou para aquecer um arroz e cozer um ovo mexido. Tudo isto servido (e explicado em japonês) por uma empregada vestida de quimono, de delicadeza e de tempo.

- a curiosidade de se encontrar um conterrâneo numa rua bonita de Ginza (bairro bom onde estamos), como se o solo pátrio nos acompanhasse sempre. Paramos numa montra a olhar para uns bolos: parecem ovos cozidos, digo eu. A dois metros um cavalheiro ocidental olha-nos, sorri e pergunta na língua que é a nossa pátria comum: portugueses? Conversámos cinco minutos, como velhos conhecidos e só não fizemos a pergunta que move todo o lusitano em terras estrangeiras: onde podemos comer um bom bacalhau?

- a dimensão do quarto de hotel: talvez 11 metros quadrados, o que transforma a palavra proxémia (dos dicionários: estudo das distâncias físicas que os indivíduos estabelecem entre si quando interagem socialmente e do significado e possíveis razões da variação dessas distâncias) numa inutilidade, e torna a gestão da circulação humana uma actividade particularmente desafiante...

JdB

11 novembro 2018

32º Domingo do Tempo Comum

EVANGELHO - Mc 12,38-44

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus ensinava a multidão, dizendo:
«Acautelai-vos dos escribas,
que gostam de exibir longas vestes,
de receber cumprimentos nas praças,
de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas
e os primeiros lugares nos banquetes.
Devoram as casas das viúvas
com pretexto de fazerem longas rezas.
Estes receberão uma sentença mais severa».
Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro
a observar como a multidão deixava o dinheiro na caixa.
Muitos ricos deitavam quantias avultadas.
Veio uma pobre viúva
e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.
Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:
«Em verdade vos digo:
Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.
Eles deitaram do que lhes sobrava,
mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,
tudo o que possuía para viver».

10 novembro 2018

Pensamentos impensados

Opções
Deus foi machista; porque é que o primeiro homem não foi uma mulher?

Chupista
Adão, quando passou a viver em  Massamá, recebia subsídio de reintegração.

Bichanos
Se tivesse uma gata, chamava-lhe Cristi; era a gata Cristi.

À condição
Sou um precário neste mundo; vou fazer greve, só não sei a quê.

Mudança de estado
Quando Jesus Cristo ressuscitou Lázaro, este já cheirava mal. Passou a cheirar a quê? A odor de santidade?

E ponto final
Ponto de vista não vale nada; um ponto não tem dimensão.

SdB (I)

09 novembro 2018

Próxima semana



À hora a que os meus fiéis leitores acederem ao post de hoje, estarei a caminho do Japão, com uma escala em Helsínquia. Durante alguns dias estarei em Tóquio. Parto depois para Kyoto onde assistirei ao congresso internacional que junta médicos oncologistas pediátricos de todo o mundo e associações de crianças com cancro. Há algum tempo para turismo, mas as reuniões, apresentações e encontros, que começam a 14 e terminam, a 20, sucedem-se a um ritmo cansativo.

Tentarei manter o blogue vivo e com notícias do império do sol nascente. Não sei a que horas e com que frequência, mas vai ser como for possível.

Adeus, até ao meu regresso,

JdB  

08 novembro 2018

Da ligeireza com que se abordam as coisas importantes

Foi Samuel Taylor Coleridge (Inglaterra, 1772 - 1834) quem cunhou a expressão willing suspension of disbelief que se traduziria em português por suspensão voluntária da descrença embora eu prefira, em benefício do meu argumento, suspensão voluntária da incredulidade. Por outro lado, numa carta aos seus irmãos George e Thomas, John Keats (Inglaterra, 1795 - Itália, 1821) usou a expressão negative capability, que poderíamos traduzir por capacidade negativa.  

