27 agosto 2019

Do regresso a casa

Presumindo que a série que estou a ver agora na Netflix - Os Últimos Czares - é historicamente correcta, a meia dúzia de episódios que já vi transformam o Czar Nicolau em alguém que pouco mais é do que totalmente incapaz. Não sendo versado nessa parte da história Russa, não tinha a noção da dimensão do falhanço dele como governante. Percebe-se que, ao longo do seu reinado, não tomou uma única decisão certa: pior, todas a decisões importantes que tomou foram desastrosas. 

O último episódio que vi aborda o fim do reinado dele, dada a sua total incapacidade para perceber o que havia a perceber na Rússia: o descontentamento popular, a fome, a miséria, as guerras desastrosas, a perda de respeito. Uma viagem de comboio, uma folha de papel e uma caneta: num instante, no breve instante que demora uma assinatura no fundo de um documento, e extinguiam-se, com aquela abdicação, 300 anos de dinastia Romanov. Um filho herdeiro hemofílico e um irmão que não quis aquele presente envenenado, tornaram a Rússia num país desgovernado.

Deste último episódio - que termina com a ida da família imperial para o local onde serão brutalmente assassinados - guardo um diálogo. A mãe despede-se dele, percebendo que não sabe quando voltará a vê-lo. Insta-o a que vá para Inglaterra, que fale com o "primo George". Ele diz que não, que vai para um local de retiro na Rússia, cujo nome não fixei. A mãe fica aterrorizada e tenta convencê-lo a ir para outro país. Ele responde: vou para casa, mãe.

Tenho escrito muito sobre este conceito de regresso a casa. Nunca me tinha confrontado com este pensamento - ou este movimento de retorno da alma - revestido de tanta tragédia.

JdB

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