23 dezembro 2020

Vai um gin do Peter’s ?

PRESENTES DE NATAL   

Só mesmo um aniversariante generoso, como o Menino de Belém, para que o seu dia de anos dê pretexto a que sejam os outros a receber presentes. A ideia virá dos ensinamentos daquele Bebé, que garantiu: o que fizeres ao mais pequenino dos meus (e teus) irmãos, a Mim o fizeste. Assim, o Ocidente cristão afana-se na troca de boas surpresas. Por isso, hoje, fazendo jus à simpática tradição, seguem sugestões de programas, locais, gravações com sabor a presente, de um tamanho que já não cabem num embrulho…

Começando pelo calendário de programação online do MET de Nova Iorque, vai haver reposição de óperas em canal aberto (https://www.metopera.org/user-information/nightly-met-opera-streams/ ): 

Dia 22, Cendrillon, de J. Massenet, com Kathleen Kim, Joyce DiDonato, Alice Coote, Stephanie Blythe e Laurent Naouri, Abril de 2018.

Dia 23, Il Barbiere di Siviglia, de G. Rossini, com Isabel Leonard, Lawrence Brownlee, Christopher Maltman, Maurizo Muraro e Paata Burchuladze, Novembro de 2014.

Dia 24, La Bohème, de G. Puccini, com Teresa Stratas, Renata Scotto, José Carreras, Richard Stilwell e James Morris, Janeiro de 1982.

Dia 25, Hansel and Gretel, de E. Humperdinck, com Christine Schäfer, Alice Coote, Rosalind Plowright, Philip Langridge e Alan Held, Janeiro de 2008.

Dia 26, The Merry Widow, de F. Lehár, com Renée Fleming, Kelli O'Hara, Nathan Gunn, Alek Shrader e Sir Thomas Allen, Janeiro de 2015.

Dia 27, Falstaff, de G. Verdi, com Lisette Oropesa, Angela Meade, Stephanie Blythe, Jennifer Johnson Cano, Paolo Fanale, Ambrogio Maestri e Franco Vassallo, Dezembro de 2013.

Para mais opções culturais, recomenda-se a consulta a http://azweblog.blogspot.com ou a https://www.facebook.com/pages/Sugestôes/582224458542163, com actualizações regulares. 

Na Fundação Medeiros e Almeida (M&A) há uma colecção especialmente natalícia, que entrou na casa do colecionador pela via mais nobre, cumprindo um costume no Norte da Europa, de oferta de pequenas colheres com motivos alusivos à quadra. Nos séc. XVIII e XIX, as colheres eram dedicadas às amadas. Mas com a quase extinção da manufactura, passaram a assinalar ocasiões festivas, ganhando afinidades com o costume da corte dos Czares, que trocavam “ovos” Fabergé pela Páscoa, para celebrar a data mais relevante para os Ortodoxos – a morte e ressurreição de Cristo. No património da M&A, as dezoito colheres de prata dourada corresponderam a presentes de Natal consecutivos, dados pelo vice-presidente da Fábrica Dinamarquesa de Açúcar, ao empresário português, com quem tinha negócios. Uma delas foi decorada com motivos concebidos pela rainha Margarida. A história vem explicada com detalhe no portal da Fundação (em texto aqui adaptado, para facilitar a consulta): 

Colheres de Natal na Fundação M&A

As 18 colheres da M&A, produzidas pela ourivesaria dinamarquesa: A. Michelsen.
Comemorativas do Natal («Juleskeen»), correspondiam a edições anuais com design de artistas convidados.
Materiais: prata banhada a ouro vermeil e esmaltes;  dimensões - Comp. c. 16cm x Larg. c. 3cm.

Informação no reverso das colheres.

Marcas no reverso do cabo: punção da casa ‘A:MICHELSEN STERLING DANMARK’,
letra C de Copenhaga, assinatura do artista e inscrição JUL (Natal) acompanhada do respetivo ano.

 «A oferta de colheres:

A tradição de oferecer colheres terá começado paralelamente em diferentes regiões da Europa como nas ilhas britânicas, nos países escandinavos, nos Alpes Suíços ou nos Balcãs ainda no século XVII. A tradição, provavelmente proveniente do hábito de fazer colheres para a cozinha, derivou para a manufatura de colheres com simbologia associada ao amor.

Estes objetos, as chamadas “colheres do amor” (love spoons), eram esculpidos à mão, a partir de um só pedaço de madeira e decorados de acordo com a imaginação de jovens rapazes, que produziam bonitas peças para serem oferecidas às suas amadas; entre a simbologia representada incluem-se corações, ferraduras da boa sorte, chaves que simbolizavam o caminho para o coração, sinos que aludiam ao casamento, pares de pássaros, etc.

Eram feitas nas longas noites de inverno ou pelos marinheiros durante as suas viagens, sendo oferecidas como expressão das intenções amorosas e como símbolo da capacidade de trabalho da madeira, logo de sustento da família. As raparigas, que podiam receber diversas colheres, expunham-nas nas paredes de casa.

