12 setembro 2016

Da salvação

O Regresso do Filho Pródigo (Rembrandt


Não sei quando tive - melhor dizendo, quando voltei a ter esta sensação. Talvez tenha sido numa sequência de eventos dentro de uma igreja: um casamento, uma missa de corpo presente, talvez outro casamento, uma homilia mais iluminada, um livro ou uma passagem de um livro, uma conversa. Talvez nada mais do que uma emoção composta por uma quantidade imensa e não memorizável de eventos, palavras, associação de ideias.

Dizia-se dantes que não havia salvação fora da Igreja (Católica). Penso que a doutrina já não é esta e que sim, há salvação para todos. E no entanto, para mim não faz sentido eu salvar-me fora da Igreja Católica. Apenas porque acredito que é através dela que eu me salvo.

Este início de raciocínio parece algo desconchavado, fora de contexto, metido à pressão. Talvez seja, mas ele advém, como referi ao princípio, de uma acumulação de sensações agradáveis que me levam à certeza de que é a fé que (também) nos salva e que a menção à ética republicana é de uma pobreza franciscana quando comparada com a ética cristã. Não há filosofia, corrente, tendência ou moda no mundo que faça mais pelo corpo e pela alma do que o cristianismo e a Igreja onde me sinto bem. Nada me ensina a ser melhor - nas minhas várias vertentes - do que ouvir o que oiço nos casamentos, nas missas, nos velórios, nas homilias inspiradas, nas leituras luminosas.

Um dia destes falava com um amigo sobre outro amigo comum e o tombo que ele deu na vida por questões circunstanciais. Mencionámos a dignidade com que se levantou e anda. Diz-me este amigo: "estou certo de que foi a fé". Olho para mim, para os meu tombos, e penso na bendita fé. Não só numa fé que nos faz acreditar naquilo que não vemos, mas numa fé que nos faz andar em frente e pensar no sentido das coisas, na vida, nos sacrifícios, nos outros.

Isto que eu sinto e que eu vejo à minha volta tentei transmiti-lo quando falava aos casais que celebrariam o matrimónio daí a pouco tempo: é a fé que nos pode salvar, é o Amor que nos pode salvar. Disse isso a outros casais bem mais próximos de mim: não descurem a vossa vida religiosa. Ninguém faz de nós melhores pessoas do que o cristianismo na igreja onde nos sentimos bem. Um dia, uma frase ouvida num momento de tormenta é uma luz que podemos não querer seguir. Mas a luz está lá. E pode ser essa luz que nos salva. 

O evangelho de ontem era também sobre o regresso do filho pródigo; um evangelho desafiante, que põe em causa a nossa ideia de justiça. E dizia o prior que nos momentos mais tenebrosos da nossa vida é o vislumbre de um episódio de amor passado que nos faz seguir em frente. 

JdB 

    

2 comentários:

Anónimo disse...

bom!

Raquel da Câmara disse...

Adorei o livro! Ao longo da minha vida também consigo ver claramente, agora à distância, que tem sido sempre a fé é o amor que vem através dela que me salva, que me faz tentar ser cada vez melhor. Este é um livro para ler, reler, voltar a ler...

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