12 maio 2023

Moleskine de uma congresso de oncologia pediátrica

Estive estes dias que passaram em Valência, numa conferência europeia sobre oncologia pediátrica, com médicos e representantes de organizações de pais / doentes, mas também com sobreviventes. Voltarei a falar deste tema em maior detalhe, talvez, mas o que posso dizer de imediato é que, apesar do cansaço (afinal, falar uma língua estrangeira o dia todo não é fácil...) foram 4 dias imensamente gratificantes. Algumas notas soltas para já (num misto de informação ligeira e de ténue irritação):

Inteligência artificial

Durante uma hora fala-se deste tema, das suas implicações na oncologia pediátrica: protecção de dados, confidencialidade, desemprego dos patologistas. Ora, se a inteligência artificial vai gerar uma menor necessidade nesta classe de profissionais de saúde, isso significa que serão menos precisos. E se são menos precisos, então basta exportar a inteligência artificial para os pais em vias de desenvolvimento, onde as crianças morrem de cancro (também) por falta de pessoal especializado.

Pegada ecológica

Todos os anos há um congresso internacional de oncologistas pediátricos e de associações de pais / doentes. No ano que vem será (ainda ninguém me conseguiu explicar porquê) no Hawai. Falava com amigos sobre a viagem, sobre o meu relativo desinteresse em ir à ilha, sobre o preço das viagens, etc. Alguém opinou: acho esse congresso inaceitável; ninguém pensou na pegada ecológica? Ora eu, que no domingo parto para a Malásia e Singapura para (também) assistir a uma conferência regional sobre o tema, fiquei de cabelos eriçados, e só respondi, no limiar da bruteza: era o que mais faltava, começar a gerir as minhas viagens em função da pegada ecológica...

Gente negativa 

Oiço uma palestra em que alguém fala de se fugir das pessoas negativas, porque não acrescentam valor. Na véspera, perante alguém que comentou a menor qualidade de uma refeição, houve logo uma resposta certeira: é preciso sermos positivos, e pensar que tivemos um jantar; amanhã será melhor. Toda a gente fala da importância de sermos positivos e isso gera-me uma certa irritação. Para já, todos temos a nossa "negatividade": uns é por palavras, outros são por actos. E, confesso, o excesso de positivismo cansa-me, porque é artificial; é apenas uma coisa que se diz, para fingir que somos bons, queremos viver felizes, fugimos das pessoas tóxicas. Ao meu lado diz-me uma pessoa: numa organização é fundamental termos pessoas negativas: são eles que detectam os riscos... Haja alguém lúcido, não vendido à pureza da vida.

JdB

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo consigo.
Abraço

Anónimo disse...

Sagaz conclusão!

Abraço,
fq

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