19 maio 2017

Mi Buenos Aires Querido (V) - a música


Com este post interrompo a minha série de apontamentos sobre Buenos Aires. Voltarei, que devemos voltar aos sítios onde fomos felizes - e eu fui feliz em Buenos Aires, apesar do roubo, e sou feliz a escrever ou a falar sobre Buenos Aires, como fiz ontem com uma voluntária da Acreditar que por acaso é argentina e me deu dicas locais. 


Como já devo ter dito neste estabelecimento, há dois tipos de música que me prendem durante horas a fio. Apesar de gostar de música clássica, de algum jazz, de música tipo crooners, das melodias de sempre ou de alguma música étnica, o fado e a música sul-americana estão no topo dos topos. Se quanto ao fado a explicação é simples, há uma certa estranheza no facto de me perder horas a fio a escutar milongas, tangos, boleros e ritmos semelhantes. De tal forma é que, no café Tortoni, companhia ao meu lado me olhou com um misto de ternura e espanto, tal era o gozo com que ouvia e via o mini-espectáculo que se desenrolava a poucos passos de mim.


Não sei explicar o meu gosto pelo tango. Tenho com muitas músicas - ou géneros musicais - uma relação de memória. Isto é, faço uma associação imediata a pessoas, a locais, a sentimentos, a épocas. No fado são as letras, que fixo com facilidade e encanto, mesmo - ou sobretudo - as que falam em freiras absortas. E o tango? E a milonga ou o bolero? Nada me liga a nada - não sei dançar, não é música do meu tempo, estive este mês em Buenos Aires pela primeira vez, em minha casa de menino ou de jovem ouvia-se tanto este género musical como outros. Talvez o meu encanto, no que se refere ao tango, esteja relacionado com o meu gosto por músicas tristes e o tango, como alguém o definiu, es un sentimiento triste que se baila


Em 2019, já o disse particularmente, regressarei à América Latina, desta vez para ir ao Chile e ao Perú. E voltarei, gostava eu, a Buenos Aires. Para ouvir tangos, para me emocionar com o Mi Buenos Aires Querido ou com o El Dia Que Me Quieras.    



Nota: no estabelecimento fotografado acima, que o meu filho disse chamar-se La Catedral, tive a primeira e única aula de tango. 1 hora a treinar passos insípidos, dançando com uma senhora ou até com o instrutor, um rapaz que apreciou sentir os meus braços sobre os seus braços. Na mesa onde depois nos sentámos, baratas percorriam o labirinto entre copos e garrafas, indiferentes ao retrato do grande mestre que, ao fundo, nos sorria de forma bondosa e compreensiva. Acho que até apanhei uma dentro do meu copo que continha vinho tinto mau. Como era escuro achei que era rolha...

JdB 

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