Citemos Coleridge (sublinhados meus): In this idea originated the plan of the 'Lyrical Ballads'; in which it was agreed, that my endeavours should be directed to persons and characters supernatural, or at least romantic, yet so as to transfer from our inward nature a human interest and a semblance of truth sufficient to procure for these shadows of imagination that willing suspension of disbelief for the moment, which constitutes poetic faith. 

Citemos Keats: (...) and at once it struck me what quality went to form a man of achievement especially in literature and which Shakespeare possessed so enormously - I mean negative capability, that is, when a man is capable of being in uncertainties, mysteries, doubts, without any irritable reaching after fact and reason - Coleridge, for instance, would let go by a fine isolated verisimilitude caught from the penetralium of mystery, from being incapable of remaining content with half-knowledge.  

O que diz Coleridge (ou me diz a mim)? Que para alguma leituras - nomeadamente de poesia - é preciso suspendermos a incredulidade. Isto é, deixarmos-nos levar pela improbabilidade, pela inverosimilhança, pelo aparente absurdo do poema e, com isso nos encantarmos. É a suspensão da incredulidade que está por detrás da fé poética. 

Keats diz aparentemente o mesmo, só que entende que Coleridge não o consegue. Para Keats, Shakespeare conseguia-o: ficava com meias verdades, não o incomodava o mistério ou a falta de explicação ou a dúvida. Deixava-se ir. Já Coleridge, diz Keats, sendo muito mais inteligente, não o consegue, não saberia viver numa meia verdade, não conseguiria não perceber tudo, exigiria uma explicação.

A fé (no sentido religioso do termo) é a suspensão voluntária da incredulidade. Nada daquilo fará muito sentido, mas deixamo-nos "incredulizar" para descobrir o encanto. E não vale a pena querer uma explicação para tudo, perceber os meandros da coisa, encontrar uma lógica por trás do amor aos inimigos ou da morte na cruz ou da justiça no regresso do filho pródigo. 

Talvez fossemos todos um pouco mais felizes com esta suspensão voluntária da incredulidade e com uma certa dose de capacidade negativa. Por vezes a explicação é um fosso, como me disseram uma vez. 

JdB    

07 novembro 2018

Vai um gin do Peter’s ?

QUANDO AS VÍTIMAS TÊM NOME, A PERSEGUIÇÃO É MENOS TOLERADA

Os nazis e, especificamente, o dr. Goebbels percebeu muito bem o aparente paradoxo de ser mais tolerável para a opinião pública matar milhões do que um par de pessoas. E explicava: um par de pessoas é uma escala muito familiar, que dá para nomear, pelo que qualquer ser humano percebe de imediato o horror de uma agressão ao pequeno grupo. Inversamente, uma multidão é um número demasiado elevado, tendendo a tornar-se longínquo e abstrato.  Em Outubro, o mundo assistiu (ainda assiste) incrédulo às torpezas de regimes iníquos, que cruzam essa «linha vermelha», parecendo ignorar que serão os principais alvos dos estilhaços que provocaram.

A 2 de Outubro, deu-se o assassinato macabro do jornalista saudita, que denunciava as injustiças do mundo islâmico e, em especial, as perpetradas pela Casa de Saud.

No final de Outubro, os 13 juízes do Supremo Tribunal da República Islâmica do Paquistão basearam-se nas «contradições nos testemunhos» para mandar libertar uma pobre camponesa, encarcerada há 9 anos por ter bebido água de um poço, contaminando-o pelo simples facto de ser cristã. Rezava a sentença: «Se não há outras acusações contra ela, pode ser libertada (…).» A segurança reforçada na própria sala de audiências demonstrava a dificuldade de todo o processo. O advogado de defesa fugiu para a Europa. Um movimento político local pediu «represálias contra os cristãos», o que levou o Governo a aumentar a segurança junto às igrejas cristãs. Islamabad encheu-se de manifestantes assanhados contra a decisão. No Ocidente, a evolução dos acontecimentos continua a ser acompanhada nos media e em blogs, porque a paquistanesa já é conhecida pelo nome – Asia Bibi – graças às denúncias de ONGs e associações cristãs como a AIS. 



