15 outubro 2019

Textos dos dias que correm

O risco dos riscos

«A esperança é uma determinação heroica da alma. A mais alta forma da esperança é o desespero vencido. A esperança é o risco a correr. É, aliás, o risco dos riscos.»

«Estai sempre pronto a responder a cada um que vos interrogue a razão da esperança que está em vós»: este famoso programa, expresso pela Primeira Carta de S. Pedro (3,15), tem no centro uma virtude teologal que, enquanto tal, é dom divino, mas que é também compromisso operativo do crente.

É isso que nos recordam as palavras acima citadas desse grande escritor católico francês que foi Georges Bernanos (1888-1948), no seu ensaio “A liberdade, para quê?”.

Outro escritor francês, também católico, Charles Péguy, não muitos anos antes, tinha composto todo um poema sobre esta virtude, “O pórtico do mistério da segunda virtude” (1911). Ele recordou o quanto é difícil esperar, enquanto desesperar é a opção mais fácil, deixando-se quase andar à deriva.

É o que também sublinha Bernanos: esperar é, seguramente, um risco, exige coragem, reação, empenho. Mas é só por esta via que se reencontra o sentido perdido da vida, e se faz calar o grito do desespero, que é sinal de morte.

É verdade que este caminho é muitas vezes árduo. Karol Wojtyla, antes ainda de se tornar papa, num seu drama, “A loja do ourives”, declarava: «Não há esperança sem medo, como não há medo sem esperança».

Por isso, é preciso enfrentar com realismo e determinação o risco da esperança, fazendo dela quase o emblema do cristão que a testemunha num mundo tantas vezes entristecido e subtilmente desesperado, ainda que sob o manto exterior da alegria.


P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado pelo SNPC em 14.10.2019

1 comentário:

Anónimo disse...

Há quem tenha diversa opinião. O que é bom.

«Acredito que a Fé é a porta por onde se entra. A Caridade é o local onde se entra. A Esperança é o archote, a luz que nos indica o caminho.
O tempo é o inimigo supremo. O tempo vence tudo e só é vencido pela Esperança.

A Esperança é esperar. Lenta, longa e continuadamente. Perder a ânsia, o sonho, a aspiração e o desejo. Mas confiar, acreditar e continuar à espera. Sempre.
Ter Esperança é esperar, apesar do tempo. Pois é o único modo de derrotar o tempo. É a Esperança que se renova, que permanece, que espera quando já não há ânsias, sonhos, aspirações nem desejos. A que espera quando não há esperança.

A Esperança — que vence o tempo e que vence o mundo — tem de ser tão poderosa que só pode nascer de algo que seja maior do que tudo.

Com a Esperança que vence, temos de esperar o Céu. A Esperança é a luz que a Luz nos deixou até ao seu pleno regresso.» (João César das Neves)

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