Ontem a minha tese de doutoramento sofreu um impulso motivacional (expressão muito moderna): de manhã tive reunião com o meu orientador, de tarde com a minha co-orientadora. Em bom rigor não sei se preciso de motivação ou de disciplina: não sei se lá vou com uma frase que estimula - tu consegues, é só quereres - se com uma frase que educa - devias ter vergonha! Todas as razões são boas para se adiar a redacção de uma tese de doutoramento: a faixa de Gaza, uma ligeira tosse que pode ser tuberculose, uma viagem em Novembro que requer planeamento, uma mosca que zumbe ou um cão que ladra, um teclado que evidencia uma nódoa misteriosa. Nada há de mais fácil do que justificar uma indolência chamando-lhe outras coisas, tal como arritmia de vontade, o que quer que isso queira dizer.
Tanto numa conversa como noutra falámos de temas que quero abordar: luto, fé, morte, silêncio, combate, metáfora, milagres, Deus, tristeza, oração. Não sei se são temas que me perseguem, se são temas que persigo. Podiam responder-me que os temas, com a sua dimensão imaterial, não perseguem ninguém, pelo que me restaria ser eu a persegui-los. Não estou certo disso. Talvez esta imaterialidade me persiga há 24 anos e seja agora momento de qualquer coisa, de que não estou certo. Ou talvez não haja perseguição nenhuma, mas apenas uma companhia que me vai lembrando das coisas importantes, como referem tão bem estes versos de T S Eliot (in The Waste Land)
When I count, there are only you and I together
But when I look ahead up the white road
There is always another one walking beside you
Gliding wrapt in a brown mantle, hooded
I do not know whether a man or a woman
—But who is that on the other side of you?’
Se calhar o terceiro que caminha ao meu lado é, também, este conjunto de temas importantes.
JdB
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