31 dezembro 2013

Duas Últimas

Nunca tinha ouvido falar dos Kolme. Não surpreende, porque os temas/bandas/livros/filmes de que nunca ouvi falar encheriam várias bibliotecas de Alexandria. E ainda faltaria espaço. Mas o facto é que os Kolme entraram cá em casa de mansinho, pela mão (interposta) do Menino Jesus.

Ainda não tive oportunidade de ouvir o CD. Ao pesquisar na net, aparecem-me várias músicas. Deixo-vos com duas delas, uma com intervenção da Mayra Andrade, outra apenas instrumental. Talvez prefira a segunda, mas gostos, dizem, não se discutem.

Enjoy.

JdB

Aproveito para desejar a todos os meus surpreendentes e fiéis leitores - e colegas bloguistas - um Bom Ano Novo. Que 2014 venha cheio de tudo o que nos levará ao Céu, isto é, uma equilibrada dose de bens materiais, virtudes do espírito, satisfação de necessidades básicas.


30 dezembro 2013

Fórmula para o caos

Chega o fim do ano. 2013 fica marcado pelo desaparecimento de algumas importantes figuras políticas. Destaque para três personalidades distintas.
 
Em Março foi o mês em que morreu o revolucionário bolivariano Hugo Chavez. O líder venezuelano sucumbiu a um cancro e deixou, por sua própria indicação, o vice-presidente Nicolas Maduro com a missão de prosseguir a revolução que conduz, dia após dia, a Venezuela para o desastre.

Em Abril morreu Margaret Thatcher. A ex-primeira-ministra do Reino Unido fica na história como uma lutadora incansável pela liberdade, tanto política como económica, que com Ronald Reagan e João Paulo II formou uma aliança vincada para colocar fim ao comunismo e ao totalitarismo soviético. 

Em Dezembro partiu Nelson Mandela. O incansável combatente do odioso regime do Apartheid deixa uma legado de respeito pelas liberdades cívicas e políticas e, principalmente, de capacidade de perdoar quem o maltratou.

Pedro Castelo Branco

29 dezembro 2013

Sagrada Família de Jesus, Maria e José

EVANGELHO  Mt 2, 13-15.19-23
«Toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egipto»

@ Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Depois de os Magos partirem,
o Anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe:
«Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egipto
e fica lá até que eu te diga,
pois Herodes vai procurar o Menino para O matar».
José levantou-se de noite,
tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto
e ficou lá até à morte de Herodes,
para se cumprir o que o Senhor anunciara pelo profeta:
«Do Egipto chamei o meu filho».
Quando Herodes morreu,
o Anjo apareceu em sonhos a José no Egipto e disse-lhe:
«Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe
e vai para a terra de Israel,
pois aqueles que atentavam contra a vida do Menino
já morreram».
José levantou-se, tomou o Menino e sua Mãe,
e voltou para a terra de Israel.
Mas, quando ouviu dizer que Arquelau reinava na Judeia,
em lugar de seu pai, Herodes,
teve receio de ir para lá.
E, avisado em sonhos, retirou-se para a região da Galileia
e foi morar numa cidade chamada Nazaré,
para se cumprir o que fora anunciado pelos Profetas:
«Há-de chamar-Se Nazareno».


***


Saber ler o Mistério

Numa peça de teatro alusiva a São José, há a seguinte frase colocada na sua boca: “Não somos donos de nada nem de ninguém, apenas guardamos mistérios”. Esta frase encerra uma grande verdade…nós não somos donos de nada nem de ninguém, mas guardamos o mistério que em cada um acontece – à semelhança do mistério absoluto que aconteceu em Maria com a concepção e o nascimento de Jesus, com o seu crescimento. Se nós tivéssemos esta atitude em relação à vida, desde logo na nossa família em relação às vidas que se desenvolvem no seu seio, como seria diferente, tantas vezes, a nossa perspectiva! Somos chamados a perceber, como José, que “não somos realmente donos de nada nem de ninguém”: o nosso papel é “guardar o mistério” que em cada um acontece.

