18 agosto 2013

20º Domingo do Tempo Comum

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.

Repito-me num raciocínio que já aqui explanei, porque o apanhei algures. Desta vez aplico-o ao mundo da religião, o que não faz mal porque a réplica não é desprovida de sentido: refiro-me, para encurtar deveneios de um agosto ventoso, à distância a que nos colocamos quando queremos observar a Igreja. No fundo, a distância que definimos como a correcta para observar o que quer que seja.

Se nos afastarmos muito de um objecto de interesse, o que vemos? Um metafórico vulto pequeno esbatido contra uma enormidade de objectos à volta. Temos, por isso, uma visão de conjunto, um pouco como se víssemos um serra deslumbrante a dezenas de quilómetros de distância, ou uma mosca a poucos metros. Falta-nos no entanto o pormenor, porque o nosso olhar não é tão aguçado assim. No sentido inverso, se nos aproximarmos demasiado de algo, o que vemos? Um detalhe apenas: uma ponta de rocha aguçada, uma flor de cor improvável, um lagarto a escapulir-se para debaixo de uma pedra, um lenço de papel usado que foi atirado para um silvado. O pormenor capta o completo da nossa visão.

A que distância nos devemos colocar, por isso, da Igreja? Para já, devemos colocar-nos dentro da igreja, para que sejamos com ela um só, irmanados ambos no mesmo destino. Porém, se não o conseguirmos, devemos encontrar um ponto - difícil, porque subjectivo - que nos permita ver o conjunto e o pormenor. Que seja suficientemente afastado para descortinar o lugar importante da igreja no mundo; que não seja demasiado próximo para que nos confrontemos com a fealdade possível que advém da observação demasiado perto. Que seja suficientemente próxima para que possamos detectar rostos que sorriem, observar olhos que se compadecem, vislumbrar mãos que se oferecem; que não seja demasiado longínqua para que se perca tudo, e se retenha apenas um sino que talvez toque contra uma céu que não se esgota. 

Estar perto e estar longe, para que se veja o bom e o bonito: o serviço, o caminho de santidade, as mentiras arrependidas, as falhas lamentadas, as quedas que precedem o continuar do caminho. Não é fácil, é uma tarefa para uma vida.

Bom Domingo para todos.

JdB

*** 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Eu vim trazer o fogo à terra
e que quero Eu senão que ele se acenda?
Tenho de receber um baptismo
e estou ansioso até que ele se realize.
Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra?
Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão.
A partir de agora,
estarão cinco divididos numa casa:
três contra dois e dois contra três.
Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai,
a mãe contra a filha e a filha contra a mãe,
a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».

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