A manufatura manteve-se até ao início do séc. XX. O País de Gales foi dos poucos lugares onde a produção de colheres do amor se prolongou por mais tempo.

Ao longo dos tempos, o hábito derivou para a oferta de colheres associadas a mais temas, como objeto ornamental e colecionável, existindo ainda muitas empresas com produção de colheres de edição anual, frequentemente para o Natal, como o fabricante alemão Robbe & Berking: https://shop.robbeberking.com/jahresloeffel-2019.html?___store=ruben, a Klepa Arts Germany, os americanos Reed & Barton ou Gorham Manufacturing Company, ou ainda a dinamarquesa Georg Jensen, de que a Casa-Museu possui o exemplar comemorativo do centenário: 1872-1972.»

A ourivesaria A. Michelsen A/S recuperou a tradição da oferta de colheres, replicou-a em materiais nobres e lançou a moda de produzir uma peça comemorativa do Natal (1910) desenhada por um artista convidado. Cada edição anual era limitada e os moldes destruídos. 

O fundador da empresa, Anton Michelsen (1809-1877), provinha de uma linhagem de joalheiros. Começara por empreender uma longa viagem pela Europa (1836), que lhe permitiu trabalhar com os grandes ourives da Alemanha e de França. Ao regressar, em 1841, abriu negócio na capital e, 8 anos depois, ascendia a joalheiro oficial da corte e das Ordens. Para garantir uma estética de qualidade, contratou os melhores designers e a sua descendência deu continuidade a esta política, enquanto a família geriu o negócio.  

Em 1855, Anton era o único ourives dinamarquês a participar na Exposição Universal de Paris.

Destacou-se também por ser precursor na adoptação do ‘Old Nordic style’ – o primeiro estilo genuinamente dinamarquês, com motivos da época Viking, arqueológicos e populares, imbuídos de forte espírito nacionalista. 

Com o arquiteto Ib Lunding (1920), as obras adquiriram colorido, quer pela combinação de diferentes metais, quer pelos esmaltes policromados. 

Em 1985, a ourivesaria fundiu-se com a congénere Georg Jensen A/S (constituída em 1872).

As colheres da Casa-Museu:

Sequência das ofertas que integraram o acervo da M&A, com decorações incisas em esmalte policromado:   

JUL (Natal de) 1965 – “The Christmas Tree” de Theresia Hvorslev (1935-?) – das mais influentes ourives suecas contemporâneas, representada em diversos museus como o Cooper-Hewitt de Nova Iorque.

JUL 1966 –“The Flight into Egypt” de Jorgen Dahlerup (1930-2015) – adepto do desenho de objetos religiosos, com obra exposta em museus alemães e dinamarqueses.

JUL 1967 – “Splendor of Yule” de Paul-René Gaugin (1911-1976) - filho de Pola Gaugin e neto do pintor Paul Gaugin, nasceu em Copenhaga e distinguiu-se pelas xilogravuras coloridas.

JUL 1970 – “Mr. Snowman’s Christmas Tree” de Mogens Zieler (1905–1983) - pintor, gráfico e ilustrador dinamarquês.

JUL 1972 – “Herold” (Arauto) de Bjorn Wiinblad (1918-2006) - pintor, designer e artista de cerâmica, prata, bronze, têxteis e grafismo, consagrado no Ocidente, Japão e Austrália.

JUL 1973 –“Winter solstice” de Ib Spang Olsen (1921-2012) – conhecido por gerações de dinamarqueses pelos desenhos animados e as ilustrações, sobretudo para publicações infantis.

JUL 1974 – “The blue bird” de Carl-Henning Pedersen (1913-2007) – membro-chave do movimento COBRA, que se inspirou na arte popular nórdica e adoptou uma expressão  expressionista e surrealista. Autodidata, C-H. colheu inspiração em Picasso, Braque ou Chagall. A sua produção prolífica invocava os contos de fadas, pelo que foi alcunhado de ‘o Hans Christian Andersen da pintura’. 

JUL 1975 – “Shooting Star” (Estrela cadente) de Per Arnoldi (1941 -) – desdobrou-se em pintura, escultura, cerâmica e produção de posters, estando exposto no MoMA.

JUL 1976 – “Snow Crystal” de Gudmund Olsen (1913 – 1985) – viveu, em Paris, durante a II Guerra Mundial, tendo desenvolveu o estilo construtivista. Em 1954, mudou-se para a Dinamarca e continuou as suas experiências cromáticas, com acumulação de camadas e volumetria diversa.

JUL 1977 – “Winter Rose” de Poul Hanmann (1915 – 1981) – foi vencedor das prestigiadas bolsas da Academia Dinamarquesa (1953) e da Hesselund (1976), entre outros prémios. Especializou-se em desenho figurativo, de linhas e paleta simplificadas.

JUL 1978 – “Solstice” de Vibeke Alfelt (1934-1999) – tal como os pais, esteve envolvida no movimento modernista COBRA. A figura do cavalo tornou-se um  “leitmotiv” da sua obra. 