Se os pais cristãos – e aqui pais e mães, alargando a Maria este papel de José – tiverem em relação aos filhos (em relação às vidas que geram e que se vão desenvolvendo) esta atitude que José teve de guardar o mistério, que não era dele, mas que acontecia naquele Menino, a vida será outra coisa.

Se os pais cristãos – e aqui pais e mães, alargando a Maria este papel de José – tiverem em relação aos filhos (em relação às vidas que geram e que se vão desenvolvendo) esta atitude que José teve de guardar o mistério, que não era dele, mas que acontecia naquele Menino, a vida será outra coisa. Se os pais perguntassem “O que é que Deus quer deste meu Filho? O que é que Deus quer desta minha filha? Como é que eu vou cooperar com Deus neste crescimento vocacional de resposta a um chamamento divino?”, tantas vezes as situações seriam diferentes.


D. Manuel Clemente (2013),  O Evangelho e a vida. Conversas na rádio no Dia do Senhor. Ano ACascais: Lucerna, 36 – 37.

28 dezembro 2013

Pensamentos impensados

Aves
Foste à missa da meia-noite no dia 24?
Não, dá-me galo!
 
Desgraças
Este Natal dei um presente modesto a uma pessoa, dizendo:
isto é uma gracinha, que os tempos não estão para gracinhas.
 
Ars gratia artis
Os carteiristas são grandes artistas. Não têm ordenado e trabalham por amor à arte.
 
Carências
Perdeu os braços num acidente, mas tinha ideias como pano para mangas.
 
Linguajares
Se não houvesse gente a falar incorrectamente, as línguas não evoluíam.
 
Noticiário
Acidente na A343, há uma vítima mortal a lamentar.
O morto está estável.
 
Pensamento de Millor Fernandes, o Mestre
Antigamente os animais falavam. Hoje escrevem.

SdB (I)

27 dezembro 2013

"Um país de Bimbys"


Não sei o que motiva tantas compras, pontuais ou continuadas, do artigo em questão. Não sei se é o apego aos gadgets. Na realidade, não sei exactamente o que significa a palavra inglesa que um dos dicionários online traduz (também) por 'engenhoca'. Uma bimby é um gadget

Entre um período e outro - um lustro, por aí - vivi sem esse 'dispositivo' (outra tradução para gadget). Nos extremos desse quinquénio usei o 'instrumento' (outro termo possível) meia dúzia de vezes, se tanto. Reconheço-lhe as virtudes e, no entanto, não queria uma bimby nem que me fosse dada. E mesmo se me pagassem… 

Cozinhar não me constitui uma obrigação. É um gosto, um ioga gastronómico, um tempo durante o qual oiço música variada - de Ricardo Ribeiro a toadas chinesas, passando por Carlos Gardel e Mendelssohn, com uma passagem feliz por Tony de Matos. Tenho a fortuna de o poder fazer num recinto novo, bem desenhado, confortável, onde posso passar horas assando, picando, agitando, provando. Reduzirem-me à bimby - que faz sopas em 20 minutos, caldeiradas no mesmo período de tempo e cozido à portuguesa no espaço de um instante - é impedirem-me de um prazer demorado, reduzirem-me a leitura a short stories, vedarem-me a audição de um concerto de Beethoven porque a invenção (outra possibilidade ainda) apita intermitentemente antes do início do terceiro andamento.

"Cozinhar não é serviço, meu neto", disse ela. "Cozinhar é um modo de amar os outros", diz Mia Couto n' O Fio das Missangas. Cozinhar com a bimby é amar em velocidade supersónica, beijar rapidamente e, ao segundo afago de um corpo que se deseja, ser interrompido porque a varoma deu sinal de vida. É também por isso que o artigo do Wall Street Journal me inquieta. Sou sensível ao estado da nação e aos gastos aparentemente supérfluos dos meus conterrâneos. Porém, não deixo de preocupar-me com a perda de hábitos salutares. E cozinhar com vagar é um deles. 

