23 agosto 2008

Vou-me embora, vou pró Sul...


Para aqueles que por obsessão persecutória, preocupação genuína ou ausência de alternativa mais interessante seguem os meus passos ao nível do mapa, sugiro que cantem comigo, como cantariam com o Vitorino:

Vou no vapor da madrugada
A minha estrada vai prò Sul
Dá-me um abraço d´encantar
Volto para o fundo dum olhar
Meiga paixão ao Sol do Estilo
Rubra papoila fugidia
Encontro certo no trigal
Nada me prende, vou-me embora
Vou pró Sul...

Com efeito, à hora em que a maioria dos meus leitores – fiéis ou ocasionais – me lê, estarei a caminho de Chiredzi, no sudeste do Zimbabué, a menos de 50km do Parque Nacional de Gonarezhou, na fronteira com Moçambique. Sairemos de Harare pela fresca da manhã, passando por Chitungwiza, Chivu, Gutu e Zaka, numa estirada matinal de 450km. Contamos chegar ao nosso destino pela hora de almoço.

Estaremos até 3ª feira instalados no Nduna Safari Lodge, junto ao um lago onde os hipopótamos vêm escorropichar uma aguinha e fazer, eventualmente, as suas abluções. Fruto de uma prática legal que foi explorada com mestria e noção do tempo, de uma vontade indómita de dois amigos e de um furor cambial a que nunca me habituarei, pagaremos uma obscenidade de 11 ou 12 euros por dia.

Imaginam os meus queridos amigos e visitantes que pernoitaremos junto ao Hippopotamus amphibius, enquanto ele gargareja ao pôr-do-sol? Comeremos capim ao relento? Estender-nos-emos junto a uma fogueira que aquece o corpo gelado e afugenta a chita esfomeada? Desenganem-se, então. Estaremos instalados em chalets individuais (assim reza o dépliant), com direito a três-refeições-três, bar aberto, e dois safaris diários: um de manhã, para ver como o animal africano reage ao nascer do dia; o outro à tarde, para ver a fauna a recolher, enquanto a escuridão se instala.

No entretanto estaremos por ali, escutando os ruídos próprios da savana, pensando na vida, em estado de prontidão e resposta para enfrentar o animal feroz que se aproxima, desejoso, quem sabe, de carne branca. E lembraremos todos os amigos que por esse Portugal fora preparam orçamentos, enquanto nós observamos a hiena.

O preço é tão convidativo que considerei seriamente a hipótese de me quedar por ali, habituar-me à ausência de tudo, porque as comunicações com o exterior são impossíveis: não há telemóveis, rede fixa, internet. Durante três dias o mundo isola-se de mim, restando-me o rufar dos tambores para saber se Vicente Moura se demite, se recandidata ou reivindica uma condecoração por alturas do 10 de Junho.

Se quiserem ter um cheirinho do que irei encontrar, abro a ponta do véu (muito poucochinho, porque o país está, todo ele, em construção...) com este site. O resto virá depois.

3 comentários:

Anónimo disse...

A que horas bebem os hipopótamos? Extenso

Anónimo disse...

Embora não tivesse estado no Sul do Zimbabué, estive no Sul e Sudoeste de Portugal e tentei o mesmo... nada de telemóveis, internet, rede fixa, automóvel e, televisão, só para ver os Jogos Olímpicos! Resultou parcialmente... Por aí, deve ser mais fácil usufruir da ausência de tecnologia. Aproveite!!!

ana v. disse...

A minha direcção também é sempre para o Sul, com ou sem o Vitorino... por isso acho que escolheu bem o destino.
Boa viagem e bons safaris, com muita emoção à mistura!

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