29 novembro 2008

Depois de Vós Duques, Nós Plebe


Em nome da nossa História e da independência do Reino, reservai quarto e correi a visitar o berço da paz. Ide, que não há como o passado para alegrar as hostes em terra lusa.

O Alto Alentejo, por inúmeras razões, foi a província predilecta da Coroa, onde permanecia temporadas, e o vasto património é disso testemunha, espelhando a cultura, a política, as artes e o correr da vida dos homens séculos fora. Vila Viçosa está na rota desse mundo maravilhoso de igrejas, palácios, castelos, casas fidalgas e propriedades agrícolas.

Estando na vila crescida sob o cunho da Restauração, encete a viagem na estátua equestre do monarca alentejano, prudente governador do Reino, homem culto e amante de música, construída em 1940, por Francisco Franco (de Sousa), trezentos anos após a expulsão dos castelhanos. Eleve o olhar na largueza do terreiro e dedique-se então à obra grandiosa da Renascença – o Paço Ducal – onde o 8.º Duque de Bragança conheceu o trono de Portugal. Era já o dia 3 de Dezembro de 1640 quando bradaram a El’Rei D. João IV. O Paço, idealizado pelo 4º Duque de Bragança, D. Jaime, em 1501, só ficou concluído cem anos depois, graças ao neto Teodósio II, que recobriu os 110m de fachada com mármore dos Montes Claros. O interior alberga um museu, a biblioteca da Casa de Bragança e um notável recheio dos séculos XVII e XVIII. Saindo, alcance a Porta dos Nós, símbolo da máxima de Bragança, mais um exemplar que perdura e eterniza a encantadora arte manuelina do século XVI. Daqui, enverede pela Tapada Real, onde outro mundo se desvenda: a diversão da Real Casa Portuguesa. Os jardins que escondem grutas, o couto de caça, os recintos para jogos, torneios e touradas, a que as senhoras assistiam… só do alto do mirante!

Rume à velha cidadela. Tope a formosura do casario, o asseio das ruelas, o ror de portas ogivais. O Castelo é pálida imagem do original erguido por D. Dinis, após as modificações em épocas várias. Primeira alcáçova real, merece atenção a Sala dos Duques. Entre na Igreja Matriz, peça uma graça a Nossa Senhora da Conceição e aprecie o manto sobre a imagem gótica. Foi a 25 de Março de 1646 que D. João IV, em louvor do restabelecimento da soberania portuguesa lhe ofereceu sua coroa e a elegeu Padroeira de Portugal. Ao lado, no cemitério, dê um raminho à bela Espanca, cujo nascimento se celebra precisamente a 8 de Dezembro, dia da Padroeira, que sai em procissão. Deixe a cidadela através dos torreões que a flanqueiam e palmilhe a alameda de laranjeiras. Desvie para as travessas e enterneça-se com a malha urbana rigorosamente conservada, caiada e riscada de amarelo, engalanada de flores e trepadeiras, uma tradição dos calipolenses. Tempos houve em que ia a prémio a rua mais florida da vila. Procure a Igreja de São Bartolomeu, outra obra empreitada por D. Teodósio II, em 1636. Rica é a talha do altar-mor, do artista autóctone Bartolomeu Gomes, magníficos os frescos da capela-mor e valiosos os azulejos azuis e brancos. Em mármore da região, destaca-se, frondosa, a fachada principal.

Resta honrar duas vilas-fortaleza da raia, pilares fundamentais da nossa defesa. No Alandroal, terra de homens de coragem que se evidenciaram a servir o País, é entrar, mirar as torres, o pano de muralha, a Igreja Matriz, a airosa torre do relógio, as casinhas e os seus quintais pejados de oliveiras velhas. E é sair e beber na Fonte da Praça, talhada em mármore, e respirar fundo, que os ares do Alandroal são abençoados – em tempo de pestes e doenças, os homens daqui sempre foram poupados. Siga por fim a Juromenha. Hectares de cultivo, gado e olival acompanhá-lo-ão até esse lugar emudecido. Do que lá vai, nem se adivinha. Torres sentinelas de vistas largas, dezassete. Lutas renhidas que o Guadiana espelhou, muro de pedra em que o inimigo esbarrou e gente que dava a vida. Esse é o passado da velha praça. Agora, goza-se-lhe a vista, o rio sereno de tons mutantes e a Olivença “sem pátria” no horizonte. Achegue-se ao cemitério, o melhor poiso para “beber” este rio e gravar na memória uma paisagem de Portugal.

DORMI
Pousada D. João IV: Ocupa o Convento das Chagas de Cristo contíguo ao Paço Ducal. Foi D. Jaime quem o fundou, com o intuito de recolher algumas das suas filhas do segundo casamento. Freiras da Regra Clarissa entraram em 1533, pela mão de D. Joana de Mendonça, viúva do 4º Duque. A Igreja é Panteão das Duquesas de Bragança. Convertido ao turismo, resultaram quartos temáticos baseados em lendas e 2 suites, num total de 36. Preservadas foram as antigas celas, retiros e oratórios das religiosas. Vêde em http://www.pousadas.pt/ ou alternai em http://www.sgregorio.com/.

TRAZEI
Tibornas: Os pastéis da terra, feitos de amêndoa, fios de ovos, pão trigo e açúcar, cobertos com doce de chila e fios de ovos. Sericá: Dizem que os árabes trouxeram a receita mas outros defendem que veio do Oriente na mão do copeiro que acompanhou D. Constantino de Bragança, 7º Vice-Rei da Índia, no regresso ao palácio de Estremoz, onde adiante se edificou o Convento dos Congregados. Se é verdade, a receita propagou-se porque há testemunhos que no Convento das Chagas de Cristo, em Vila Viçosa, as monjas faziam o Sericá. Parece pão-de-ló, cozido em forma de barro, mas a massa leva açúcar em ponto de pasta. Serve-se com ameixas em calda, o velho processo de conservar a fruta durante o inverno.

BEBEI
Das oito regiões vinícolas. Portalegre, Borba, Redondo, Évora, Reguengos, Granja-Amareleja, Vidigueira e Moura. Ida é a época em que a província seca dava “mau vinho”. O clima tórrido não permitia resultados sem defeito. Mas a tecnologia em forma de aço inoxidável garantiu tintos de qualidade a partir de uvas nativas, onde as castas Castelão Francês (vulgo Periquita), Trincadeira e Aragonez, apresentam excelente desempenho. Nos brancos, Arinto e Roupeiro, mesmo com o calor, mantêm viva a acidez natural. É a oriente, junto à fronteira, que colhem maiores elogios. Comprovai: Adega da Cartuxa (Évora), Quinta do Carmo (Estremoz) e Herdade do Esporão (Reguengos).

DaLheGas

1 comentário:

Anónimo disse...

-Senhor, acaso tendes a calèche, pronta?
Poderei contar com uma visita e acompanhamento VIP a tão distinta província de Sua Magestade?

ou terei que aguantar ca carreira e tratamento Cheap por estas terras poirentas e lamacentas,? cruzes canhoto


-Dizei logo, é que apetecia-me algo : ...assim tipo Sericá...

ou umas tibornas de chila, nã me fazia rogada, nã senhôri

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