JdB     


26 dezembro 2013

Concurso de escrita criativa

O desafio para esta semana era: Escreva a carta de amor mais ridícula do mundo (máximo: 400 palavras).

Aqui vai a minha contribuição. 

JdB


***


Prezada Lucília,
Espero que esta te encontre de saúde, que nós por cá todos bem.
Guardo dentro de mim o que me faltou sair. Sou uma junta vedante de sentimentos, uma caixa hermética de onde não sai o ar comprimido que agitará a nossa relação. Sou um cárter entupido por falta de jeito, um amor em circuito fechado, sem trocas de calor com o exterior. Sou um coração adiabático, dir-se-ia.
Aqui, no remanso da manutenção na fábrica onde trabalho, tudo me recorda de ti. Nas patolas de um empilhador que segue lento e forte vislumbro os teus braços que avançam. Nas gambiarras que iluminam as entranhas dos motores vejo os teus seios tremeluzentes de esplendor. Passo as mãos pelas colunas que suportam estruturas de aço, certo de estar a tactear-te as coxas que me apertam sem retorno. Os sensores de presença que me protegem de máquinas em movimento são os teus olhos azuis, vigilantes numa reconfortante permanência.
És a fábrica do meu amor, do meu afecto, da minha ternura. És a minha usina, a minha linha de produção, a minha ausência de improdutividade.
Os equipamentos trabalham a cadências certas; os pistões sobem e descem uivando satisfação, gemendo prazer. Aqui e ali param, gritando avarias, solicitando cuidados, ansiando atenções. Em tudo te vejo, em tudo te imagino, em tudo te sinto. Em tudo toco, certo de que uma biela é um braço, um cabo eléctrico é um fio de cabelo, uma válvula é uma boca que me beija, me morde, me sussurra.
Quedo-me de olhos fechados ouvindo os ruídos da instalação: detecto assimetrias vibratórias, identifico excesso de decibéis, rearranjo protectores sonoros. És tu, és tu, és tu! Tudo são as tuas palavras, os teus pedidos, as frases com que me incendeias, e para esse fogo não há extintor adequado.
Prezada Lucília,  
O que é uma nave central se não o teu corpo? O que é um centro de comando se não o teu coração? O que é o meu contrato de trabalho se não o pacto que me liga a ti, sem feriados nem acordos colectivos de trabalho? O que é tudo isto se não fores tudo tu?
Oiço-te, sinto-te, incluo-te nesta manutenção preventiva com que protejo o que me é querido: uma rotuladora, uma máquina de soldar, um sorriso ou um nariz estreito.
Beijo-te com o mesmo esmero com que limpo uma bomba de vácuo.

Amílcar, o teu engenheiro-chefe.

25 dezembro 2013

Natal

Barocci, El Nacimiento. Oléo sobre tela 134x105 Museo del Prado. Madrid

Aos que mantêm este blogue vivo, leitores e, em particular os que aqui escrevem, desejo um Santo Natal. Que consigamos ver, apesar de todas as angústias ou dificuldades, o olhar do Menino Jesus para cada um de nós.

JdB

24 dezembro 2013

Duas Últimas

João Pedro Pais cantou recentemente Fausto, e bem.

Espero que gostem, como o autor original gostou.

Desejo a todos um bom Natal e um Ano Novo a melhorar em relação ao velho.

fq





Christmas is a great time to fall in love!







23 dezembro 2013

Vai um gin do Peter's?

Após um despique renhido para a escolha da Personalidade do Ano de 2013, a conhecida revista norte-americana TIME elegeu o Papa Francisco. No sprint final estavam as 10 figuras consideradas mais mediáticas para a sociedade dos EUA. Ali figuravam Obama, Snowden ou a cantora Miley Cyrus, entre outros. Mas foi sobre o Papa, eleito há 9 meses, a 13 de Março de 2013, que recaiu a escolha, tal o carisma do Cardeal jesuíta argentino.


O melhor representante do Novo Mundo, para chegar a todos.

