18 julho 2010

Poder descansar

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico. Mas vou fazer batota e, no dia em que seria eu a escrever, prefiro postar um texto que mão amiga me enviou e que me parece particularmente adequado para o Evangelho de hoje.


Os discípulos colocaram a Jesus o problema do stress e do descanso.
Os discípulos regressavam da primeira missão, muito entusiasmados com a experiência e com os resultados obtidos. Não paravam de falar sobre os êxitos conseguidos. Com efeito, o movimento era tanto que nem tinham tempo para comer, com muitas pessoas à sua volta.

Talvez esperassem ouvir algum elogio por tanto zelo apostólico. Mas Jesus, em vez disso, convida-os a um lugar deserto, para estarem a sós e descansarem um pouco.

Creio que nos faz bem observar neste acontecimento a humanidade de Jesus. A sua acção não dizia só palavras de grandeza sublime, nem se afadigava ininterruptamente por atender todos os que vinham ao seu encontro. Consigo imaginar o seu rosto ao pronunciar estas palavras. Enquanto os apóstolos se esforçavam cheios de coragem e importância que até se esqueciam de comer, Jesus tira-os das nuvens. Venham descansar!

Sente-se um humor silencioso, uma ironia amigável, com que Jesus os traz para terra firme. Justamente nesta humanidade de Jesus torna-se visível a divindade, torna-se perceptível como Deus é.

A agitação de qualquer espécie, mesmo a agitação religiosa não condiz com a visão do homem do Novo Testamento. Sempre que pensamos que somos insubstituíveis; sempre que pensamos que o mundo e a Igreja dependem do nosso fazer, sobrestimamo-nos.

Ser capaz de parar é um acto de autêntica humildade e de honradez criativa; reconhecer os nossos limites; dar espaço para respirar e para descansar como é próprio da criatura humana.

Não desejo tecer louvores à preguiça, mas contribuir para a revisão do catálogo de virtudes, tal como se desenvolveu no mundo ocidental, onde trabalhar parece ser a única atitude digna. Olhar, contemplar, o recolhimento, o silêncio parecem inadmissíveis, ou pelo menos precisam de uma explicação. Assim se atrofiam algumas faculdades essenciais do ser humano.

O nosso frenesim à volta dos tempos livres, mostra que é assim. Muitas vezes isso significa apenas uma mudança de palco. Muitos não se sentiriam bem se não se envolvessem de novo num ambiente massificado e agitado, do qual, supostamente, desejavam fugir. Seria bom para nós, que continuamente vivemos num mundo artificial fabricado por nós, deixar tudo isso e procurarmos o contacto com a natureza em estado puro.

Desejaria mencionar um pequeno acontecimento que João Paulo II contou durante o retiro que pregou para Paulo VI, quando ainda era Cardeal. Falou duma conversa que teve com um cientista, um extraordinário investigador e um excelente homem, que lhe dizia: "Do ponto de vista da ciência, sou um ateu...". Mas o mesmo homem escrevia-lhe depois: "Cada vez que me encontro com a majestade da natureza, com as montanhas, sinto que Ele existe".

Voltamos a afirmar que no mundo artificial fabricado por nós, Deus não aparece. Por isso, temos necessidade de sair da nossa agitação e procurar o ar da criação, para O podermos contactar e nos encontrarmos a nós mesmos.

(Card. J. Ratzinger, "Esplendor da Glória de Deus" Editorial Franciscana, 2007, pág. 161.)


EVANGELHO – Lc 10,38-42

Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
Jesus entrou em certa povoação
e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa.
Ela tinha uma irmã chamada Maria,
que, sentada aos pés de Jesus,
ouvia a sua palavra.
Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço.
Interveio então e disse:
«Senhor, não Te importas
que minha irmã me deixe sozinha a servir?
Diz-lhe que venha ajudar-me».
O Senhor respondeu-lhe:
«Marta, Marta,
andas inquieta e preocupada com muitas coisas,
quando uma só é necessária.
Maria escolheu a melhor parte,
que não lhe será tirada».

2 comentários:

Anónimo disse...

"Não desejo tecer louvores à preguiça, mas contribuir para a revisão do catálogo de virtudes, tal como se desenvolveu no mundo ocidental, onde trabalhar parece ser a única atitude digna." - Se trabalhar parece ser a única atitude digna nos dias de hoje, então eu sou a pessoa mais indigna do mundo!!!! pcp

maf disse...

Nem todos os Domingos vou á Igreja, confesso. Por vezes alterno a Missa com a Meditação. Trata-se da Escola de Meditação Raja Yoga, ali mesmo pertinho do palácio da Ajuda e que nos convida todos os Domingos das 7hrs às 8hrs. a meditarmos sobre determinado tema. São sempre temas espirituais que vão desde A Linguagem da Alma, a força da coragem, Ilumine o seu Caminho, a Grandeza do Perdão, Deus é Ser Supremo, etc.. Este domingo, foi um dos tais domingos em que optei pela meditação em vez da Missa e o tema centrava-se no Silêncio e como podemos atingir a estabilidade mental e emocional através do silêncio interior. Curiosamente, o tema de hoje coincidiu com o Evangelho de hoje. Ambos nos mostram a importância de sermos Marias. Nesta busca incessante da espiritualidade e do encontro com o verdadeiro eu, tenho encontrado Deus nos mais diversos locais. Esta Escola Brahma Kumaris, ali na rua do Guarda-Joias, é sem dúvida um dos locais onde Ele se encontra.
Maf

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