27 janeiro 2011

Deixa-me rir...

A crise está aí. Em Portugal, na Europa, no Mundo (aparentemente não tanto no Médio Oriente, por razões mais ou menos óbvias). É um facto, é uma realidade que toda a gente comenta ad nauseum. Por isso, quando se bate no fundo dos fundos e não há forma de saltarmos para o País das Maravilhas, qual Alice aos trambolhões pelo poço escuro do desânimo, do desalento, da demagogia e do baixar dos braços, há que nos levantarmos por nós próprios, não esperando que ninguém nos venha salvar (nem o Estado, nem a conjuntura, nem Deus, nem o Pai, a Mãe ou o namorado…). Isto tudo a propósito de várias conversas que tenha tido com um amigo meu. Apaixonado por Portugal, pela nossa História, pelos nossos feitos e pela nossa Língua, revolta-se, diariamente, contra a nossa passividade, a nossa ignorância, a nossa falta de auto-estima. É estimulante, muito estimulante, debater ideias com ele. Dentre a catadupa de ideias que jorram, cada 5 segundos, de uma cabeça muito inteligente e altamente criativa, destaco uma que não é demasiado complicada e que pode funcionar como alavanca de vida para jovens à procura de emprego, quarentões desempregados ou, simplesmente, pessoas que procuram ganhar mais algum dinheiro e que se preocupam com o futuro do nosso país. Porque, a componente social, ou melhor, a criação de emprego, e consequentemente de riqueza, está na génese desta ideia…


Portugal não precisa de importar nada. Já temos tudo. Prada’s, Donna Karen’s, Corte Inglés, produtos de todo o género e para todo o tipo de bolsas e gostos. Não precisamos, nem devemos, continuar a trazer para Portugal marcas e produtos que são o último grito, a última moda do que existe lá fora, e que, quer queiramos quer não, acabam sempre por relegar para segundo plano a produção nacional (por causa desta mentalidade bem nossa, bem portuguesa, que o que vem do exterior é que é bom). Neste momento, na minha opinião, e não é só na minha (basta ler alguns jornais estrangeiros), ser austero, viver com pouco, regradamente, é que é cool, é que está a dar. Acabou-se (será?) a era do esbanjamento, do consumismo frenético, do novo-riquismo irracional. Por mim, acho lindamente. A minha experiência prolongada na Índia fez-me entender, e de que maneira, como podemos ser felizes com muito pouco. Lembro-me até de ficar meio zonza quando, pouco depois de regressar, entrava nos nossos supermercados e via marcas e marcas de iogurtes, de bolachas, corredores e corredores de prateleiras cheias de artigos para consumir…. Não sou anti-consumo, atenção. Gosto de comprar roupa, livros e discos, de ir ao teatro, ao cinema e de viajar. Mas tudo tem de ter a sua justa medida. E chegámos a um ponto que deu no que deu. A economia “partiu”, a corda foi esticada demais.


Mas estou a afastar-me do meu pensamento inicial. Criar riqueza tem de ser o nosso futuro. De nós Portugueses, entenda-se, os outros países saberão de si. Temos de pegar em ideias portuguesas, em produtos portugueses e, com a maior confiança em nós próprios e no que criamos, pormos estes produtos no estrangeiro. Dou exemplos. Alguém já pensou em exportar as ameixas de Elvas? Ou as queijadinhas de Sintra? Ou os nossos deliciosos doces regionais? Nunca vi palmiers do género do Careca em nenhum supermercado de Londres, por exemplo.... E o nosso fabuloso azeite? E os bordados nacionais? E as jóias, os móveis ou as roupas que pessoas que conhecemos, particularmente dotadas, fazem? Porque não? Certa vez tentei vender as jóias duma amiga minha ao José António Tenente. E ele ficou interessado em vê-las… e não me conhecia, nem à minha amiga… ou seja, basicamente, the sky is the limit. Cada vez mais acho que as barreiras que nos rodeiam, somos nós que as criamos. E isto aplica-se aos negócios, aos estudos e ao nosso desenvolvimento pessoal. Já pensaram que se podem reunir com presidentes de câmaras municipais e propor-lhes a revitalização de indústrias locais? Já pensaram em pegar nas tapeçarias de Portalegre, uma arte que está, ao que sei, cheia de problemas, e levá-las aos melhores decoradores de Londres ou Nova Iorque? Porque não?


Esta ideia tem uma enorme vantagem: os custos do negócio são mínimos, porque se baseiam na intermediação. Basta ter um bom produto, internet, email e um telefone. Saber inglês, ter boa apresentação e desenvoltura ajudam, evidentemente. Assim como algum dinheiro para se viajar na Easyjet (de 3ª a 4ª feira, de preferência) e visitar as feiras que se realizam em Londres, Paris, Amsterdão ou Florença para vermos o que de melhor se faz no mundo ou, preferencialmente, apresentarmos os nossos produtos, tentando preencher nichos de mercado vazios.


Nada é impossível! E tudo isto se pode fazer devagarinho, claro. Até pode ser conciliável com outros trabalhos. Basta acreditar num produto com o qual nos identifiquemos e conseguir colocá-lo no mercado certo. Como é que isto se faz?? Bom, quem é de marketing e da área comercial, saberá muito melhor do que eu…. mas o bom senso, dois dedos de testa, persistência e o estar preparado para ouvir uma série de nãos ajudam…


E porque de Portugal falamos, aqui deixo dois exemplos da melhor tradição coimbrã, cidade onde nasci e de que guardo maravilhosas recordações.







PCP

5 comentários:

marialemos disse...

C,
O seu excelente post é equivalente a dizer ‘wind the little shoes’ expressão que já aqui li neste blog e a que achei imensa, imensa piada.
Na minha humilde opinião acho que nós aqui em Portugal temos uma má relação com o dinheiro. Fomos habituados a pensar, desde cedo, que o dinheiro é ‘o vil metal’. Falar em coisa tão reles como o dinheiro é, pelo menos, prova de mau gosto.
Achei curioso que num estudo publicado pela SAIR DA CASCA (consultadoria em desenvolvimento sustentável) é dito que 65 milhões de euros foram disponibilizados pelas empresas em 2009 para apoio à comunidade. Mas estes valores só vieram a público porque a SDC iniciou o estudo – de outra maneira muito provavelmente nunca teríamos conhecimento do facto. Como a própria Nathalie Ballan diz ‘parece que há vergonha em mencionar isto, o que é claramente prejudicial às empresas ficando assim estas em desvantagem quando comparadas com outras que operam noutros países’.
É tempo, mais que tempo, de mudar o nosso modo de pensar - olha aqui: http://www.youtube.com/watch?v=SBUbdr5v60k&feature=player_embedded
«A group of nuns from France answer the prayers of a major record company looking for the world's best Gregorian chant performers. …»

bjs

Anónimo disse...

Obrigada, ML, e às suas respostas sempre cheias de substracto! Tenha um bom f-d-s. pcp

Anónimo disse...

Que post tão giro, tão cheio de ideias boas e com futuro! Mesmo a propósito para esta época de crise. Fantástico contributo para nos levantarmos! Bjs MZ

Anónimo disse...

Obrigada, minha linda, há que reagir à crise!!! bjs, pcp

Unknown disse...

Bravo pelas excelentes ideias e incentivos à internacionalização da produção nacional que tem imenso valor e que será certamente um dos poucos caminhos que temos para vencer a crise.
Bjs
RCS

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