De seguida, o Parlamento Europeu considerou o Pontífice o «Comunicador do Ano», que o responsável pela pasta da Comunicação, no Vaticano, comentou nestes termos: «Deus fala através dos acontecimentos diários e o Papa Francisco leva-nos para um misticismo que dá espessura à actualidade, aprendendo a ouvir e a ver Deus, que nunca se cansa de agir em cada momento da nossa vida, da história. Escutar, perceber, reconhecer o Mistério Divino em cada instante, aprender a renascer com Cristo sempre presente, apaixonar-se pelo infinito através do instante fugaz de cada coisa

Nem aos selfies se tem furtado, figurando como um pastor manso, mas firme, suave nos modos, mas interpelativo na mensagem, numa combinação cheia de humor e conteúdo, que está a espantar o mundo. Às consagradas tem recomendado que: sorriam como as hospedeiras; num encontro para sacerdotes e seminaristas esclareceu que não há santos tristes, têm de transmitir e erradiar alegria; nas Jornadas Mundiais da Juventude, aos milhões de jovens apinhados no extenso areal de Copacabana, pediu coragem para defenderem os valores humanos que o cristianismo prega, e também para serem felizes!



Mas a sua simplicidade e atenção aos mais frágeis ainda tem conseguido surtir mais efeito do que todas as intervenções, ditas num tom inovador e arejado, que não se esperaria do mais alto dignitário de uma instituição bimilenar. Para festejar os seus 77 anos, a 17 de Dezembro, convidou quatro sem-abrigos da rua onde habita para tomar o pequeno-almoço no Vaticano, logo após a missa diária matinal.

A forma como é referido pela maioria, apenas pelo nome próprio de Francisco, dispensando a numeração cardinal e até o título, explicam bem a proximidade que conquistou, em escassos meses. O nome adoptado, evocando o Santo de Assis, já tinha dado um primeiro sinal. Mesmo assim, foi com comoção que o gesto de ternura do Papa para com um doente italiano, desfigurado por uma doença rara, que o torna difícil de olhar (fará de tocar), valeu por uma tese completa de doutoramento sobre Amor ao próximo, de A a Z, com aulas práticas… As mais difíceis!

Já muito foi dito sobre este encontro espantoso. Faltava só ouvir o próprio doente, que explica melhor do que ninguém a grandeza tão simples quanto rara do carinho transmitido por Francisco: «Primeiro beijei-lhe a mão e ele, com a outra, deu-me festinhas na cabeça e nas feridas. Depois agarrou-me com um abraço apertado e deu-me um beijo na cara. Tinha a cabeça contra o seu peito, enquanto os seus braços me aconchegavam. Foi um abraço mesmo forte. Tentei falar, balbuciar qualquer coisa mas não consegui, tal era a emoção! Durou pouco mais de um minuto, mas a mim pareceu-me uma eternidade. No final, voltei-me para a minha tia e disse-lhe: ‘deixo aqui as minhas dores, fica aqui tudo o que tenho sofrido.’ As suas mãos eram suaves e lindas, o sorriso transparente e aberto. Mas, o que mais me impressionou, foi não ter hesitado minimamente em me abraçar. Não contagio ninguém, só que o Papa não o sabia. E fê-lo, sim: acariciou-me na cara e, enquanto o fazia, só sentia amor



Tamanha generosidade ajuda-nos a sintonizar com o espírito humilde e de máxima abertura à humanidade encarnado pelo Bebé de Belém. Saber que é mesmo possível, em carne e osso, como o Papa ajuda a demonstrar, será das melhores formas de oferecer a Noite Santa à nossa geração, neste final de 2013. Claro que nos deixa toda a liberdade de nos aproximarmos da Gruta ou seguirmos outro caminho... Qualquer que seja a opção, BOAS-FESTAS a todos, com mais Natal, se conseguirmos que seja possível.

