10 fevereiro 2020

Para que serve a experiência que temos?

No espaço de algumas semanas, dois grandes amigos, ainda que com situações significativamente diferentes, têm tido preocupações com a saúde de filhos.

Converso com um deles, aquele cujo problema é mais antigo (ainda que com poucos meses). Falamos de palavras de conforto, do que os outros nos dizem ou deixam de dizer, daquilo que, sendo semelhante, se torna diferente consoante é dito por X ou por Y. Falamos - e usamos a expressão pobre consolo - das pessoas que, perante alguém que tem um filho numa situação delicada, não forçosamente ao nível do risco de vida, mas de um futuro condicionado, lhe dizem mas ao menos está viva... Falo com o outro amigo. Interesso-me, e ele sabe que me interesso. A conversa acaba com uma franqueza minha: nada tenho para te dizer que te console. E não tenho, de facto.  

Recuo 19 anos e lembro-me das pessoas que queriam confortar-me sem saber como, das pessoas que nunca me disseram nada, das pessoas que diziam o que eu gostava de ouvir (em termos de forma e de conteúdo). Lembro-me de dizer a um grupo voluntários para quem falava que não há nada mais difícil do que abordar uns Pais quando ou pouco depois de serem confrontados com o diagnóstico de cancro de um filho criança ou jovem. Quem são os pais que estão à nossa frente? Querem eles silêncio, uma palavra, um gesto - ou apenas nada?

Assisto a um seminário sobre oncologia pediátrica. Oiço uma psicóloga que lidou com estes temas e de quem sou amigo. Abordava pais na pediatria do IPO que lhe perguntavam: tem filhos? Ela respondia que não e os pais diziam: então não sabe o que estamos a passar. Os anos passaram e ela teve filhos; e mesmo assim, dizia ela, não sabia o que os pais estavam a passar. 

Podemos ter filhos que tiveram problemas de saúde, mas não é por isso que sabemos o que para os outros pais é ter filhos com problemas de saúde... Podemos ser pais em luto, mas não sabemos o que para outro pai é estar em luto. A experiência permite que imaginemos, mas não nos dá garantia de sabermos. Termos noção disso é importante.

JdB

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