O movimento pendular das notícias, entre boas e más, dá-nos um retrato realista da extrema fragilidade da situação, de final incerto, apesar das conquistas alcançadas:

6.Nov.2018 – Marido de Asia Bibi diz que família corre perigo de vida no Paquistão (e) gravou vídeo a pedir ajuda para sair do país – Jornal i

4.Nov.2018 - Família de Asia Bibi pede asilo ao Reino Unido, Canadá e Estados Unidos - Observador e Deutsche Welle

Sat 3 Nov 2018 - «Pakistan government accused of signing death warrant by blocking Christian woman from leaving the country». 

3.Nov. - Advogado da cristã absolvida foge do Paquistão - Diário de Notícias, Público [https://www.publico.pt/.../advogado-asia-bibi-fugiu-paquistao-crista-ilibada-blasfemia] «On Saturday, Bibi's lawyer Saiful Mulook left Pakistan for an undisclosed European country "to save [my] life from [the] angry mob."»

«A Pakistani supporter of hardline religious party the ASWJ stands on an image of Asia Bibi
during a protest rally on 2 November».Photograph: Aamir Qureshi/AFP/Getty Images

Manifestações de fanáticos violentos intensificam-se na capital:
«Asia Bibi’s Release Delayed as Pakistan Supreme Court Will Review Acquittal Decision
Amid Muslim Protests»


22/10/2018 - Um milhão de crianças reza o Terço pela libertação de Asia Bibi - No último dia 18 de outubro, um milhão de crianças em 80 países rezou o Terço pela libertação de Asia Bibi, uma mãe católica paquistanesa presa há oito anos acusada injustamente de blasfémia contra o Islão, [inicialmente] condenada à morte.  

22/03/2018 – O marido e a filha mais velha levam presente do Papa Francisco - Asia Bibi, mãe católica encarcerada injustamente no Paquistão, acusada de blasfémia contra o Corão, considerou “um milagre” a decisão da prisão de Multan de permitir que ela recebesse o terço que o Papa Francisco lhe enviou.   

22/03/2018 - Asia Bibi: «É um milagre receber o terço que o Papa me enviou»

26/02/2018 - Papa Francisco teve encontro emocionante com família de Asia Bibi -  A família de Asia Bibi, foi recebida pelo Papa Francisco no sábado, 24 de fevereiro, no Palácio Apostólico do Vaticano.   

Em Fevereiro, a família de Asia Bibi foi acolhida calorosamente no Vaticano.

Por cortesia do autor, segue o relato expressivo e sintético da história impressionante de Bibi, que voltou a complicar-se: 


«Asia Bibi foi absolvida

Na terça-feira passada, o Supremo Tribunal do Paquistão tornou pública a absolvição de Asia Bibi, uma mulher cristã presa em 2009 e condenada à morte por blasfémia: pelo facto de ser católica, ao beber água de um poço contaminou a água...

Durante todos estes anos, em que a execução estava sempre anunciada para daí a poucos dias, Asia Bibi foi mantida em condições de prisão terríveis, frequentemente em isolamento total, na tentativa de que abandonasse a fé católica. O marido e os cinco filhos também sofreram duramente e, por arraste, muitos católicos do país foram perseguidos e alguns foram mortos. Quando o Ministro Shabaz Bhatti se pronunciou a favor da libertação de Asia Bibi, um dos seus próprios guarda-costas tomou a iniciativa de o matar. Até os advogados muçulmanos que defendem Asia Bibi foram acusados de blasfémia e correram grande perigo. Naturalmente, os juízes do Supremo que a absolveram foram imediatamente ameaçados de morte. Além de muitos assassinatos isolados, houve massacres anticristãos em 2009 e em 2013 e teme-se que esta decisão do Supremo Tribunal volte a incendiar o fanatismo. A decisão estava tomada há um mês, mas o veredicto só agora foi tornado público, provavelmente por medo de reacções extremistas. O processo tem agora de percorrer a cadeia hierárquica até chegar ao Director da prisão, pelo que a libertação de Asia Bibi vai demorar algum tempo. Até lá, ela continua presa e praticamente incomunicável, sem mesmo poder falar com o advogado. Entretanto, a capital do país, Islamabad, está em alerta máximo. 