Maria Zarco

(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)


Selfie de teenagers com o Papa

22 dezembro 2013

IV Domingo do Advento

@ Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo:
Maria, sua Mãe, noiva de José,
antes de terem vivido em comum,
encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo.
Mas José, seu esposo,
que era justo e não queria difamá-la,
resolveu repudiá-la em segredo.
Tinha ele assim pensado,
quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor,
que lhe disse:
«José, filho de David,
não temas receber Maria, tua esposa,
pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo.
Ela dará à luz um Filho
e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus,
porque Ele salvará o povo dos seus pecados».
Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara
por meio do Profeta, que diz:
«A Virgem conceberá e dará à luz um Filho,
que será chamado ‘Emanuel’,
que quer dizer ‘Deus connosco’».
Quando despertou do sono,
José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara
e recebeu sua esposa.


***


O Mistério de Deus presente na humanidade

“Podemos de alguma maneira imaginar o espanto de José, porque Maria era a sua esposa e ainda não tinham vivido em comum, mas ela estava grávida. José fica muito intrigado, naturalmente.  Então tem este sonho, tem esta resposta do céu: não temas, porque o que está a acontecer com Maria é fruto da própria obra divina, do Espírito divino; por isso aceita, como ela própria aceitou, e agora vais acompanhar este mistério que em Maria está a suceder. É um acto de fé enorme, porque nunca aconteceu, nem voltará a acontecer, uma coisa assim.
O cristianismo, isto a que chamamos cristianismo – Cristo no mundo, Cristo em nós – não é mais uma página da história da humanidade. Para um cristão, não é! O que acontece em Jesus Cristo é a recriação da humanidade. De certo modo, é como se voltássemos ao princípio, mas de forma ainda melhor, mais apurada.
Estamos imersos, como membros da Igreja, neste grande mistério: a recriação do mundo continua como começou em Maria, por obra e graça do Espírito Santo, que é a verdadeira alma da Igreja e que põe Cristo no mundo. Cabe-nos a nós guardar este mistério, mas antes de mais acolhê-lo.
Mistério quer dizer o quê? Não é uma coisa do outro mundo, não. Mistério é a revelação na Terra dos desígnios de Deus. É o projecto de Deus tal como ele se realiza no mundo em Jesus Cristo, e nós o reconhecemos como tal. Mistério é o que José descobre como revelação divina sobre o que está a acontecer em Maria, na geração de Jesus, e que nós, cristãos, à semelhança de José, devemos descobrir na Santa Madre Igreja, como local onde o Filho de Deus vem ao mundo.
O Mistério realiza-se me Maria que o acolheu; é acolhido e guardado por José. Nós próprios, diante do que acontece em Maria, devemos estar como José e perceber aquilo que o Anjo lhe diz. É o próprio Espírito de Deus que está a recriar o mundo. A história recomeça, mas recomeça mais a fundo, porque agora recomeça com o próprio Deus no mundo!”


D. Manuel Clemente (2013), O Evangelho e a vida. Conversas na rádio no Dia do Senhor.  Ano A. Cascais: Lucerna, 23 - 25

21 dezembro 2013

Pensamentos impensados

Eco...grafia
grafia  grafia  grafia  grafia  grafia  grafia  grafia
 
Censura
A ASAE acabou de proibir a peça Amianto de Lady Chatterley
 
Géneros
O feminino de...
Pelos vistos, feminino é masculino.
 
Zoologia
O único cavalo-marinho que conheço é a cavala.
 
Mais géneros
As angulas são as mulheres dos ângulos.
 
Escabelos
Qual a diferença entre Jorge Jesus e Ricardo Salgado?

Jorge Jesus foi expulso do banco e Ricardo Salgado manteve-se no Banco.

SdB (I)

20 dezembro 2013

Moleskine


Acreditar. Anteontem foi o almoço na Casa de Lisboa. Pergunto pelas pessoas e por quem lá passa o Natal. Pergunto pelo ano que está quase a acabar, porque desta estatística também se avalia o moral dos nossos utentes, tão fragilizados e, por isso, tão sensíveis aos sucessos ou insucessos alheios. Há talvez oito famílias que passam o Natal na Casa, o que significa a quadra longe da família. A minha interlocutora, no entanto, diz-me algo mais perturbador: independentemente da maior ou menor taxa de sobrevivência, nota-se um diagnóstico cada vez mais cedo. Isto poderia ser bom, não fosse falarmos de bebés com meses nos quais é detectado um cancro. Que mundo é este?