JUL 1979 – “The Sun Kingdom” de Lars Aakirke (1926-2004) -  foi influenciado pelo pintor William Scharff, responsável pela introdução do cubismo na Dinamarca. Era casado com a pintora Vibeke Alfelt.

JUL 1980 – “The Mask” de Egill Jacobsen (1910-1998) - foi membro dos movimentos “Groningen”, “COBRA” e “Free Exhibition”, tendo sido distinguido com vários galardões e exposto em todo o mundo.

JUL 1981 – “Robin Redbreast” (Pisco-de-peito-ruivo) de Falke Bang (1912-1998) – escultor e ilustrador, celebrizou-se pelos desenhos de animais e pelos trabalhos de impressão em papel.

JUL 1982 – “The Queen of Sheba” (A rainha de Sabá) de Kamma Svensson (1908-1988) - pintora e ilustradora de estilo multicolor. Estudou em Copenhaga e Berlim, fez ilustrações para jornais, revistas e livros de autores dinamarqueses.

JUL 1983 – “The Snow Queen” de Lars Bo (1924-1999) – escritor e gráfico famoso pelos motivos fantásticos, de inspiração surrealista. Cognominado o ‘Mago’, ilustrou muitos livros, nomeadamente para Hans Christian Andersen, além de periódicos como o “Le Monde”. 

JUL 1984 – “The Christ Child” da rainha H. M. Margrethe II (1940-) – a partir de 1970, a rainha dedicou-se às artes plásticas: pintura, aguarelas, gravura, ilustração de livros, produção têxtil ornamental para igrejas, recorte de imagens, cenografia e bordados.

Sobre o motivo da colher na M&A, Margarida da Dinamarca explicou: «Inspirei-me no altar de Verdun, em Klosterneubourg, perto de Viena, uma obra de ouro e esmalte realizada pelo mestre Nicolas de Verdun, em 1181. As estatuetas em bronze dourado e incrustado de niello estão apostas em cinquenta e nove placas. Os detalhes dos panejamentos são sublinhados com um traço de esmalte azul (…) O rigor da arte romana, o seu caráter ligeiramente estilizado, agrada-me. Acho que convém ao desenho desta colher de Natal. O ornamento deve subordinar-se ao objeto e à sua utilização.» 

JUL 1985 – “The Bird Sheaf” (A casinha do pássaro) de Naja Salto (1945-2016) – pintora e artista têxtil lembrada pelas tapeçarias de aplicação cenográfica com cores vivas, cenas marítimas, do céu e motivos da mitologia nórdica. Também criou joias para a G. Jensen e pintou vitrais. O motivo desta colher remete para uma tradição popular dinamarquesa de, todos os anos, pendurar no exterior uma casinha para pássaros, perto da janela do quarto dos mais novos, para estes acompanharem o modo de vida das aves. 

Maria de Lima Mayer

Casa-Museu Medeiros e Almeida(1) 

Episódios memoráveis e divertidos remetem para o muppet show. Há uns anos, entoaram um «jingle bells» a duas velocidades e diversos estilos, numa tensão fantástica entre a cavalgada ritmada e animadíssima dos bonecos (a versão mais comum) e a interpretação diáfana de Andrea Bocelli. Não era fácil articularem-se, mas valeu o talento do italiano para se desdobrar em diferentes vozes e diferentes sonoridades, até sair uma polifonia capaz. O apresentador-pianista nem disfarça a vontade de rir com os apartes primitivos dos marretas mais cabeçudos e artisticamente insensíveis, claro que críticos do tenor. No fundo, só o público e Miss Piggy (por razões diferentes) adoraram a entoação suave, profunda e sentida de Bocelli – necessariamente desacelerada.

 

Ainda como presente: o concerto de Natal na voz rouca de Rod Stewart, gravado em 2012, numa gala decorrida no Castelo de Stirling, na Escócia (com parte de conversa entre o 29:… e o 32:…). As duas últimas árias são especialmente bonitas, com uma Noite Feliz (41:57) cheia de violinos e coro infantil e uma despedida ao som do clássico «Auld Land Syne» entoado por todo o castelo:

 

A concluir, o mais importante: um Santo Natal e um bom começo de 2021!

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

_____________

 (1)  Webgrafia: https://en.wikipedia.org/wiki/De_Danske_Sukkerfabrikker

https://www.nordicsugar.com/about-nordic-sugar/more-than-100-years-of-experience/

http://www.sinaga.pt/index.php?page=historial

https://en.wikipedia.org/wiki/A._Michelsen

http://www.silvercollection.it/WORLDSILMICHELSEN.html

https://www.gravsted.dk/person.php?navn=antonmichelsen 

2 comentários:

Anónimo disse...

Com a Graça divina, Vexa produziu mais um notável gin do Peter’s
Cumprimenta

MZ disse...

Muito obrigadaa desejar Festas Santas nesta época do ano tão especial

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