Muitas centenas de polícias guardam o Supremo Tribunal e unidades do exército tomaram posição diante de outros edifícios, em particular lugares onde os cristãos se reúnem. O partido islâmico Tehreek-e-Labbaik Pakistan organiza sucessivas manifestações de protesto contra a absolvição de Asia Bibi, com grande agressividade e exibição de força. Várias cidades do Paquistão estão paradas devido à onda de violência. Em várias delas, as autoridades desligaram as redes de telemóveis para tentar controlar a informação.

Muitos paquistaneses estão contra o fanatismo e alguns líderes muçulmanos vieram a público defender Asia. A própria sentença de absolvição cita o profeta Maomé: «Atenção! Quem for cruel e duro contra uma minoria não muçulmana, ou lhes retirar direitos, ou lhes impuser exigências superiores às suas forças, ou lhes tirar alguma coisa contra a sua vontade; eu próprio, o Profeta Maomé, o hei-de acusar no Dia do Juízo».

Desde que Asia Bibi foi presa, embora os meios de comunicação social de alguns países europeus tenham evitado divulgar o caso, a comunidade internacional manteve a pressão sobre as autoridades paquistanesas.

Nos meios cristãos de todo o mundo, milhões de pessoas rezaram o terço por esta intenção. Sobretudo o Papa Bento XVI e o Papa Francisco fizeram sentir o seu apoio a Asia Bibi e a todos os católicos perseguidos no Paquistão. No início deste ano, Francisco recebeu no Vaticano Ashiq Masih, o marido de Asia Bibi, e a filha mais velha do casal, juntamente com Rebecca, uma jovem nigeriana cristã que, depois de torturada pelo Boko Haram, deu à luz um filho de um dos sequestradores. Nessa audiência, o Papa rezou por Asia Bibi e pelas mulheres que continuam prisioneiras do Boko Haram. «O testemunho de Rebecca e o de Asia Bibi representam um modelo para uma sociedade que hoje tem cada vez mais medo da dor. São duas mártires», disse Francisco. «Penso muitas vezes na vossa mãe e rezo por ela», disse o Papa à filha mais velha de Asia. Ela transmitiu-lhe o recado da mãe: «Santo Padre, a mãe pediu-me que lhe desse um beijo».

Através de vários canais, Asia Bibi conseguiu transmitir para o exterior várias outras mensagens. A principal é dizer que perdoa de todo o coração os que lhe fazem mal e pedir orações por ela, pela família, pelos cristãos perseguidos, pela Igreja e por todo o mundo.»

José Maria C.S. André
ABC Portuguese Canadian Newspaper, Correio dos Açores, Spe Deus (…)


Felizmente que a mãe paquistanesa é reconhecida no Ocidente. Fica, agora, do nosso lado não desistirmos de pressionar em favor da sua libertação, já autorizada pelo Supremo mas recusada pelas autoridades prisionais. Seria o melhor presente para uma família tão massacrada e um sinal positivo para os milhões de paquistaneses sem voz. 

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas, numa Quarta-feira)

06 novembro 2018

Leituras dos dias que correm


Recebo um dia destes um mail de uma professora: João, estava aqui a preparar a aula. O Lear é que é todo sobre despojamento. E falou-me numa tradução boa para português. Curioso, para mim, não era haver uma tradução boa, mas a tradução ser de quem era. Para além da tradução, notas e ilustrações. Um luxo, caso consigam ver o fundo da capa...

JdB 

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