18 dezembro 2024

Vai um gin do Peter’s ? 

Compreensivelmente é italiana a Natividade mais antiga que se conhece. O conjunto foi esculpido em madeira de tília e de olmo, no século XIII, pouco tempo depois de S. Francisco de Assis ter inaugurado a primeira representação do nascimento de Jesus, na noite de Natal de 1223. A originalidade e a força daquele gesto alastraram-se rapidamente por toda a cristandade, assim instituindo a tradição dos presépios, até aos dias de hoje.

As imagens pertencem à Basílica de Santo Estêvão, em Bolonha e podem ser vistas na pequena capela no interior de uma das sete Igrejas que formam o complexo conhecido por Basílica de Santo Estêvão: a da Santíssima Trindade ou Martyrium.

A Basílica de Santo Estêvão corresponde a um complexo arquitectónico, também designado por "Sete Igrejas" ou “Santo Sepulcro” 
(a mais famosa do grupo) ou "Sancta Jerusalem Bononiensis", cumprindo a intenção do Bispo e patrono da cidade
 – S. Petrónio –  de recriar em Itália os lugares sagrados de Jerusalém.

A Natividade de Bolonha foi concebida por um autor desconhecido, à escala real, sendo por isso o maior presépio monumental de Itália. A policromia que hoje reveste as imagens foi introduzida um século mais tarde (após 1370), pelo pintor bolonhês Simone dei Crocifissi, nos tons característicos da pintura sacra medieval: em ouro, índigo, magenta e verde. Graças a um restauro meticuloso (2006), a ancestral Adoração dos Magos preserva a beleza do estilo gótico original. 

Para se perceber a escala: as figuras mais altas, dos dois Reis em pé, medem 1,60m,
enquanto o que está ajoelhado, a homenagear o Menino, mede 1,10m.

É tocante o olhar protector do pai, pousado sobre o Pequenino revelado pela Mãe, com simplicidade e confiança, aos misteriosos visitantes ricos, que reconhecem n’Ele o Deus encarnado. Por isso, mal o avistam, adoram-No e oferecem-lhe os melhores presentes, protagonizando a primeira epifania da vida do Messias na terra. 

Perpassa uma enorme paz entre todos, cada um cumprindo uma missão simbólica: S. José, o guardião meigo; Maria, mãe atenta e generosa com os desconhecidos, antecipando a maternidade universal que lhe iria ser pedida como co-redentora da humanidade; o primeiro Mago ajoelhado e sem coroa para venerar o maior dos Reis; o segundo Mago a apontar para a Estrela que os conduzira àquela gruta distante; o terceiro Mago reluzindo uma oferta valiosa, talvez um incensário para abençoar naquele Bebé todos os seres humanos salvos pelo Filho do Homem.  

O esplendor do colorido medievo foi recuperado no restauro concluído em 2006.
Actualmente, o conjunto está exposto numa vitrina transparente,
com os níveis de humidade e de temperatura controlados electronicamente.

Em vez dos tradicionais traços étnicos representativos das diferentes raças do planeta, estes Sábios do Oriente simbolizam as três idades da fase adulta, desde a juventude até à senioridade, cabendo ao mais velho o lugar de honra no cortejo, junto ao Salvador do mundo. 

Um dos visitantes mais ilustres do valioso presépio de Bolonha foi Dante Alighieri, que estudou direito naquela cidade da Emilia-Romana e frequentou assiduamente o complexo de sete igrejas da Basílica de Santo Estêvão. De facto, algumas das cenas narradas no purgatório do autor da Divina Comédia são reconhecíveis em figuras esculpidas nos capitéis da galeria superior do claustro medieval: como o nu semi-esmagado por um pedregulho ou a cara violentamente torcida em 180º.  

Claustro que replica o pátio de Pôncio Pilatos, onde Jesus foi condenado à morte.
O itinerário dos monumentos constitutivos da Basílica costuma começar na Igreja do Crucifixo,
cuja cripta, designada «do Sepulcro», contém uma cruz nas dimensões da original,
segundo reza a lenda, assim revelando a altura de Jesus. 

No seu pensamento do dia 17 de Dezembro, o P. Vasco Pinto Magalhães, sj focou-se num dos segredos do Deus que extravasa os pensamentos humanos, começando logo no nascimento pária: «Estes dias que vão correndo, todos sentimos o desejo de viver num mundo mais justo e mais pacífico. Para fazer a paz é preciso ser forte por dentro, isto é, paciente e manso para aguentar as dificuldades sem desistir do bem. Fortaleza nada tem a ver com violência: esta é ingénua, impulsiva e nada constrói. A violência é sinal de fraqueza moral e espiritual.» (in ‘Não há soluções, há caminhos - 365 vezes por ano não perguntes porquê, mas para quê’). A mansidão lúcida, livre e transbordante de amor daquele Recém-nascido explica porque volta a querer renascer no nosso coração, ano após ano, desejoso de ficar connosco para sempre. O maior presente! Festas Felizes e santas a todos. 

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas) 

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