04 dezembro 2014

Das fasquias altas

Imagem tirada da net


Nada fez mais pelos obsessivos do que a expressão fasquia alta. Percebi esta ideia muito depois de ter entendido, com dose igual de fascínio e terror, o que eram obsessões: pela pontualidade, pela limpeza, pela arrumação, pelo controlo das agendas ou das vidas alheias. Falo de trivialidades no que concerne à salvação das almas, não me refiro a taradices ou coisas quejandas, puníveis pela lei ou pelos bons costumes.

Antes de haver a noção de fasquia alta, as pessoas eram obsessivas por isto ou por aquilo. Depois, num dia de particular felicidade para o equilíbrio das sociedades, alguém inventou o conceito e disse: eu, obcecado pela limpeza? De todo, tenho é a fasquia muito alta, sou pessoa para dar muita importância a isso. Quem diz a fasquia alta para a limpeza diz a fasquia alta para a pontualidade: não sou nada obcecado, tenho é um grande respeito pelas pessoas - a fasquia está muito alta.

Uma obsessão é uma obsessão, não é uma fasquia. As nossas manias não são provas de salto em altura ou à vara. Dentro de nós não existe o rolamento ventral versus o fossbury flop. A indignação por três minutos de atraso quando se vai almoçar com alguém, ou um pano esfregado num fórmica onde se descortinam dedadas vagas não são respeito ou higiene - são maluquices que nos invadem o cérebro e as mãos e a boca e o estômago. Estas maluquices são perniciosas ao equilíbrio das vidas? Não. Antes isso do que a droga ou, como me disseram um dia, uma infecção urinária. 

Eu sei quais são as minhas obsessões. São tão doentias como outras com que convivo diariamente, isto é, não fazem uma mossa desmedida. Tudo em mim se atira para dizer que ah, e tal, a fasquia alta. Infelizmente, estou numa fase que se situa no grau acima do excesso ponderal, pelo que a fasquia alta e o editor deste estabelecimento são, no fundo, impossibilidades, incoerências, ajustes impensáveis, casamentos nulos. Fasquia alta, para mim, é uma vara de alumínio ao nível dos artelhos. 

Talvez por isso, e só por isso, eu reconheça as minhas obsessões. Faço tudo, menos saltar para chegar à fasquia.

JdB

1 comentário:

Anónimo disse...

Na urgência do salto o atleta ignora os outros á sua volta, ele não se apercebe, mas de tanto perseguir essas fasquias corre o risco de um dia o estádio estar já vazio....

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