22 abril 2015

Do (sor)riso

De uma entrevista a Umberto Eco

O excerto de entrevista acima foi-me enviado pelo meu querido amigo ATM em resposta a uma quadra que lhe mandei (autoria de Álvaro Duarte Simões), cantada num fado da Amália - Algemas - de que gosto muito. Reza assim:

Desde sempre que conheço
Porque a vida me ensinou
Que o riso é sempre o começo
Do sorriso que findou

A quadra sempre me intrigou até ao momento em que descortinei, para mim, a diferença entre riso e sorriso. Rimos por tudo o que refere Umberto Eco: a timidez, a vergonha, a loucura, a felicidade. Rimos sozinhos ou acompanhados - em frente a uma televisão, do absurdo de alguém que escorrega e cai, do nervoso de uma situação qualquer, de uma frase cómica encontrada por acaso numa revista.

Mas, ao contrário do riso, o sorriso estabelece o comércio entre os seres humanos. O sorriso é o toque físico entre dois seres onde a mão não é uma condição necessária. Rimos da patetice, mas sorrimos para o próximo. Sorrir é estender o calor humano, é tocar o cotovelo da empregada de balcão, é encostar uma mão às costas sofridas de um operário, é abraçar aquele que nos salva a vida, seja um médico ou um padre ou um amigo, porque somos corpo e alma. Mesmo que não o façamos, e tudo se resuma ao sorriso.

Sorrir, como dançar ou amar, requer a existência de um outro. Quando já só rimos é porque algo se acabou. O sorriso, neste caso. Ou talvez o outro.

JdB

1 comentário:

Anónimo disse...

Sorri.
Não preciso de rir mas morro ao não sorrir.
Sorrir é preciso, viver não.
Quero para mim o espirito desta frase, como Fernando Pessoa fez para o navegar.
JdB, hoje criou um belo texto e revelou verdade, o sorriso é a essência do humano.
Parabéns e Obrigado

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