Almoço um destes dias com pessoa de quem sou muito amigo. Falamos de tudo: da família, netos, filhos, emprego ou outras actividades, cônjuges, saúde mental e física. Estamos ambos reformados, pelo que já nos poupamos à conversa que sempre achei maçadora da carreira, dos fringe benefits, da incompetência dos chefes, dos pares ou dos subordinados. Conversamos sobre os méritos e deméritos da aposentadoria, de como gerimos os dias, e diz-me ele que vive particularmente feliz: faz muito do que quer e quando quer, tem folga financeira, tem família saudável e próxima - uma alegria total. E diz-me ainda que não sabe (vigiai, porque não sabeis dia nem hora) quanto tempo lhe resta, pelo que se habituou a não fazer grandes planos, vivendo um dia de cada vez.
A conversa, vinda de quem veio, não me surpreendeu, mas não deixei de pensar nessa coisa, não sei se muito moderna, de não fazer planos, de viver o dia a dia e fazer disso uma espécie de filosofia de vida. Há muito que o oiço, não só em pessoas em idade de reforma, mas também em pessoas mais novas: não quero fazer planos, quero viver o presente, gritar o carpe diem como se fosse a única frase que me resta gritar.
Olho para dentro de mim próprio e tenho a sensação de que não há nenhum músculo que se move na direcção do gozar o dia a dia. Tenho muitos planos? Não sei se muitos: quero terminar o doutoramento, e só isso já me leva para o final de 2025. Nesse mesmo ano gostaria de ir, para além de outros destinos mais próximos, ao Chile (onde tenho amigos) e a outro país da América Latina. Em 2026, se um amigo ainda por lá viver, apetece-me ir a Macau e à China. Em 2027, se ainda cá estiver em condições, talvez me atire à Austrália (onde decorrerá o congresso de oncologia pediátrica nesse ano) e Nova Zelândia (onde também tenho amigos).
Concretizarei tudo isto? Não faço ideia. Sei lá eu se não me falece a vontade, a verba ou a força. Mas, à luz do que sei hoje, até 2027 tenho as minha vida muito ocupada, com estudos, voluntariado (um projecto muito específico, que terminará em 2026) e viagens. Nunca fui um fazedor nato, nem nunca tive uma apetência forte para estar sempre em agitação. Temo, porém que, se não tiver planos, a minha vida decorra demasiadamente sob o signo da rotina, o que é complicado para um homem que já gosta muito - ou excessivamente - de rotinas.
Mais do que precisar de planos, gosto de ter planos, e até de partilhá-los com quem me fôr próximo. Há circunstâncias na vida em que, não os tendo, tudo pode ficar desinteressante - ou triste.
JdB
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