04 novembro 2015

Carta a um anjo

Foi hoje, mas há catorze anos.

Hoje é dia de acalentar a esperança de vivermos dias melhores, de mantermos as boas lembranças e de nos esquecermos das más, de darmos um sentido à vida, de fazer da escuridão de algumas memórias uma luz que se acende para nós, para os outros; é dia de acalentar a esperança de não nos esquecermos de ninguém quando nos lembramos de ti, da esperança de nos encontrarmos todos um dia, mesmo que não saibamos nada, porque tudo é um enigma - o Céu, o amor de Deus, o propósito de sermos ou o mistério de existirmos. Hoje é dia de acalentar a esperança de saber diferençar a matéria do pó, o essencial do transitório, as pessoas dos transeuntes, os desafios dos tropeços, o olhar do ver.

Hoje é dia de acalanto; de aconchegar ao peito uma imagem, uma presença, uma memória, uma saudade, uma mão, uns dedos, uma certeza; é dia de acalmar um incómodo, de consolar um coração que bate tranquilo, não apesar de, mas por causa de. Hoje é dia de acalanto; é dia de aquecer a alma com o pó do Amor, de estender um olhar para além das agruras da vida corriqueira e o depositar na eternidade que não conhecemos, que estranhamos, mas onde já vives para nos ensinar o caminho. Hoje é dia de acalanto para cada um de nós que te conheceu directamente ou de ouvir falar, que estendeu uma mão quando a nossa pendia insegura, que nos falou mansamente para partir o silêncio que doía. Hoje é dia de fitarmos os olhos no Céu onde tudo começa e onde tudo acaba. É dia de dizermos dorme anjo. É dia de acalanto.   

JdB, em nome de todos os outros cujos nomes conheces, em cujas almas sopras 
  

1 comentário:

aritnetoj disse...

Que beleza o acalanto...
Bj

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