Pensamentos. Apanho esta frase no blogue do Pedro Mexia, sob o título Virtude e Fascínio: talvez a experiência mais desanimadora de toda a minha vida seja a quase absoluta não-coincidência entre as "pessoas interessantes" e as "boas pessoas". É como se a virtude e o fascínio fossem água e azeite. E as excepções, de tão escassas, confirmam a triste regra. Tendo a discordar. Por motivos de conhecimento do mundo, porque o 'desinteresse' das pessoas é democrático, assenta por igual nos virtuosos e nos seus inversos. Depois, por motivos de prudência egoísta: afinal, tentando eu ser boa pessoa, como poderia acreditar que me tornaria, concomitantemente, desinteressante? Por último, para não me alongar no parágrafo, por motivos de razoabilidade: quem pode afirmar que a procura da bondade para si próprio é um caminho desinteressante? Talvez seja infinitamente mais desafiante e mais difícil do que o caminho da não-bondade. Menos fashion, seguramente, mas isso é outra coisa.

Felicidade. Apanho um post num blogue onde o autor refere que a sua felicidade tem a forma de uma casa. Uma casa que é pertença da sua infância. Ou a inversa, talvez. Reencaminho o texto para quem gosta de receber o que leio por aí, e questiono(-me) que formas assume a felicidade. É também uma casa, onde passei a minha adolescência veraneante; mas também é uma rua, onde joguei à bola, saltei à fogueira, ajudei a construir carrinhos de rolamentos, beijei e fumei furtivamente; é também um slow, não um específico, mas todos os slows juvenis, entusiasmado pelo meu corpo que se juntava a outro numa ousadia pudica, uma imobilidade onde o mundo também parava. A felicidade assume ainda outras formas, mas estas são as mais antigas.

JdB    

19 dezembro 2013

Colar de pérolas (2)

O

O irmão dele acreditava naquela coisa que Frank Capra tão bem filmou - a redenção. Tinha uma vida nova, longe dos problemas e das delícias, umas e outros já distantes, próprias de outros tempos. Cantava, agora, no coro de uma igreja metodista. E acreditava no que cantava. Talvez a redenção não fizesse dele um inteiro novo homem. Mas fizera dele um grande músico. Era melhor não pedir demais.

gi

18 dezembro 2013

Diário de uma astróloga – [67] – 18 de Dezembro de 2013

O longo trânsito de Marte em Balança – Parte II - Relacionamentos

No post de 4 de Dezembro falei do impacto do trânsito de Marte na nossa saúde. Descrevi sobretudo como o excepcionalmente longo trânsito de Marte em Balança – 7 /12/2013 a 26/7/2014 – pode tirar energia às pessoas com Marte natal em Carneiro.

Marte, o planeta que tem o nome do deus da guerra, representa no tema astral o guerreiro que somos, por quem ou por que causa nos batemos. Sincronicamente, no dia em que escrevo (10 de Dezembro de 2013) estão a decorrer a exéquias de Nelson Mandela, um exemplo de um lutador (Marte) pela igualdade entre os homens (Balança).

Mas hoje não falo de heróis, mas de todos nós, pois todos temos Balança nalgum ponto do mapa astral que vai ser afectado pelo vaivém de Marte nesses graus, nessa casa e na área de vida que ela simboliza.


Balança é o único signo representado por um objecto. A astróloga inglesa Sue Tompkins diz que o facto de não ser representado por pessoas ou animais indica que é um signo muito “civilizado”. (Penso que a tradução de britânico para outras línguas seria “sem grandes paixões”).

