01 outubro 2014

dois mil e qualquer coisa

Presença, fotografia de JMAC, o homem de Azeitão


quando me chamaste com o teu canto de sereia
seriam para aí meia-noite - quero que me adormeças -

e, já ao bater das três (talvez quatro), te disse adeus,
ajeitando os lençóis sobre os contornos do teu corpo,

estava longe de imaginar que hoje, tantos anos depois,
ainda me ocorresse essa tão improvável conversa

entres dois seres à deriva que se encontraram
numa tão exacta travessa do Príncipe Real.

misturavas Heidegger e a tua lânguida beleza
e eu sem saber o que dizer, enredado, bem se vê,

em feminis argumentos, ainda por cima elevados 
à mais do que décima potência de uma escala

em que a tua gravitas sensual arrumava por ko técnico 
o meu pretensiosismo e o meu pathos existencial.

nunca o príncipe me pareceu tão formidavelmente real.
nem, nunca mais, Heidegger me pareceu tão belo.


gi.

2 comentários:

Acc disse...

Bravo!

Anónimo disse...

💙 Lindo, gi

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