06 novembro 2013

Diário de uma astróloga – [64] – 6 de Novembro de 2013


Despojar (se) – uma actividade própria de Saturno em Escorpião

No mês passado, em conversa com uma amiga astróloga sobre as dificuldades que muitas pessoas atravessam neste momento, a palavra despojar (se) foi usada com muita frequência.

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, informa que o verbo transitivo significa:
1. Desapossar; privar de posse
2. Despir.
3. Roubar, saquear.
E o verbo pronominal significa:
4. Desapossar-se.
5. Despir-se.
6. Desembaraçar-se.

À saída de casa dessa amiga tinha comigo um guarda-chuva  de que muito gostava. Fiquei privada da sua posse quase imediatamente, pois deixei-o no autocarro 738. No dia seguinte apresentei uma reclamação junto da Câmara Municipal de Cascais, pois o montante da licença de construção que me é exigido é um verdadeiro saque, sinto-me roubada.

Desde então, em conversas com amigas e clientes, este tema tem aparecido repetidamente: a venda de uma casa é sentida como o despojar de uma forma de vida passada, a perda de um emprego sentida como o despojar de um rendimento fixo e seguro e uma lesão num pé de uma pessoa que é muito activa sentida como o despojar do prazer de fazer desporto.

Saindo do mundo pessoal, li uma notícia onde o Papa Francisco convidava “a Igreja a despojar-se de um perigo gravíssimo, que ameaça cada pessoa na Igreja: o perigo da mundanidade”. Uma mensagem muito forte transmitida em Assis na sala do despojamento onde São Francisco, há oito séculos, se despojou de todas as suas posses.

Com tantas alusões senti que devia olhar para este processo através da visão astrológica.


Sempre que aparecem limitações olhamos para SATURNO, que tem um ciclo à volta do Sol de 29 anos e, por isso, passa aproximadamente 2 ½ anos em cada signo. O 5 de Outubro de 2012 ingressou no signo de ESCORPIÃO onde está até meados de Junho de 2015. 


Os que têm mais conhecimentos astrológicos sabem que a intensidade de Saturno em Escorpião se encontra amplificada pela presença de Plutão (regente de Escorpião) em Capricórnio (regido por Saturno) (2008 – 2024).

A energia de Saturno pode ser sentida a nível material e a nível psicológico. As limitações são por vezes tão pesadas e tão restritivas que provocam pensamentos negativos, sentimentos de tristeza que nos fazem mergulhar na depressão. Saturno ou Cronos, o deus do tempo, obriga-nos aceitar que tudo tem a sua época e nada nem ninguém pode existir para além do seu período de vida natural.  

Escorpião é o signo ligado a processos de transformação: o que já não é necessário deve ser deitado fora (por nós próprios, ou o Universo encarrega-se dessa tarefa com mais brutalidade) para dar lugar ao novo. O processo é de eliminação, de limpeza para atingir um estado de purificação. Escorpião também está relacionado com poder, tanto o dos poderosos deste mundo como o poder individual. Aos poderosos do mundo gostaria de lembrar que a roda gira e Saturno representa “dar contas” e Escorpião pode ser implacável. Individualmente, para nos tornarmos realmente poderosos, temos que perder medos e chegar ao fundo, ao fulcro, ao âmago de quem somos.

A combinação de Saturno em Escorpião não é leve nem divertida, mas as experiências de Saturno em geral, e sobretudo em Escorpião, se bem vividas, acabam por trazer a serenidade e a solidez necessárias para atingir os grandes objectivos da vida. Saturno é o mestre exigente, o treinador que impõe disciplina, e em Escorpião fá-lo através de treinos esgotantes que nos fazem perder tudo o que é supérfluo.

O Papa, ao evocar os que foram “despojadas por este mundo selvagem que não dá trabalho, que não ajuda”, referia-se aos poderosos desde mundo cada vez mais desumanizado numa corrida para acumulação de riqueza. A CMC, provavelmente, vai conseguir despojar-me de bastante dinheiro, que espero seja gasto para o bem da comunidade como espero que o meu guarda-chuva esteja a ser útil a quem o encontrou. A casa da minha amiga já não tem lugar na sua vida presente, o que lhe vai dar a possibilidade de construir outra coisa virada para o futuro, assim como a que perdeu o emprego está agora livre duma actividade de escrava para explorar novos caminhos e usar o tempo para fins mais úteis, e a que tem o problema no pé terá que aceitar humildemente que a idade a despojou de uma saúde de ferro.

Pessoalmente, Saturno em Escorpião ajuda a desembaraçar-me de coisas dispensáveis e acessórias, a largar o lastro e, como a tarefa é difícil, peço aos deuses e deusas do zodíaco que me concedam:

O poder da água para aceitar com naturalidade e elegância aquilo que não posso mudar
O poder do fogo para ter energia e coragem para mudar as coisas que posso
O poder do ar para ter o discernimento de perceber a diferença
E o poder da terra para ter a força de construir meu caminho futuro.

Luiza Azancot

2 comentários:

ACC disse...

Tenho falado amiúde com o dono deste estabelecimento sobre despojamento. Talvez tenha sido pela sua boca que materializei este conceito, mesmo não sendo uma colectora por natureza, confesso que me é difícil vive-lo com honestidade. Tenho frémitos indomáveis de libertação de coisas, pessoas, sentimentos e até emoções, mas não sei até que ponto a minha natureza se reestrutura substituindo ou reduzindo o que se vai ou evapora. Vejamos, uma casa nova,como exemplificaste, pode ser um passo em frente e um homicídio voluntário. Arranja-se uma casa nova para se reconstruir uma vida, mata-se uma velha, mas arranja-se outra. Imagina que te livras de montes de tarecos e cascalho que nao precisas, imagina que ofereces metade da tua roupa, da tua loiça e dos teus sacos de viagem. Deste quase tudo, despojaste-te do supérfluo. Sentes-te melhor e ajudaste alguém que nada tinha. Ora, em primeira instância sentes-te melhor. É aqui que eu quero chegar. Será que o despojamento é verdadeiramente purificador do um ou purificador do todos?
A tua crónica está fantástica, mas assusta-me porque de 2008 a 2024 vão ser anos difíceis para os nossos netos

LA disse...

Welcome back! Respondo as tuas duvidas por mail mas nao te preocupes com os nossos netos - sao de outra geracao (1997 - 2010) muito mais virada para o colectivo, com grande dose de compaixao... Ve este video http://www.upworthy.com/watch-an-entire-team-of-teenage-football-players-do-something-very-unexpected
mandado por uma cliente minha do Cape - para se perceber bem e' preciso compreender que o football americano e' um desporto violento, competitivo, os que marcam sao os quarterbacks considerados pelo publico semi-deuses.

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