Gravura em madeira do séc. XVI, fonte http://en.wikipedia.org/wiki/Zodiac


Marte, o planeta da luta, da conquista, da satisfação imediata (quero ) estará durante sete meses num signo de ar, cerebral e civilizado! Não se sente lá muito bem, e em astrologia tradicional até se diz que Marte em Balança está em detrimento. 

Balança é o signo do “outro”, regido por Vénus, é um dos significadores de relacionamentos a dois, quer seja no âmbito do casal, entre sócios de uma empresa ou com pessoas com que lidamos no dia-a-dia.

Quer isto dizer que durante os 231 dias em que Marte nos céus está em Balança vamos todos ter conflitos relacionais?  

Todos não, mas algumas serão mais sensíveis a este longo transito de Marte:

  •        O jackpot, uma percentagem mínima da humanidade, são as que têm muitos planetas em Balança na casa 7.
  •        As pessoas com bastantes planetas em Balança.
  •           Aquelas que têm a casa 7 nesse signo, isto é, quem tem ascendente Carneiro.


A astrologia serve para prevenir, não para prever. Para todos estes em situações íntimas, aqui fica o “road map” para o trânsito de Marte em Balança. Para relacionamentos laborais ou societários os mesmos critérios não se aplicam (sobretudo nada de sexo) mas os princípios serão os mesmos.



Talvez por eu ter Marte natal em Balança vejo os aspectos positivos deste trânsito no signo do seu “detrimento”. Pode ajudar a alcançar a felicidade e a paz a nível pessoal e a nível mundial.

Acho que John Lennon (Marte em Balança) e Martin Luther King (casa 7 em Balança – rectificação da minha autoria) estavam a pensar mais a nível mundial do que a nível pessoal, mas faz bem recordar as suas palavras:

John Lennon
Imagine all the people living life in peace. You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one. I hope someday you'll join us, and the world will be as one.”

Martin Luther King
“Peace is not merely the absence of war, but the presence of justice.”

Luiza Azancot, que deseja a todos um feliz Natal cheio de Paz e Justiça.

17 dezembro 2013

Duas Últimas

Tinhas 15 anos, talvez. Ou seria 16? Não sei, e talvez não seja importante, pois passaram mais de quatro décadas. Olhei-te pela primeira vez.

Conheci-te na serra, ao calor de um verão que não voltará mais, pois os acontecimentos felizes têm a validade de um instante. Todas as lembranças, por mais sorridentes que sejam, são fotografias retocadas, textos de contentamento aos quais se acrescenta uma vírgula, se altera um parágrafo, a cujo início e fim se confere um impacto diferente e imprevisto. Não há memórias exactas, porque os olhos são outros, as mãos são outras, o coração bate a ritmos diferentes. As saudades não são nunca de um tempo passado, mas de um tempo presente que se gostaria de transpor para um momento imorredouro. 

Achei-te bonita, qualquer que fosse o entendimento que disso tivesse um rapaz a olhar para uma rapariga de corpo franzino, sorriso discreto, olhos inquietos, mãos envergonhadas. Foste uma exaltação, um correr de sangue nas veias para além dos limites da tranquilidade. Eras uma emoção incontrolável, uma confusão não discernível para um miúdo que vivia contigo sem viver, que olhava para a lua com uma mudez de palavras e de gestos. Eras uma fotografia a cores num cenário de neve que chegaria. Eras o infinitamente simples da minha vida, a plenitude exaltante numa imobilidade de cinco minutos. 

Olho-te agora numa fotografia a preto e branco, tirada quando tinhas 15 anos, talvez. Ou seria 16? O que eras então não és agora, porque antes tinhas a beleza e agora és a beleza. Podemos ter a beleza mas ambicionamos sê-la, porque na diferença dos verbos existe um infinito. Mais de quatro décadas decorreram entre a primeira vez que te vi, num cenário de vastidão e cor, e a primeira vez que te vi, num retrato a preto e branco. São ambas primeiras vezes, porque as minhas mãos são diferentes, o meu coração é diferente, os meus olhos têm agora uma lentidão feita de sossego e sabedoria.

Quando foi a primeira vez que vi o teu rosto?

