20 agosto 2014

Das poesias antigas

Joseph Rudyard Kipling nasceu m Bombaim em 1865 e morreu em Londres em 1936. 

Numa dada altura da minha juventude, não me lembre quando, o poema If (publicado abaixo, numa tradução de Guilherme de Almeida, tirada da net) fez um certo furor. A minha memória é difusa no que a isso diz respeito, mas tenho ideia de que se copiava, se falava, se partilhava. Era como se fosse um flavour of the month que durava mais tempo. Hoje, passadas quatro década, talvez, questiono-me porquê, se o poeta não era português, não fazia parte (ao que sei) do plano nacional de leitura da época, não era contra o regime. 

Um dia destes dei por mim a pensar no poema - que partilho -, nesta época em que a criatividade anda mais por baixo, subjugada por uma ideia de semi-férias com outras apetites. Talvez um dos meus fiéis leitores me saiba explicar o mistério que me aflige de momento - porque se falava tanto neste poema?

JdB

***

Se 


Se és capaz de manter a calma quando

Toda a gente ao teu redor já a perdeu e te culpa;

De acreditares em ti quando todos duvidam

E para esses no entanto encontrares uma desculpa;



Se és capaz de esperares sem desesperares,

Ou enganado, não mentires ao mentiroso,

Ou sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,

E não pareceres bom demais ou pretensioso;



Se és capaz de pensares, sem que a isso só te atires;
 
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires

Tratares da mesma forma esses dois impostores;


Se és capaz de sofre a dor de veres mudadas

Em armadilhas as verdades que disseste,

E as coisas por que deste a vida estraçalhadas,

E refazê-las com o bem ainda pouco que te reste;



Se és capaz de arriscar numa única jogada,

Tudo quanto ganhaste na tua vida,

E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,

Resignado, voltares ao ponto de partida;


De forçares o coração, nervos, músculo, tudo

A dar seja o que for que neles ainda existe,

E a persistir assim quando, exaustos, contudo

Resta a vontade em ti que ainda ordena: ”Persiste”,



Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes

E, entre reis, não perderes a naturalidade,

E, de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes

Se a todos podes ser de alguma utilidade,


E se és capaz de dar, segundo por segundo,

Ao mínimo fatal todo o valor e brilho,

Tua é a terra com tudo que existe no mundo

E o que é mais – tu serás um homem, ó meu filho!



1 comentário:

Anónimo disse...

Não conhecia o Poema e por isso agradeço. Na minha modesta opinião o poema intemporal fala da espiritualidade que é inerente ao homem e que lhe permite trancender-se em transmutações ao longo da vida, quando se torna consciente.

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