Não passes com ela na minha rua
Ao fim de tantos anos de ser tua
Amaste outra, casaste, foste ingrato
Vi-te passar com ela à minha rua
Abracei-me a chorar ao teu retrato
Amaste outra, casaste, foste ingrato
Vi-te passar com ela à minha rua
Abracei-me a chorar ao teu retrato
Podia insultar-te quando te vi
Ferida neste amor supremo e farto
Mas vinguei-me a chorar, chorei por ti
Por entre as persianas do meu quarto
Ferida neste amor supremo e farto
Mas vinguei-me a chorar, chorei por ti
Por entre as persianas do meu quarto
Eu bem sei que me tentas convencer
Mas o que me propões, não é bastante
Se não servi, p'ra ser tua mulher
Também não devo ser a tua amante
Mas o que me propões, não é bastante
Se não servi, p'ra ser tua mulher
Também não devo ser a tua amante
Casaste, sê feliz, Deus te proteja
Não te desejo mal, e tanto assim
Que não tenho ciúme nem inveja
Como a tua mulher teve de mim
Não te desejo mal, e tanto assim
Que não tenho ciúme nem inveja
Como a tua mulher teve de mim
Mas olha meu amor, eu não me importa
Antes que fosses dela, eu já fui tua
Podes sempre bater à minha porta
Mas não passes com ela à minha rua
Antes que fosses dela, eu já fui tua
Podes sempre bater à minha porta
Mas não passes com ela à minha rua
***
Ler esta letra com atenção (talvez antes de a ouvir cantada por Fernanda Maria) é perceber uma certa genialidade de Carlos Conde, o seu autor. Em cinco quadras conta-se uma vida - ou um fim de vida: o ciúme, a dor, a dignidade de não ser amante de ninguém. Carlos Conde é impar, basta ler alguns versos de grande criatividade: um amor supremo e farto, o choro entre as persianas do meu quarto, o trocadilho em antes que fosses dela, eu já fui tua, ou a ligação entre porta e rua.
Desaparece Fernanda Maria, e já não há ninguém (parece-me) daquela geração de fadistas.
JdB
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