JdB



16 dezembro 2013

Concurso de Escrita Criativa

O desafio da passada semana era: escreva a história que pode estar por detrás deste poema de Rui Nunes.

Segue também o texto com que concorri. Devo ao meu querido amigo gi o mote para a história e a criativa frase do epitáfio. Quanto à classificação, só a saberei hoje de noite / amanhã de manhã.
JdB
***

Explode:
as mãos traçam um som insuportável:
a história pára nesse gesto
mas recomeça um pouco mais à frente.
O que sobra de um corpo
é a silenciosa queda dos destroços.
O trigo escurece, as rêses comem a própria carne,
e os gafanhotos anunciam a manhã do ódio:
o desenho do tempo fica dia a dia mais nítido.

os vidros resguardam-no do clamor
e nos vasos de begónias floresce o néon.
Sentado à secretária, o homem risca uma palavra,
leva as mãos aos lábios,
medita,
e reescreve a morte.

como se diz este último resíduo,
estes corpos que irradiam morte,
o anónimo de uma luz insuportável?
como se diz uma palavra
meticulosamente destruída,
estes sons desavindos?
ou uma criança que não sabe correr?

a eternidade é a bebedeira dos desesperados:
viagem rápida, dia em estilhas
que acaba em três ou quatro gotas
no vidro da janela:
insectos esborrachados contra um pára-brisas.

é preciso decifrar os escombros.

***

Um funcionário.
Senta-se à secretária, liga o computador, ajeita a inclinação ergonómica do ecrã que grita obsolescência. Abre a gaveta, tira o agrafador que alinha junto ao cinzeiro inútil, coloca-o entre uma resma de papel de baixa gramagem e as fotografias dos pais e da filha em formato passe. Compõe com paralelismo zeloso os processos que aguardam decisão. Afia o lápis de bico já rombo. Prazos, comprovativos, selo branco, requerimentos, carimbo, senhas do balcão número três.
Sim sôtora, com certeza sôtora. A certidão? Entrego já, sôtora.
Olha para o outono que se deita sobre a cidade, sobre a repartição, sobre a vida. As flores do vaso, amarelecidas pela respiração humana e pelo desinteresse, suscitam nostalgias de momentos que morreram. Os pássaros, cujo piar a vida agreste transformou em ruído, perderam encantos, são fonte de imundície, dentes inexistentes a corroer as cantarias do património. A filha emigrada, os pais entrevados num lar, a neta que tarda em nascer e que o beijará em sotaque estrangeiro. Declarações, coimas, atrasos, execuções fiscais, sobrescritos desactualizados a engrossar a fileira do papel, os ponteiros do relógio numa lentidão de corredor da morte, a estridência das colegas a tomar pé na novela da véspera.
Os objectivos para este ano, sôtora? Talvez sobreviver...
Analisa processos com uma repetição de tempos modernos, suporta um utente que já se chamou cidadão e que um dia se chamará cliente, imobiliza o pensamento na courela da aldeia, na sopa com couves caseiras, no lume a crepitar, nos grilos que acompanham poemas redigidos sem métrica nem pretensão.
Esvai-se-lhe tudo, como se a monotonia dos dias que correm fosse um manto preto e espesso que se deita sobre a alma dos que aspiram a mais, afogando os desejos, engolindo as ilusões, matando os sonhos. A vida, na sua aparente e falsa lentidão, é um carro veloz em cujo vidro se esmaga tudo: mosquitos, gafanhotos, anseios, miasmas, folhagem solta, saudades.  
Num jornal velho, por baixo da fotografia desfocada de um homem de chapéu, lê estranhamente o seu próprio epitáfio:
a usura do tempo atenuada pela planura da civil rotina, como um freio domando dentes tristes como leões enjaulados.
O lápis volta a estar rombo, mas só o afiará de manhã, antes das senhas do balcão número três e depois do alinhamento do agrafador. As fotografias em formato passe permanecem, porque há a imaterialidade dos afectos.
Até amanhã, sôtora. Estimo as suas melhoras.


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